CENA 4 Ainda sobre a tela escura ouve-se os primeiros di?logos em tom de extremo lamento entre os pais idosos do paciente. |
A m?e (off) - N?o ? justo os pais irem depois dos filhos. Eu n?o me conformo
com isso.
O pai (off) - Entre a justi?a e a realidade existe um abismo...
As imagens clareiam. O pai caminha de um lado para o outro, m?os ?s costas. A m?e senta na cabeceira e acaricia a m?o do filho, sem conter o choro |
A m?e - Oh, Sant?ssima Maria, por que n?o eu? Poupe a vida dele! Leve a
minha, eu n?o tenho mais valor nenhum...
O pai - Duvido que ela v? te ouvir. Nesses tr?s meses eu j? a ouvi dizer
isso umas dez vezes, e no entanto...
A m?e - Outro dia mesmo era um lindo pirralho que queria ser tudo na
vida...
O pai - E foi. Dentro do que ele planejou, conquistou tudo o que foi
poss?vel. Acima de tudo, o respeito dos amigos e companheiros de trabalho.
A m?e - Oh, meu Deus, ele n?o pode ir embora...
O pai - Esse milagre n?o vai acontecer nunca.
A m?e (acaricia a m?o do filho entre as suas, junto ao
peito) - Mas eu
acredito. Deus vai me conceder esse milagre. Eu continuo tendo f? e terei
at? o fim.
O pai a ergue da cama. A m?e beija a m?o do filho. Ele a encaminha para a sa?da. Escurece a tela. |
CENA 5 Come?a a clarear o quadro vazio. Ouve-se a barulho da porta abrindo e surge a enfermeira, sempre mascando chicletes, acompanhada da filha do paciente, de 16 anos. |
Enfermeira - Uma surpresa que o senhor vai gostar.
Enquanto a enfermeira vai de um lado ao outro verificando se todas as liga?es est?o corretas, a filha se p?e diante do pai e o fita longamente, em sil?ncio. Enxuga duas gotinhas de l?grimas mal contidas no canto dos olhos. |
A filha (para a enfermeira) - Ser? que ele n?o entende mesmo nada do que
est? se passando, como dizem os m?dicos?
Enfermeira - Nem tudo que eles dizem ? batata. E olha que eu conhe?o bem
essa ra?a de m?dicos... No bom sentido, ? claro... (acha gra?a da piada). H?
23 anos nessa batalha, eu conhe?o muitas coisas tanto quanto eles... Ou
quase...
A filha - Voc? acredita que ele possa pelo menos ouvir e entender o que a
gente fala?
Enfermeira - Nada te impede de tentar. Tente, boba. No m?nimo, voc? vai
desabafar. Eu vou at? a secretaria e volto j?. E s? n?o mexer em nada, e
qualquer coisa ? s? apertar aquela campanhia ali. Mas eu n?o demoro.
A enfermeira sai do quadro |
A filha (volta a fitar fixamente o pai) - Pai, o senhor ? capaz de me entender? Se for, fa?a algum movimento, qualquer um...
Pausa longa. A filha espera pelo sinal que n?o vem. |
A filha - Tenho uma not?cia t?o boa pra mim, e eu queria muito que voc? soubesse. (Pausa) Queria estar com voc? no nosso cantinho, em casa, onde a gente 'tava sempre batendo papo pra te dizer que acho que estou apaixonada. Quero dizer, acho que estou... Pelo menos, ? a primeira vez que sinto uma coisa estranha aqui dentro... sabe? E ele ? muitissimo legal e voc? ia gostar dele, tenho certeza. Eu queria tanto ouvir a sua opini?o sobre isso. (Pausa) D? um sinalzinho, qualquer um... Alguma coisa me diz que voc? est? me entendendo...
A enfermeira retorna |
Enfermeira - E ent?o?
A filha d? de ombros e de repente, come?a a chorar e rir ao mesmo tempo. A enfermeira se surpreende e se comove com a estranha rea??o e a encaminha para a sa?da. Escurece a tela |
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