BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais completa 15 anos de fundação, nesta terça-feira (21), em meio a turbulência financeira.

Os recursos repassados pelo estado, que já chegaram a R$ 22,5 milhões em 2014, ficaram em R$ 17,5 milhões em 2021, uma queda de 22,2%. O valor em 2022 foi o mesmo de 2021 e se repetirá em 2023, segundo o estado.

O primeiro concerto da orquestra foi realizado em 21 de fevereiro de 2008, ainda como sinfônica, criada pelo governo do estado.

O tamanho atual do orçamento emperra projetos e afeta a escolha das peças a serem executadas, conforme o maestro Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da orquestra desde a sua fundação.

O maestro ressalta que os valores dos repasses não acompanharam a inflação e a evolução do dólar. A moeda estadunidense era cotada a R$ 2,56 em dezembro de 2014. Hoje está em R$ 5,21.

A orquestra é administrada pelo Instituto Cultural Filarmônica, uma OSCIP, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Sob esse regime, o financiamento ocorre com recursos públicos, no caso, do estado, e patrocínios que atrai junto à iniciativa privada, além de assinaturas para temporadas e bilheteria.

Um dos projetos do comando da filarmônica emperrados por falta de recursos é o da criação de uma orquestra jovem que, conforme o maestro, serviria como preparação de músicos que posteriormente poderiam ser incorporados à formação principal.

"Embora seja um projeto de sucesso, é muito vulnerável, porque depende de equação estabelecida desde o início, que é a folha de pagamento por conta do estado, e a programação artística e turnês por conta de financiamento e patrocinadores", diz o maestro.

Ao longo do tempo, porém, isso mudou. "A equação foi sendo deturpada porque, devido ao sucesso de captação, houve um declínio na contribuição do governo, e isso fragiliza o projeto", afirma Mechetti.

Segundo dados do governo, a captação de recursos da filarmônica, via lei de incentivo, foi de R$ 14,5 milhões em 2021 e R$ 15,6 milhões em 2022, alta de 8%.

"A orquestra não existe por decreto. Existe desde que haja vontade de um lado, o governo, e do outro, os patrocinadores", afirma. Mechetti diz que, com o atual orçamento, é preciso analisar com cuidado o que será apresentado, por causa, por exemplo, do pagamento de direitos autorais.

Composições mais antigas, que já caíram no domínio público, não requerem pagamento. Em relação a músicas mais novas, porém, o valor deve ser pago ao Ecad, entidade responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais de músicas.

Em nota o governo de Minas afirma que, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, incentiva o desenvolvimento da orquestra, "que mantém com o estado um contrato de cooperação dedicado à difusão da música sinfônica e de concerto, fundamental para a promoção da cultura em Minas Gerais".

"Mesmo diante das dificuldades financeiras enfrentadas pelo estado, na atual gestão, houve aumento em cerca de R$ 2 milhões de repasse do governo para a orquestra, em relação ao governo passado. Atualmente, a Secult destina R$ 17,5 milhões por ano à filarmônica, o que representa 24% do orçamento total da secretaria".

A comparação do governo foi feita com base especificamente a um ano, 2018, o último do governo de Fernando Pimentel (PT), antecessor do primeiro mandato do atual chefe do Poder Executivo de Minas, Romeu Zema (Novo). O repasse em 2018 foi de R$ 15,3 milhões.

O maestro Mechetti avalia que um dos principais pontos marcantes na trajetória da orquestra foi a construção da Sala Minas Gerais, a casa da filarmônica do estado. A mudança ocorreu em 2014.

Antes, segundo o maestro, o local de ensaios e apresentações da orquestra era o Palácio das Artes, que não tinha estrutura correta para abrigar os músicos. Também havia conflito de agendas por causa de outros espetáculos.

"Não ensaiávamos no palco por estar à disposição de eventos. Era em uma sala pequena. É como se um time treinasse em um ginásio de futebol de salão e depois fosse jogar no Mineirão", compara.

A orquestra possui 89 músicos. Para o maestro, a Filarmônica de Minas Gerais, mesmo com a questão financeira, conquistou espaço no cenário nacional.

"Temos que reconhecer que a filarmônica se posicionou como uma das melhores do Brasil. Alguns dizem que é a melhor", comenta.

A orquestra já fez concertos em países como Argentina, Uruguai e Portugal. Em Minas Gerais, a filarmônica se apresenta em praças públicas em cidades do interior, em projeto que busca popularizar a música clássica, com idas a Paracatu, Araxá, Congonhas, Conselheiro Lafaiete e Mariana.

A programação da Filarmônica de Minas Gerais nas comemorações de seus 15 anos começa no sábado (25), com participação do violinista Roman Simovic e obras de compositores como Richard Strauss e Villa-Lobos. A temporada segue até 15 de dezembro.

Desde a sua criação em 2008 a orquestra realizou 1.118 concertos entre apresentações na Sala Minas Gerais, turnês nacionais e internacionais. Foram lançados 10 CDs. A Filarmônica de Minas Gerais foi indicada uma vez para o Grammy Latino, em 2020, por obras para piano e orquestra na categoria melhor álbum clássico.


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