Por Joseana Nunes: A minissérie da HBO que revisita a história de Ângela Diniz escancara uma ferida antiga e ainda aberta: quase 50 anos se passaram desde o seu assassinato, mas nada mudou de verdade.

Ângela era uma mulher divorciada, independente, que ousou viver a própria vida. E por isso foi julgada, atacada, transformada em alvo. Sua morte não foi apenas um feminicídio — foi o resultado de uma sociedade que, ontem e hoje, insiste em punir mulheres que não cabem no molde, mulheres que se separam, que amam de novo, que desejam, que trabalham, que vivem fora da linha.

Décadas depois, seguimos contando as mesmas histórias.
A mulher que se divorcia ainda vira “puta”, vira alvo fácil, vira corpo disponível para o assédio sexual, moral e social. É tratada como bem de ninguém — e, portanto, de todos. É observada, julgada, policiada. E, tantas vezes, é morta.

Esta semana, o Brasil assistiu a um novo capítulo de barbárie contra mulheres — não isolado, não excepcional, apenas mais um:
* a mulher arrastada, que perdeu as pernas;
* a que foi assassinada sem chance alguma de defesa;
* a que foi brutalmente espancada;
* a que foi roubada em seus bens, sua paz, sua dignidade;
* a que foi coagida, humilhada, silenciada.

São cenas de horror que parecem retiradas de um passado distante, mas acontecem todos os dias, na rua ao lado, na casa vizinha, dentro de relações que muitos insistem em chamar de “conflito doméstico”.

A história de Ângela Diniz não é só sobre os anos 70.
Ela é sobre hoje. Sobre todas nós.
Sobre um país que ainda vê a mulher que decide viver por conta própria como um perigo — ou como um alvo.

E enquanto a sociedade continuar naturalizando o julgamento, o controle e a violência, continuaremos enterrando mulheres. Continuaremos repetindo histórias que já deveríamos ter superado.

Ângela gritou. Nós gritamos.
Mas quem está ouvindo?

 

Agência Brasil - Imagem ilustrativa

COMENTÁRIOS: