SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Luedji Luna foi buscar em sua versão de 17 anos a inspiração para sua arte. "Pele", música lançada na versão deluxe de seu álbum "Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água", com dez músicas inéditas, foi a primeira composição que escreveu, inspirada pelo seu primeiro beijo.

"Foi muito impactante e potente. Me deu uma outra compreensão do mundo", afirma a cantora. "Achava uma música boba, sempre me recusei a falar de amor, mas esses dois discos marcaram esta mudança de chave."

Os dois volumes do disco -o primeiro de 2020 e o segundo de novembro de 2022- não só trouxeram afetos à obra de Luna. Foram também os trabalhos que solidificaram a carreira da baiana, que mostra seu novo show em São Paulo, nesta sexta-feira, depois de despontar em 2017, com "Um Corpo no Mundo", seu primeiro álbum.

O disco de estreia emplacou "Banho de Folhas", sucesso que já faz parte da trilha sonora da Bahia contemporânea e de uma nova música brasileira que pode ser tratada como MPB, mas vai além da sigla. Agora, Luna está mais perto de uma mistura de R&B com neosoul, jazz e sonoridades africanas diversas.

"Quando surgi, queria disputar a MPB, achava importante termos uma mulher negra compositora neste espaço", diz. "Mas o som que tenho feito, da pandemia para cá, é mais global. É música preta da diáspora. Há referências às vezes literais em África -como os afro beats, as guitarras do Quênia e do Congo."

Não é bem o tipo de música que domina as listas de mais tocadas no streaming no Brasil, mas Luna tem se sobressaído. Nos últimos anos, ela tem frequentado programas de TV, teve músicas nas trilhas de duas novelas, incluindo "Pantanal", foi convidada de Anitta em um de seus esquentas de Carnaval, estrelou séries de vídeo famosas no exterior, como Tiny Desk e Colors, é patrocinada por grifes internacionais e tem shows na Europa para os próximos meses, além de ter sido indicada ao Grammy Latino.

No próximo domingo, representa uma renovação ao cantar no festival de comemoração do aniversário de Salvador ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ivete Sangalo, em evento com transmissão da Globo. Em janeiro, ela já tinha dividido o palco com a cantora no último Festival de Verão, na capital baiana.

São conquistas que, se não a alçam ao mainstream, pelo menos a colocam em disputa por um espaço entre a elite e a grande massa de músicos independentes do país. Luna enxerga no racismo um fator limitante e vê o sucesso de mulheres negras na indústria correr em velocidade diferente.

"Cantoras brancas em ascensão conseguem mais projeção, seguidores e dinheiro que qualquer cantora preta", ela diz. "O tempo para nós é mais dilatado -para reconhecimento e captação financeira. Fazemos parte de uma geração que conseguiu achar brechas para ter autonomia, mas a indústria segue contemplando os mesmos corpos e vozes."

Se tornar seu som mais comercial não é uma opção, Luna conta com a inserção dos afetos como tema principal de sua obra. Os dois volumes de "Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água" expandem o entendimento do amor sob o ponto de vista da mulher negra.

"Nesses discos, quis construir um outro imaginário. Há o racismo, a solidão, mas também tem desejo, família, paixão, lesbiandade -enfim, muita coisa. Então, ocupar esse espaço de mulher preta que ama e é amada é muito rico."

Seu álbum mais recente é mais carnal e profano, afastando a cantora de um lugar místico intuído pela sonoridade etérea e que evoca a espiritualidade de sua música quanto pela sua ligação com o candomblé. É um peso do qual ela prefere se livrar.

"Uma vez, uma pessoa em Aracaju levou uma vela para um show e queria acender aquilo. Isso me incomodou muito. A gente acende vela é pra santo, pra entidade", diz Luna. "Quando decidi falar de amor e sexo, foi uma decisão de me humanizar."

A cantora ainda não faz tantos planos, mas deve seguir a rota das duas últimas obras. Na capa da primeira, ela aparece submersa. Na do segundo disco, surge com a cabeça para fora do mar. Agora, quer continuar na água, "boiando, mergulhada ou sobre ela", diz.

LUEDJI LUNA

Quando Sexta-feira (31), às 22h

Onde Audio - av. Francisco Matarazzo, 694, São Paulo

Preço R$ 50 a R$ 60

Classificação 18 anos


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