Drama racial desbanca favoritismo de "Brokeback Mountain" e deixa
?s claras conservadorismo da Academia de Hollywood
Marcelo Miranda
Rep?rter
06/03/2006
Na reta final, a Academia de Artes e Ci?ncias Cinematogr?ficas de Hollywood
deixou de lado o que era mais ?bvio. Na noite desta segunda-feira, dia 5 de
mar?o, premiou com o Oscar 2006 de melhor filme o drama "Crash - No
Limite" (foto - veja o
trailer), deixando para tr?s o favoritismo at? ent?o absoluto de "O
Segredo de Brokeback Mountain" - que levou pr?mio de dire??o para Ang
Lee. Pouca gente ainda achava que a produ??o de Paul Haggis
tivesse f?lego para sair vitoriosa da premia??o, ainda mais num ano em que
todos os cinco indicados na categoria eram trabalhos de cunho pol?tico ou
controverso, e "Crash" se apresentava como o menos chamativo deles.
Pegando pela mentalidade dos votantes, fez sentido. Notoriamente
conservadora, a Academia dificilmente ia abrir m?o dessa caracter?stica em
nome de um filme que desvirtua a figura do vaqueiro sulista americano e cria
um romance homossexual entre seus protagonistas. Em contrapartida, "Crash"
parece representar a pr?pria Academia: quadrado, esquem?tico, cheio de
clich?s de roteiro e dire??o que tentam a todo custo vender id?ias ao
espectador, esfregando na sua cara as situa?es for?adas dos personagens em
meio a conflitos raciais no centro de Los Angeles. Algo completamente
diverso da complexidade, delicadeza e sutileza de "Menina de Ouro", premiado
em 2005 e que aparentemente demonstrara certa liberalidade do Oscar quanto a
temas mais pol?micos e espinhosos.
Igualmente not?rio na premia??o foi a divis?o de trof?us. Quatro filmes
levaram tr?s Oscars cada um: "Crash" ganhou melhor filme, montagem e roteiro
original; "Brokeback Mountain" ficou com dire??o, trilha sonora e roteiro
adaptado; "Mem?rias de uma Gueixa" terminou vencedor em figurino, dire??o de
arte e fotografia; e "King Kong" acabou com som, edi??o de som e efeitos
visuais. Previs?vel Quem acompanha o sobe-e-desce das apostas do Oscar percebe que n?o houve
qualquer tipo de surpresa, com exce??o de "Crash". Na disputa mais
politizada em d?cadas, a Academia deu seu aval ao filme menos sinceramente
contestador entre todos os selecionados. Deixou de lado uma provoca??o
ferrenha ?s tentativas de calar a imprensa ("Boa Noite e Boa Sorte"), a
ambi??o pelo sucesso a qualquer pre?o ("Capote"), a confusa quest?o
Israel-Palestina que at? hoje traz frutos ao mundo contempor?neo ("Munique")
e a maturidade e eleg?ncia de uma hist?ria de amor universal contada por um
cineasta que respeita e dignifica seus personagens ("O Segredo de Brokeback
Mountain") para reconhecer a atabalhoada e desonesta vis?o de Paul Haggis
sobre o caldeir?o racial americano, num filme que se vende como importante.
Parecia que a Academia estava mais consciente e atualizada. Engano (e azar)
de quem ainda acreditou nisso.
Nas demais categorias principais, tamb?m divis?o absoluta, como as previs?es
adiantavam: Reese Whiterspoon (foto) garantiu o posto de melhor atriz, pelo papel
em "Johnny e June", e Phillip Seymour Hoffman, como ator por "Capote" -
ambos filmes de pouco impacto, mas que ganham pontos na presen?a do elenco.
Rachel Weisz deu a "O Jardineiro Fiel", do brasileiro Fernando Meirelles, o
?nico pr?mio da noite dos quatro aos quais concorria: atriz coadjuvante; e
George Clooney, que disputava tamb?m roteiro e dire??o por "Boa Noite e Boa
Sorte", ficou mesmo como o melhor ator coadjuvante gra?as ? sua
interpreta??o em "Syriana".
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