SÃO PAULO, SP (FOLHPRESS) - "Qual história a gente escolhe contar?" A pergunta retórica de Sandy Alibo, fundadora de uma startup ganense de ensino de skate, resume o enfoque dado pela 6ª temporada de "Expresso Futuro", série produzida pelo canal Futura e apresentada por Ronaldo Lemos, colunista do jornal Folha de S.Paulo.

A nova leva de episódios do programa sobre tecnologia se dedica a sacudir estereótipos e investigar o que há de inovador em países da África como Moçambique, Quênia e Gana.

Nesses territórios, marcados por guerras civis recentes e processos de independência turbulentos, a pobreza e falta de infraestrutura começam a dar lugar a criatividade e inovação.

Projetos criados no continente passam por marketplaces de artigos de tribos tradicionais, mapeamento de dados para prevenção de desastres naturais e até produção de cerveja à base de mandioca. Além disso, a série mostra que transferências monetárias digitais, como o Pix no Brasil, existem já faz tempo na região.

Em certos locais, a forma de lidar com a tecnologia é pouco burocrática e se camufla na paisagem. Por exemplo, no Quênia, país onde a conexão wi-fi chega até às favelas mais pobres, parte do transporte público da capital é realizada pelos chamados "matatus", ônibus que são versões cyberpunk dos circulares tradicionais.

Do lado de fora, esses veículos são personalizados com adesivos, pinturas, grafites e acessórios. Por dentro, internet gratuita, televisões enormes e caixas de som potentes transformam a ida ao trabalho numa espécie de passeio.

Além disso, os matatus servem como uma praça pública sobre rodas, segundo uma das passageiras entrevistadas ?ela diz que, por causa do clima descontraído, as pessoas são estimuladas a conversar entre si.

Claro, não se trata de uma técnica que movimenta bilhões de dólares e resolve os problemas do país. Mas não deixa de ser uma inovação social que se apropria símbolos estrangeiros para embalar a vida cotidiana.

Mas também há iniciativas que de fato chamam a atenção do mercado. "Expresso Futuro" mostra que Nairóbi, capital do Quênia, além de ser palco de uma transformação urbana, é chamada de Savana do Silício, em referência à região dos Estados Unidos onde estão sediadas as empresas mais valiosas do mundo.

O apelido não é gratuito. A cidade abriga, além de escritórios de multinacionais, incubadoras de startups que podem se tornar os primeiros unicórnios ?empresas cujo valor de mercado chega a US$ 1 bilhão? do leste africano.

William Tsoli, coordenador do iHub, incubadora de startups da capital queniana, explica que a inovação do país hoje se divide em três frentes. Fintechs, porque parte da população ainda não tem conta em bancos, logística, pela falta de um sistema centralizado de endereços em diversas regiões, e saúde.

Ele cita como exemplo o Neurolab, startup que usa aprendizado de máquina e inteligência artificial para analisar exames de raio-X. Contudo, apesar do clima de otimismo, Tsoli diz que sente falta de apoio público.

"Temos algum apoio do governo, mas não tanto como gostaríamos. Muito do investimento no ecossistema de inovações queniano vem de investidores internacionais. Isso é ótimo, mas estrangeiros têm o seu próprio interesse e objetivo, e essas prioridades podem não se alinhar às dos inovadores", disse.

"Se tivéssemos mais apoio do governo, seria melhor porque estimularia soluções locais por inovadores locais, em vez de contar com um investidor estrangeiro que pode decidir explorar outros mercados ou setores que não são relevantes para nós".

As relações entre Brasil e África também tangenciam os episódios da temporada. Fred Swaniker, CEO do African Leadership Group, diz que há oportunidade de comércio e investimento entre as duas regiões. Para isso acontecer, contudo, é necessário aumentar o intercâmbio cultural.

Por exemplo, a presença brasileira em Moçambique, que também fala português, passa despercebida ?nas ruas da capital, marcas chinesas e indianas dividem espaços de publicidade.

"Muitas vezes, inovações feitas em países desenvolvidos têm realidades diferentes daquela dos países emergentes, como países africanos e o Brasil. Precisamos colaborar entre nós, afinal há soluções em África que podem funcionar no Brasil", explica.

Swaniker afirma que a riqueza do continente não está no ouro, diamantes ou minerais, mas na população. Isso porque a idade média dos africanos é 19 anos, enquanto na Europa é 43, e, nos Estados Unidos, 38.

"A África tem um problema de marketing. A maioria das pessoas, quando pensa no continente, pensa em fome, guerras, crianças morrendo de fome. Não consegue ver como um continente inovador. Muita gente não sabe, mas o Amazon Web Services [principal serviço de computação em nuvem] foi desenvolvido na África do Sul", disse.

Outros episódios da série ainda apresentam as culturas comunitárias, a produção artística dos grandes centros urbanos, o afrofuturismo e a história do Moçambique.

Um dos destaques desse país é o Parque Nacional da Gorongosa, área de conservação que combina preservação da natureza com apoio às comunidades locais através de serviços básicos como saúde e educação.

No segundo episódio, o parque promove uma maratona com 2.500 participantes da região. Durante o percurso, o apresentador da série, Ronaldo Lemos, conta que foi ultrapassado por um atleta que corria de costas ?o que lhe serviu de metáfora para o desenvolvimento da região.

"É um continente jovem, criativo, que está correndo de um jeito não convencional, mas está sendo capaz de ultrapassar muita gente", disse.

Onde assistir: "Expresso Futuro" vai ao ar no canal Futura e está disponível no Globoplay, aberto para não assinantes.


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