Há quase dois anos, a onça-pintada que circulava em Juiz de Fora era capturada no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em novembro de 2020, imagens das armadilhas fotográficas de um projeto de monitoramento da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), coordenado pelo professor Fernando Azevedo, capturaram a onça, em seu atual habitat.
As imagens mostram o felino vivo, em ambiente noturno, aparentemente saudável. Para o diretor do Jardim Botânico da UFJF, professor Gustavo Soldati, a boa condição do animal é resultado de um processo que envolveu técnica e conhecimento produzidos pela Universidade e por institutos de pesquisa e ensino parceiros. “Ficamos muito felizes em receber essa notícia. Ela coroa um trabalho feito com muito empenho de energia, muito cuidado e, sobretudo, pautado e sustentado no conhecimento científico do comportamento, dinâmica, saúde e biologia para a conservação dessa espécie”.
Segundo o professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF, Artur Andriolo, que participou ativamente no processo de captura do da onça-pintada, as imagens “significam que o plano de translocação de Juiz de Fora para a área de soltura foi um sucesso, pois ela sobreviveu e apresenta um excelente estado de saúde”.
Além da UFJF e da UFSJ, atuaram nesse processo o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio), o Campo de Instruções do Exército Brasileiro em Juiz de Fora, o Corpo de Bombeiros, o Ibama, a Polícia Militar, incluindo a de Meio Ambiente, e a Prefeitura de Juiz de Fora.
Soldati comemora a aparição da onça. “Vê-la andando na mata é muito bom. No meio de uma pandemia, um momento tão difícil para nós, nos traz essa semente de esperança, de que a vida se mantém, se readequa, se readapta e que é sempre necessário a gente pensar nas florestas, nas matas e na grande riqueza que é a biodiversidade”.
O flagrante também foi celebrado pela pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra, que destacou o envolvimento das instituições que contribuíram com a preservação da vida do felino. “É uma alegria muito grande ter o conhecimento de que a onça está protegida no ambiente adequado. A passagem dela por Juiz de Fora foi um momento muito delicado, que exigia uma articulação institucional muito grande entre os órgãos de proteção ambiental, o Exército, a Polícia Militar de Meio Ambiente, a Prefeitura de Juiz de Fora e a Universidade, para que se preservasse a vida do animal, e a segurança da população do entorno do Jardim Botânico. Esse esforço institucional conjunto, articulado com o trabalho científico que a UFJF possui, junto à UFSJ, garantiu esse desfecho e possibilitou que essa onça pudesse viver em segurança e em liberdade”.
Já Andriolo explica que esta é uma espécie ameaçada de extinção, com poucos animais vivos na natureza. Segundo o pesquisador, com a perda de ambiente natural, decorrentes das queimadas e os desmatamentos desenfreados, cada animal salvo faz diferença. “Existe, no Brasil, um Plano de Ação Nacional para a Conservação da onça-pintada e nossa atuação, quanto à decisão de capturar o animal no Jardim Botânico da UFJF e translocá-lo para um local onde pudesse dar continuidade ao seu papel como organismo biológico integrado à rede ecossistêmica foi fundamentado em consonância às prioridades que constam no Plano”.
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Histórico
A onça-pintada foi registrada, em vídeo, no Jardim Botânico na noite do dia 25 de abril de 2019, por um dos vigilantes do local. Desde então, até a noite de 12 de maio, a UFJF e mais seis órgãos ambientais e de segurança locais, estaduais e nacional mobilizaram-se em torno do caso. O felino foi ainda filmado em frente a um hotel, na Avenida Brasil, em ruas de bairros da Zona Norte e em mais localidades. Para evitar riscos de atropelamento e outros acidentes com a população e animais domésticos e para oferecer condições apropriadas para o felino, a onça foi capturada e introduzida em área florestal mais ampla, em Minas Gerais.
O animal recebeu um colar equipado com GPS, com transmissão via satélite, para monitoramento. O uso de colar é a opção mais amplamente utilizada em animais silvestres de vida livre, como o caso da onça-pintada. O colar estava programado para ser aberto automaticamente um ano após sua implantação – que é o tempo estimado da bateria do dispositivo chamado drop-off. Uma busca em terra por sinais UHF do colar também foi realizada, em dezembro de 2019, pelo professor da UFSJ, Fernando Azevedo. O pesquisador percorreu os últimos trechos de movimentação da onça, indicados pelo mapeamento. Em maio de 2020, o colar do animal foi encontrado em área próxima do local de mapeamento junto aos restos de caça de um tamanduá-mirim, muito provavelmente abatido pelo felino.
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