A feira permanente de artesãos do São Mateus completa 26 anos em maio de 2023. A Associação de Artesãos do São Mateus começou com um grupo de cinco artesãs que fizeram um empréstimo no Banco do Povo e compraram as primeiras barracas para expor seus produtos. De lá para cá, a forma de fazer, expor e vender artigos feitos à mão vem se modificando e absorvendo as mudanças, permanecendo firme e vibrante, contando a história das pessoas, da cidade e possibilitando entregar saberes, histórias, significado e valor.
Quem passa pela Praça Jarbas de Lery nas manhãs e no início das tardes de sábado tem a oportunidade de conhecer as mentes e histórias por trás de artigos diversificados, pensados e executados por mãos criativas e talentosas, que incorporam as questões do mundo contemporâneo.
Hoje, entre as 41 barracas de artesãos associados, há a incorporação de microempreendedores, cuja atividade conversa com esse universo. Conforme o diretor voluntário da Associação, Juninho Sobreira, para que não ocorra a concentração de muitos artesãos vendendo o mesmo tipo de artesanato, o espaço foi aberto para outras práticas, como um antiquário e o brechó, que promovem o uso sustentável dos objetos e roupas. “Isso diversifica os produtos e torna a feira mais atrativa. Há 20 anos, quando falávamos em feiras de artesanato, o que as pessoas pensavam era em pano de prato e crochê. Hoje em dia, temos verdadeiros artistas, que vão atrás de capacitação, que usam tecidos e materiais importados, porque há uma maior facilidade de acesso a esse tipo de material em função da internet.”
Dados oficiais do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiros (Sicab) divulgados pelo Sebrae mostram que, somente em 2022, o número de artesãos mais que dobrou de janeiro a agosto. O sistema concentra mais de 190 mil profissionais do segmento que optaram em se cadastrar. Em janeiro de 2022 o sistema recebeu 918 cadastros e, em agosto, 2019 novos integrantes. O Brasil conta com cerca de 8,5 milhões de artesãos. Desse total, a maioria é constituída por mulheres que vivem diretamente da própria produção. O setor representa aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto (PIB) e movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano.
A adaptação aos meios digitais permitiu a conexão entre o artesão e o público por outros canais, não só por meio da exposição e venda física. “Passamos a pandemia firmes e fortes, mesmo sem expor. Começamos a ajudar os artesãos que não tinham traquejo para lidar com as redes sociais a vender pelo instagram, pelo facebook, pelo market place. Então, com a melhora da situação em relação à pandemia, voltamos com força total.” A criatividade é usada não só para a construção das peças vendidas, mas também para a forma de atrair o público. A feira organiza e realiza eventos como feiras do livro e festivais gastronômicos que chamam as pessoas para estar no espaço.
No município de Mercês, o Empório Vó Olívia se destaca como um projeto que também visa a valorização do artesão, trabalhando com mais de 150 produtores e ocupando lugar de destaque entre os e-commerces de artesanato mineiro, divulgando e promovendo as criações de todo o estado, levando esses artigos a todo país e registrando faturamento médio de R$ 1,2 milhão por mês.
O idealizador e diretor do Vó Olívia, o publicitário Cássio Fernandes, conta que o propósito é, justamente, ampliar dar visibilidade à produção artesanal em Minas Gerais, valorizando a arte mineira por meio de produtos que ressaltam a linguagem, o comportamento e a visão de mundo de um povo muito rico em história, cultura e talento.
“Não vendemos simplesmente artesanato. Em nossos produtos agregamos afeto, carinho e despertamos memórias afetivas em nossos clientes. Todo mundo que tem contato com algum produto da marca tem a mesma reação. Eles lembram de momentos especiais vividos na casa da avó, da mãe… Eu já tive cliente que chorou porque recebeu um item nostálgico, que o fez lembrar de um passado especial”, revela Cássio.
A artesã Luciana Jaques, especialista em peças feitas com cabaça, na cidade de Santa Cruz de Minas (MG), conta que o ateliê em que produz cresceu depois que iniciou a parceria com o Vó Olívia. "Para produzirmos nossas peças, conto com uma equipe formada por outras sete mulheres. Além disso, desenvolvemos a nossa própria técnica para simplificar a criação: substituímos o papel machê pelo biscuit. Tenho muito orgulho de fazer parte do projeto, que é o nosso primeiro e principal cliente”, conta
Desafio
Diferente do modo de vender artesanato há décadas atrás, quando a pessoa interessada em adquirir um produto precisava ir até o produtor, a internet e as redes sociais, em especial, possibilitam um acesso maior. Ao mesmo passo que favoreceu os concorrentes. Os produtos originários da China, que conseguem melhorar sua qualidade e ter um preço muito baixo ainda trás dificuldades para os artesãos.
“O que sobrevive hoje é o artesão que tem persistência, é o artesão que se capacita, que procura novos produtos, novas peças. Temos que estar sempre atentos, vamos tentar mudar, se não estiver vendendo, buscamos diminuir os custos, comprarmos matéria prima em maior quantidade para obter descontos. Claro que tem coisa que não adianta querer economizar. Se quer ter uma bolsa diferente, um jogo americano com tecido importado, ele vai ser caro. Mas onde for possível, temos tentado diminuir os custos”, reflete o diretor voluntário da Associação de Artesãos do São Mateus, Juninho Sobreira.
Ainda de acordo com Juninho, uma das características do artesanato de Juiz de Fora é a diversificação, uma vez que não há um único produto específico, como o estado do Tocantins tem o capim dourado e o barro ou Maria da Fé, no Sul de Minas, que tem foco no artesanato com fibra de bananeira. Mas para ele, é preciso ter vontade político e investimento do poder público, para que a produção da cidade possa ganhar mais notoriedade e espaço.
“O artesão começa a fazer o que você acha em vários lugares. Temos verdadeiros e grandes artistas. Por exemplo, trabalho com uma ceramista chamada Norma Marqueto. Ela utiliza uma técnica de esmaltação que se chama Raku. Não há uma peça que saia exatamente igual a outra. Isso é espetacular. Então temos que valorizar e dar visibilidade para esse tipo de produção.Temos artesãos extremamente capacitados, mas faltam locais para expor, para fazer esse contato direto com o público que também é fundamental”, conclui Sobreira.
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