Julho é mês de travessia. Um tempo suspenso entre o que já se viveu e aquilo que
ainda se desenha no horizonte. Há algo de poético nessa pausa do calendário: não estamos mais no ritmo acelerado do primeiro semestre, mas também ainda não mergulhamos na densidade do segundo. Estamos no entre, e talvez seja justamente aí que reside a beleza desse tempo.

É como se o ano nos desse um fôlego. Uma vírgula no meio da frase. Um ponto e vírgula na rotina. Não é o fim, nem o começo, mas um intervalo. E todo intervalo carrega potência: a de retomar o fôlego, de revisitar caminhos, de realinhar sentidos.

Para quem educa e para quem aprende, julho é mais do que um recesso, é oportunidade de rever o que foi sem pressa, sem boletins ou relatórios; em outros termos, é tempo de escuta interna. Como nos lembra o filósofo alemão Gadamer, compreender é antes de tudo escutar. E escutar exige pausa, exige silêncio.

Por isso, julho pode ter sido o mês da escuta. De ouvir-se e ouvir o outro. O que fizemos até aqui? O que nos moveu? O que nos cansou? O que ainda pulsa e pede passagem?
Na lógica da produtividade desenfreada, o tempo do descanso costuma ser visto como tempo perdido. Mas há perdas que nos salvam. Perder-se um pouco, por exemplo, pode ser o caminho para reencontrar o que realmente importa. Como disse Clarice Lispector, “até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.

À vista disso, julho é/foi esse tempo de sutilezas. De voltar àquilo que não se vê quando o ritmo está frenético. De perceber o invisível: as pequenas alegrias, os encontros cotidianos, o gesto simples que fez diferença na sala de aula. De relembrar que educar é, antes de tudo, um compromisso com a vida: com a vida viva, e não apenas com os conteúdos.

Se o primeiro semestre foi feito de sementes, que o segundo seja de flores. Mas, entre
um e outro, há o cuidado. Há o intervalo. E há você, que também merece descansar, respirar e, quem sabe, sonhar de novo.

Portanto, julho nos ensinou a pausar; que agosto nos convide a recomeçar, com mais
sentido, mais calma e mais coragem.

Foto: Jungley Torres - Coluna de Jungley Torres
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Jungley Torres

Filosofia

É professor com formação em Filosofia, História, Ciência da Religião e Pedagogia. Suas principais áreas de atuação e pesquisa abrangem Filosofia da Educação e Hermenêutica Filosófica, com ênfase em desdobramentos ontológicos, existenciais e fenomenológicos. Destaca-se, sobretudo, o interesse por temas relacionados à intersubjetividade, aos saberes que orientam as práticas pedagógicas e ao discurso pedagógico contemporâneo. Suas pesquisas concentram-se na linguagem como eixo central da relação entre ser humano e mundo, bem como no diálogo, concebido como fundamento da práxis pedagógica.

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