SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Lembro que, quando estava com cerca de 40 anos, achava que cada filme seria o último. E todas as evidências de outras mulheres de 40 anos naquela época levavam você a acreditar que acabou."
A frase foi dita por Meryl Streep em 2016, em entrevista ao The Washington Post. Então com 67 anos, a atriz havia protagonizado "Florence - Quem É Essa Mulher?", que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em 2017.
Em 2023, Streep, que completará 74 anos em junho, pode comemorar não só sua longeva e profícua carreira, mas o recorde de indicações na categoria, com 21 nomeações entre atriz principal e coadjuvante.
Ela deve estar menos pessimista ao perceber uma ligeira, mas consistente evolução, na idade das mulheres indicadas ao Oscar de melhor atriz.
Em 1989, quando fez 40 anos, estatísticas mostram que ela tinha razão para se preocupar com a longevidade de sua carreira. Em março daquele ano, a Academia tinha consagrado Jodie Foster, de 26 anos, como melhor atriz por sua atuação em "Acusados", em que interpretou uma jovem vítima de estupro coletivo que tentava levar aos tribunais os homens que a atacaram.
Mesmo jovem, Foster era considerada quase uma veterana em Hollywood graças ao início ainda criança, quando estrelou filmes da Disney. Aos 14, já era mundialmente conhecida por sua atuação em "Taxi Driver", de 1976, de Martin Scorsese.
Mas Jodie não era exceção. Entre as outras quatro indicadas de 1989, a mais velha era Glenn Close, com 42 anos, que competia por sua diabólica marquesa de Merteuil, de "Ligações Perigosas". A própria Streep, com 39, integrava a turma pelo trabalho em "Um Grito no Escuro". Era sua oitava indicação.
Completavam as cinco indicadas daquele ano Sigourney Weaver, com 39 anos, por "Nas Montanhas dos Gorilas", e Melanie Griffith, com 31, por "Uma Secretária de Futuro". Ou seja, Glenn Close era a única indicada acima dos 40.
Já em 2023, Ana de Armas, de 34 anos, é a única nomeada abaixo dos 40, por sua Marilyn Monroe em "Blonde". Aos 53, Cate Blanchett chega favorita à cerimônia, por "Tár". Sua principal adversária é Michelle Yeoh, de 60, por "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo". Completam a lista Michelle Williams, de 42, por "Os Fabelmans", e Andrea Riseborough, de 41, por "To Leslie".
Não se trata de um fenômeno isolado. A média das indicadas vem aumentando gradativamente nos últimos 50 anos. Na década de 1970, a média foi de 36,1. Na década seguinte saltou para 39,4. O aumento nos anos 1990 foi quase irrisório, para 39,7.
Só na primeira década dos anos 2000 a barreira dos 40 foi ultrapassada, chegando aos 40,6 -a própria Meryl contribuiu duas vezes no período, com "O Diabo Veste Prada", de 2006, aos 57, e "Dúvida", de 2008, aos 59.
Entre 2011 e 2020, o índice chegou aos 42,1 anos, com um Oscar particularmente histórico em 2014. Foi a primeira -e ainda única- vez em que as cinco indicadas tinham mais de 40. A vencedora foi Cate Blanchett, com 45, por "Blue Jasmine".
A australiana deixou pelo caminho Amy Adams, com 40, por "Trapaça", Sandra Bullock, com 49, po "Gravidade", Judi Dench, com 74, por "Philomena", e Meryl Streep, sempre ela, que tinha 64 em "Álbum de Família".
A década corrente parece promissora. Em 2021, a média etária foi de 44,4, com vitória de Frances McDormand, aos 63, por "Nomadland". No ano passado, a vencedora, Jessica Chastain, tinha 46 em "Os Olhos de Tammy Faye", ajudando a elevar a média para 45,2. Este ano, com Blanchett e Yeoh, chegamos à média de 46 anos.
Atores nunca tiveram preocupação com idade. A média masculina em 1970 já era de 43,6 -sete anos a mais do que a feminina- e subiu pouco nas décadas seguintes, chegando a 46,4 nos anos 2010. Em 2021, eles alcançaram a maior média, de 52 anos, impulsionados por Anthony Hopkins, por "Meu Pai", que aos 83 anos se consagrou o vencedor mais velho do Oscar na categoria.
Ao contrário da Hollywood das mulheres, apenas dois homens com menos de 25 anos foram indicados a melhor ator em mais de meio século -John Travolta, que tinha 24 em 1978, quando encarnou Tony Manero em "Os Embalos de Sábado à Noite", e Timothée Chalamet, com 22 anos em 2018, temporada de sua consagração por "Me Chame Pelo Seu Nome".
Isso não significa que Hollywood deixou de lado sua eterna procura por jovens estrelas. Jennifer Lawrence foi a vencedora de 2013, por "O Lado Bom da Vida", aos 22. Três anos depois, foi a vez de Brie Larson, com 26, por "O Quarto de Jack".
A premiação seguinte consagrou Emma Stone, com 28, por "La La Land". Isso sem mencionar as primeiras indicações à melhor atriz de Keira Knightley, com 20, Saoirse Ronan, com 21, e Julia Roberts ou Winona Ryder, ambas com 23.
Os números da amostra dos indicados a melhor atriz e ator reforçam o etarismo e a desigualdade na forma como homens e mulheres têm sido valorizados e reconhecidos na indústria. O Oscar, mesmo com iniciativas e um discurso de inclusão, oscila em suas escolhas. Em 2023, nenhuma atriz negra foi indicada ao prêmio de melhor atriz, e nenhuma mulher disputa a estatueta de direção, por exemplo.
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