Da arte da estr?ia e da arte da interpreta??o

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? curioso notar na m?sica um aspecto que lhe ? singular: seu car?ter performativo, interpretativo. Quer dizer, a m?sica n?o existe no papel, na partitura apenas. Ela s? ? m?sica quando transformada em realidade sonora pelo int?rprete e este tem uma responsabilidade dupla, pois n?o apenas mostra suas qualidades pessoais como tamb?m as qualidades da m?sica que interpreta.

Isso ? s?rio, pois o compositor confia ao int?rprete a realiza??o de sua obra. E aqui estou usando o termo realiza??o em seu sentido literal, ou seja, tornar real algo. Inicio desta forma o texto deste m?s pois isto ? para mim algo importante a se considerar no ambiente musical juizforano (ou n?o ser? brasileiro?).

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Vivemos dois festivais anuais de m?sica na cidade, um em julho, promovido pelo Pr?-M?sica, e outro em janeiro, o Curso Internacional de M?sica Scala. Estamos praticamente no fim da vers?o 2005, deste ?ltimo, que trouxe um bom n?mero de concertos para Juiz de Fora. O que t?m em comum estes dois festivais ? o fato de ambos pretenderem trazer m?sica nova, seja como restaura??o de um repert?rio olvidado, seja como estr?ia de pe?as contempor?neas. Na apresenta??o do Curso Scala deste ano, o locutor lembrou que este j? fez n?o sei quantas estr?ias internacionais ou nacionais de obras, o Festival do Pr?-M?sica trouxe este ano a "primeira" ?pera apresentada no Brasil que se tem not?cia.

Pois bem, isso ? muito bom, pois coloca a cidade no ambiente das novidades, ainda que velhas. No entanto, cabe aqui perguntar, isso vale por si mesmo? Lembro-me de uma obra recente da literatura brasileira, um precioso romance de Patr?cia Melo, chamado Valsa Negra no qual um dos protagonistas ? um regente. Em um dos epis?dios da trama o spalla dos contrabaixos procura o regente para debater sobre a prefer?ncia sobre a escola alem? ou a francesa e o regente, um pouco destemperadamente, sugere ao contrabaixista a escola do "tocar bem e afinado". Acho que esta resposta do regente deveria nortear um pouco na condu??o desta ansiedade por novidades.

Foto:http://www.bms.cnz.com O zelo por tocar bem e afinado deve ser superior ? febre das novidades. Aquela ?pera Za?ra, que tanto deu o que falar e a vangloriar na cidade, bem que merecia uma estr?ia contempor?nea mais digna. Sim, v?o dizer que ? orquestra de estudantes e que o tempo ? curto para preparar tudo.

Concordo, mas ent?o sejamos ponderados e fa?amos algo que possa ficar digno de ser apresentado. N?o adianta dizer que foram feitas sei l? quantas estr?ias, se essas foram mal feitas. E depois nunca mais se ouve falar nas obras estreadas, de modo que nem mesmo o crit?rio de aperfei?oamento, matura??o e ainda compara??o pode ser aplicado, ficando o malfeito pelo feito.

Pergunto-me se isso ? realmente vantajoso. O programa do concerto final do Curso do Scala anuncia tudo como estr?ia. ? ir para se certificar se valeu a pena. Ou se n?o pod?amos esperar mais para ouvir as obras.

Bons concertos.

Jo?o Sebasti?o Ribeiro


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