SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sob uma chuva torrencial, Harry Styles entrou saltitante no palco do Allianz Parque, na zona oeste de São Paulo, nesta terça-feira (6), mas não se arriscou a correr pela passarela de 20 metros ligada ao palco. Ele caminha lentamente cumprimentando o público e pergunta, com ironia, se a plateia concorda que o show ocorra naquelas condições. "Vamos todos ficar molhados e isso vai ser perfeito", disse o cantor para a plateia eufórica.

Com uma regata de paetê quadriculada em preto e amarelo e calça cáqui, ele começou o primeiro show da Love on Tour no Brasil, com "Music for Sushi Restaurant", seu último single.

Originalmente marcada para outubro de 2020, numa turnê do seu segundo álbum "Fine Line", essa leva de shows foi adiada pela pandemia e trouxe consigo o terceiro álbum do britânico, "Harry?s House" ?além de um cantor mais maduro, com mais domínio de palco e interação com fãs.

Apesar de tudo, por causa da chuva, o Harry que se apresentou em São Paulo parecia mais tímido, talvez por efeito da chuva, em relação a shows da turnê que conduziu em outros países.

Na última semana, quase se apresentou na Argentina, presenteou as fãs no estádio River Plate com "Medicine", música sem gravação oficial que fez parte da Live on Tour, e fez uma aparição para comemorar vitória da Argentina em partida contra a Austrália no último sábado (3).

A expectativa por aqui era grande. Além de diversas fãs estarem acampadas há meses em frente ao estádio, às 14h dessa terça as filas chegavam a ultrapassar sete quarteirões, reunindo os setores da pista comum, cadeira inferior e superior. Os portões só seriam abertos às 17h, mas foram antecipados para as 15h.

Em sua terceira vinda ao Brasil, ele enfim pisa no palco que prometeram a ele em maio de 2014, quando ainda era integrante do One Direction. Com a turnê "Where We Are", a boyband iria se apresentar no novíssimo Allianz Parque, na zona oeste da cidade, mas o estádio só ficaria pronto meses após a visita da banda. As músicas de "Midnight Memories" tiveram de ser cantadas no estádio do Morumbi.

Além de "Music for a Sushi Restaurant", ele completou o combo introdutório com as agitadas "Golden" e "Adore You". Em seus videoclipes, vale lembrar, a trinca evoca um Harry Styles aquático, nos quais ele se apresenta, respectivamente, como um sereio tentaculoso prestes a virar uma refeição; um galã correndo de camisa aberta na beira do mar de uma cidade mediterrânea; e um outsider cujo único amigo na excêntrica ilha de Eroda é um peixe.

Mas no palco, ele não quer ser nenhum personagem ?é o mesmo Harry que agita seu público desde os 16 anos. Seja sorrindo, acenando, lendo cartazes ou fazendo piadas triviais sobre o tempo, o garoto propaganda da Gucci faz cada fã se sentir especial.

Se fosse só isso, Styles poderia facilmente estar em um show do One Direction, dividindo holofote com Niall Horan, Louis Tomlinson, Liam Payne e Zayn Malik. Mas, apesar dos gritos sincronizados de um pequeno grupo de fãs pedindo o retorno do grupo durante a espera do espetáculo, o único resquício que ele traz da banda é o hit "What Makes You Beautiful".

Em 2014, com 20 anos ?dois antes da banda anunciar o hiato?, Styles começava a trazer elementos que o diferenciavam dos outros rapazes, como uma bandana nos cabelos que começava a deixar longos, o costume de encher a boca de água e cuspi-la qual uma baleia, e até mesmo abrindo o zíper, abaixando a calça para mostrar o "Brasil!" tatuado na coxa esquerda.

Quando ele vem sozinho para o Brasil, em 2018, ainda remete à banda que o tornou famoso, com "Stockholm Syndrome", presente na turnê de encerramento On The Road Again, e homenageia o último álbum do grupo, "Made in the AM", que não chegou a integrar setlists da banda, cantando "If I Could Fly".

Durante a Live on Tour, no Espaço das Américas, Harry promoveu um show mais intimista e ficou mais restrito ao centro do palco, apoiado no pedestal do microfone. Sem passarela, ele não demonstrou a euforia habitual. Nessa turnê, Harry ainda tinha fortes vínculos ao One Direction, mas tentava mostrar sua individualidade, por exemplo, ao tocar violão ? instrumento restrito ao integrante Niall nos tempos da boyband? e usar elegantes ternos de grife.

No entanto, com a atual Love on Tour, vemos um Harry já com carreira solo bem-sucedida e desvinculado do aposto de ex-integrante de algo. Com dois filmes recentes ?"Não se Preocupe, Querida", cercado de polêmicas; e "My Policeman", em que aparece nu fazendo sexo com outro homem?, protagonismo em Met Gala, indicações e vitória no Grammy, ele se tornou uma estrela multifacetada que ampliou sua base de fãs e seu reconhecimento mundial, mesmo sob acusações de queerbaiting.

Com seu figurino montado pelo estilista Harry Lambert, ele dispõe de conjuntos coloridos que dialogam muito com a era "Fine Line", mesmo que essa tenha ficado um pouco desfalcada na turnê.

As referências de moda do artista também são percebidas nos fãs, que agora compõem os visuais com muito brilho, paetês, plumas e chapéus de cowboys, ou até mesmo apostando em combinações andróginas.

Ele deu seguimento ao show com "Daylight". Em "Cinema" ele precisou parar antes do refrão para ajudar fãs que passavam mal na grade perto do palco. Também tocou "Keep Driving", também do seu último álbum.

Em "Satellite", o público aproveitou a trégua da chuva para poder fazer uma surpresa para o cantor. Com papel celofane nas cores azul, amarelo e verde encaixados nas lanternas dos celulares, o estádio ficou preenchido pelas cores da bandeira. O músico agradeceu o presente.

A sensual "She" e a melancólica "Matilda" dão tempo para o público acalmar os ânimos, que são logo retomados com a animada "Lights Up", em que Harry conduziu os setores a usar a lanterna dos celulares no ritmo da música.

Seus principais hits, porém, ficaram para a metade final do show. A transição para "Late Night Talking", aliás, com o som mais dançante entre suas últimas canções, foi musicada à brasileira com "faz carinho dumdum" do "Trem das Onze".

"Watermelon Sugar", sucesso comercial de "Fine Line", também agitou o público nesta noite. A frenética "Canyon Moon" e o lema do cantor, "Treat People with Kindness" fez a pista premium dançar e correr em trenzinho.

Do seu álbum de estreia, apenas duas músicas permaneceram na apresentação ?talvez o fato do disco não ter sido reconhecido pelas premiações do setor tenha influenciado essa escolha. Foram elas a faixa queridinha do cantor, "Kiwi", que encerrou o show; e "Sign of the Times", sucesso que é, de fato, uma de suas melhores composições. Quando cantou esta última, Harry foi até a ponta da passarela com o pedestal e estendeu a bandeira do Brasil.

Não bastasse estarem todas as fãs ensopadas pela chuva, o cantor aproveitou a certa altura para jogar mais água na plateia mais próxima à passarela.