Cecília Junqueira Cecília Junqueira 16/11/2010

Arca de Noé de nossos tempos

Planeta Terra com flores em voltaEste ano que termina foi escolhido pela ONU (Organização das Nações Unidas ), para ser "o ano da biodiversidade". Contradizendo o conceito habitual de que comemorar (co-memorar/lembrar junto) é só festejar, o ano da biodiversidade vem alertar para que apertamos o "botão vermelho", sinalizando a perda de controle das ações humanas no Planeta.

A Terra é um organismo vivo, fantasticamente complexo, onde não existem partes desnecessárias: a supressão de uma espécie quebra o elo de interdependência comum a todos organismos.

Interferir numa lógica evolutiva que perdura há milhares de anos, olhando de forma fragmentada a biodiversidade, é desconsiderar o maior fator de sucesso adaptativo, a importância de sermos sistêmicos, todos os organismos se inter-relacionando, direta ou indiretamente, formando a grande teia da vida: o todo depende de um e um depende do todo!

Até para avançarmos tecnologicamente, precisamos da natureza, dos recursos naturais. A medicina, por exemplo, encontra a cura para doenças em muitas propriedades de plantas e bactérias. Quando agredimos nossa biodiversidade, muitos produtos ainda desconhecidos ou inexplorados são perdidos. Há, por outro lado, um importante aspecto econômico na questão da biodiversidade: calcula-se que o total de serviços fornecidos pela mãe Terra seja de US$ 33 trilhões por ano. Não é por acaso que ecologia e economia têm valores semânticos parecidos.

Mas o que estamos fazendo como medida compensatória por todos esses serviços prestados?

Boas notícias...

Foi realizada em Nagoya (Japão), no dia 29 de outubro deste ano, uma conferência da ONU sobre a proteção da biodiversidade, da qual participaram representantes de quase 200 países, inclusive o Brasil (grande detentor da riqueza natural do mundo), e cujo objetivo era mapear metas de proteção para espécies de animais e vegetais em oceanos, florestas e rios. São ecossistemas fundamentais para a sobrevivência da espécie humana, além de gerarem (como já foi dito antes) trilhões em dólares em alimentos, água, indústria e turismo.

Mas essas conferências, de caráter "global", tornam-se inócuas se nada fizermos no "local".
É preciso desenvolver educação ambiental nas escolas; fortalecer nossas instituições públicas (que fiscalizam e preservam o meio ambiente); rever nossa legislação, adequando-a às novas realidades; estimular os meios de comunicação para que sejam divulgadas as questões ambientais; desenvolver novas tecnologias limpas; fomentar estudos dos recursos naturais existentes: conhecemos muito pouco sobre nossa riqueza gênica, daí vem a dificuldade para geri-la.

Sobre quantas espécies estamos perdendo? Não sabemos, exatamente porque muitas delas simplesmente desconhecemos. Difícil mensurar a magnitude da devastação!

Segundo a WWF (organização não governamental americana), se existem 100.000.000 de espécies diferentes na Terra e o índice de extinção é de "apenas" 0,01% ao ano, 10.000 espécies são extintas todos os anos.

Cientistas afirmam que a taxa de perda de espécies hoje, está entre 1.000 e 10.000 vezes acima da taxa de extinção natural.

Sabe-se que em toda história do planeta, houve cinco grandes crises de extinção (como aquela que exterminou os dinossauros) e que atualmente vivemos a sexta crise de extinção. Ao contrário das outras crises, uma única espécie é a grande responsável pelo episódio - a espécie humana.

Somos os únicos que podemos nos destruir, e, paradoxalmente, os únicos que podemos nos salvar!



Cecília Junqueira é gestora ambiental, pós graduanda em problemas ambientais urbanos
e integrante da "Mundo Verde projetos ambientais"


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