Frente Parlamentar pelo direito
da leg?tima defesa
"O referendo n?o vai resolver nada num primeiro momento"

Se a quest?o ? viol?ncia, o soci?logo e psic?logo Gilberto Barbosa Salgado ? incisivo que ? preciso observar outros pontos a redor do assunto. Para ele, discutir, com tempo, sobre o Estatuto do Desarmamento seria a melhor solu??o. Segundo ele, ? necess?rio "aparelhar melhor a pol?cia, exigir que haja um treinamento efetivo e um preparo t?cnico e educacional dos policiais, criar uma rede de dissemina??o de informa?es quantitativas e qualitativas sobre o setor de seguran?a p?blica do Brasil".

Gilberto ? mestre em sociologia e doutor em comunica??o social e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora.

ACESSA.com - O Senhor ? contra ou a favor da comercializa??o de armas de fogo no Brasil?
Gilberto Salgado - Eu sou contra o fim da comercializa??o, inclusive a pergunta j? induz uma forma perigosa. Ao conter a palavra 'proibi??o', que ela n?o devia conter, j? ? um problema. A pessoa que vota 'sim' ela tem que raciocinar pelo 'n?o' por causa da palavra 'proibi??o' e vice-versa. Isso j? ? um problema no meu modo de entender.

ACESSA.com - Por que o senhor defende essa posi??o?
Gilberto Salgado - Eu defendo essa posi??o porque acho que o assunto ? muito grave para n?s mantermos uma posi??o definitiva. ? preciso ficar claro que o referendo n?o vai resolver nada num primeiro momento. O Estatuto j? est? a? para ser cumprido, o referendo ? num momento desnecess?rio porque voc? cria um p?nico na classe m?dia, por exemplo, que vai julgar que os bandidos v?o se sentir mais seguros porque a arma na resid?ncia vai estar proibida. E o Estatuto j? cria uma s?rie de dificuldades, por exemplo, ao exigir que uma pessoa que vai comprar a arma tenha mais de R$ 3 mil, entre comprar e fazer o traslado para sua resid?ncia. Por outro lado, butique de arma n?o vende arma para bandido, ele compra em contrabando. S?o 20 milh?es de armas clandestinas, circulando o Brasil nas estat?sticas da deputada e ju?za Denise Frossard (PPS-RJ) e do coronel Diogenes Dantas, da PM de S?o Paulo. N?o acredito que uma certa posi??o de que, por lei, voc? vai resolver isso. Minha postura em rela??o ?s pol?ticas p?blicas me autoriza a pensar que primeiro a sociedade tem que demandar um n?vel de pol?ticas p?blicas, depois pensar em lei que justifique isso.

ACESSA.com - O que o senhor acha que o pa?s vai ganhar, caso o referendo confirme a posi??o que o senhor defende?
Gilberto Salgado - Encaminhar uma discuss?o mais madura em cima do Estatuto e, possivelmente, discutir as verdadeiras quest?es em torno do tema, que s?o aparelhar melhor a pol?cia, exigir que haja um treinamento efetivo e um preparo t?cnico e educacional dos policiais, criar uma rede de dissemina??o de informa?es quantitativas e qualitativas sobre o setor de seguran?a p?blica do Brasil, que era um projeto do Luiz Eduardo Soares (antrop?logo e cientista pol?tico), e que o ministro (da Justi?a) M?rcio Tomas Bastos deixou de levar adiante e, a? sim, n?s vamos entrar nas quest?es candentes. A?, vem outro argumento meu, um argumento pol?tico. Referendos devem ser feitos sobre diversos temas e no primeiro ano de governo. O referendo ? teste para a plataforma do partido pol?tico ou da coalis?o partid?ria que venceu as elei?es. Referendos s?o feitos, em geral, sobre diversos temas, de uma tacada s?. H? in?meros temas, como reforma da previd?ncia, aborto, eutan?sia, quest?o dos transg?nicos, utiliza??o das c?lulas-tronco, pris?o perp?tua, pena de morte. Acho que foi uma inabilidade total do PT porque o partido entrou deixando de lado seu projeto inicial, porque o PT foi o primeiro partido a trabalhar com a id?ia de que o referendo ? uma forma complementar da democracia deliberativa. H? tamb?m pouco tempo com a sociedade, h? 45 dias, como se fosse uma elei??o comum de um tema que exige muita maturidade.

ACESSA.com - O senhor acredita realmente que os n?meros s?o a favor do seu ponto de vista?
Gilberto Salgado - Os n?meros s?o verdadeiros para ambos os lados. As frentes est?o, digamos, torcendo um pouco a l?gica na argumenta??o que eles colocam no ar em cima dos argumentos. Ent?o, isso ajuda a fazer com que o debate fique extremamente emocionalizado. E tudo que n?s precis?vamos, no meu modo de entender, no momento, ? de um debate acalourado, sim, que as pessoas participassem, mas que na argumenta??o, todo mundo prestasse aten??o com certa seriedade, de uma forma mais madura. Acho que isso aconteceria se houvesse mais tempo para debates com a sociedade.

ACESSA.com - Qual o maior argumento que o senhor acredita que a sua posi??o tem a favor?
Gilberto Salgado - O argumento mais forte ? que por analogia, voc? tem outros problemas graves no Brasil que demandam um tratamento diferenciado. Por exemplo, a quest?o dos acidentes de tr?nsito, que matam 25 mil pessoas por ano no Brasil. A a arma de fogo mata 40 mil. S?o n?meros altos para ambos. Acidentes de tr?nsito matam mais do que doen?as card?acas, campe?s de morbidades. N?o ? porque voc? tem muitas mortes em acidentes de tr?nsito que ningu?m est? falando em proibir as pessoas de dirigir. O carro mal utilizado pode matar do mesmo jeito. O que se faz ? um c?digo de tr?nsito r?gido, treinamentos, cursos para renovar carteira, pol?cia com atua??o mais preventiva e educativa. Acho que nessa quest?o das armas, deveria ser feita a mesma coisa. Os pr?prios policiais teriam at? sua auto-estima aumentada se tivessem que dar cursos para a popula??o que tem porte de arma, ensinar pessoas a utilizar.

ACESSA.com - Se a posi??o que o senhor defende vencer o referendo, como fica a quest?o da seguran?a de cidad?os?
Gilberto Salgado - O que teria que acontecer ? aproveitar o Estatuto para fazer ele ser comprido porque ele j? ? um instrumento de restri??o. Ele coloca o Brasil em um dos pa?ses que mais restringem no mundo. Uma vez cumpridas essas restri?es, bastar? um mandato judicial para averiguar se um bandido tenha arma em casa clandestina que, mesmo que ele seja r?u prim?rio ou que n?o tenha evid?ncias de prova contra ele, no caso de assassinato ou de tr?fico de drogas, por exemplo, para ele ser preso, e ele n?o entra como r?u prim?rio. O Estatuto prev? isso. Mas isso n?o justifica tirar o direito da popula??o. Sem falar que todas as experi?ncias mundiais de algo que foi proibido resultou por um mercado clandestino maior, como a lei seca, nos Estados Unidos, e quando o presidente Eurico Dutra, em 1947, proibiu o jogos no Brasil. Com isso, ele estimulou os bicheiros. Ficar restringindo os direitos excessivamente n?o ? uma postura interessante.


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