No meu consultório, escuto histórias que, embora únicas, têm algo em comum: a sensação de
inadequação. Gente cansada de se espremer para caber em moldes que nunca foram feitos
para elas. E eu entendo — porque, por muito tempo, eu também tentei caber.
Desde cedo, aprendemos a nos encaixar. Na escola, alguém me disse que eu precisava “falar
menos e sorrir mais” para ser querida. Mais tarde, vi mulheres incríveis à minha frente dizendo
que só seriam “de verdade” se conseguissem emagrecer mais cinco quilos, ou se fossem mais
produtivas no trabalho, ou mais leves em casa. Moldamos desejos, silenciamos a intuição,
domesticamos nossa espontaneidade para caber nos padrões — sociais, estéticos, familiares.
E, aos poucos, vamos nos afastando daquilo que nos torna únicos.
Vivemos em uma sociedade que premia cópias e penaliza autenticidade. Somos incentivados a
querer o que nos ensinaram a querer. Você já reparou? Uma paciente me disse uma vez:
“Parece que tem um roteiro que todo mundo já sabe seguir, menos eu. Eu fico perdida.” E eu
respondi: “Será que esse roteiro é mesmo para você?”
Esse desalinhamento entre quem somos e quem esperam que sejamos cobra um preço alto. É
a ansiedade daquela moça que vive com medo de ser julgada. É o burnout do homem que não
consegue mais se levantar da cama. É a depressão da mulher que já não sente prazer em
nada. Um vazio difícil de preencher — porque não tem a ver com falta de esforço, mas com
falta de conexão.
Mas e se a chave para a paz interior fosse justamente a sua originalidade? E se aquilo que
você julga “defeito” — a sua sensibilidade, a sua intensidade, a sua criatividade — fosse, na
verdade, a parte mais valiosa de você?
Sabedorias antigas nos lembram que a criatividade com que o Universo nos criou não foi por
acaso. Cada um de nós é absolutamente único. E isso tem relevância.
Ser autêntico em um mundo que lucra com a nossa insegurança é revolucionário. É um ato de
coragem. É também um caminho para o bem-estar emocional: resgatar a nossa essência, parar
de nos forçar a caber em caixas que nunca foram feitas para nós.
Na próxima vez que você se sentir inadequado — por não ter o corpo “certo”, por não se
comportar como os outros, por não ter a carreira que esperavam —, em vez de se perguntar “o
que há de errado comigo?”, experimente perguntar:
“Esse molde serve para mim?”
E permita-se ser. Radicalmente você.