SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Morreu na última terça-feira (28) o lendário compositor de trilhas sonoras japonês Ryuichi Sakamoto, que, entre seus prêmios, levou o Oscar pela música do filme "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci. A informação foi confirmada nas redes sociais do compositor, morto aos 71 anos.
No ano passado, de acordo com o jornal The Japan Times, o músico disse ter um câncer avançado que tinha se espalhado por diversas regiões de seu corpo. Ele recebeu um diagnóstico de câncer na garganta em 2014 e de no cólon em 2021. A doença teria ainda se espalhado pelos seus pulmões e outras regiões do corpo nos últimos anos.
Sakamoto é considerado avô da eletrônica e do hip hop por conta das experimentações que conduziu no começo da carreira. Em 1980, ele lançou dentro do segundo álbum, "B-2 Unit", a faixa "Riot in Lagos", que é considerada um dos primeiros exemplos de eletro-funk da história, e pioneiros do gênero como Afrika Bambaata e Kurtis Mantronik declararam nos anos seguintes terem o disco como referência.
A inventividade de suas composições o levaram ao cinema, onde não só trabalhou nas trilhas sonoras como até atuou. A estreia aconteceu em 1983, quando desempenhou as duas funções em "Furyo: Em Nome da Honra", de Nagisa Oshima. No filme, ele vivia o antagonista, o capitão Yonoi, que buscava informações dos prisioneiros de guerra, entre eles um vivido por David Bowie, em uma prisão japonesa da Segunda Guerra Mundial.
Tanto na encenação quanto na música, o filme era dominado por uma atração sexual reprimida. Enquanto formava com Bowie uma relação entre a repulsa e a sedução, leva à tona pelo fetiche do militarismo, a trilha sonora de Sakamoto para o filme era baseada no teclado, com distorções de sintetizadores dando vazão ao tom frio e, paradoxalmente, pulsante da narrativa. O trabalho rendeu um Bafta ao artista no ano seguinte.
O sucesso de "Furyo" impulsionou a carreira do artista, que aumentou a produção durante os anos 1980 sem deixar de continuar experimentando na forma. A fama o aproximou de outros nomes celebrados da época, como David Byrne e Iggy Pop, que colaboraram em suas produções solo.
O compositor nessa época ainda explorou novos segmentos da música, incluindo o movimento futurista italiano, mas continuava mostrando interesse em estilos tradicionais. O álbum "Beauty", de 1989, é prova disso, combinando elementos do pop japonês da época com canções tradicionais da região de Okinawa, enquanto contando com participações do porte de Brian Wilson, ex-integrante do Beach Boys.
Sakamoto entrou de vez para o imaginário do cinema com as colaborações com Bertolucci. Além da alardeada trilha sonora de "O Último Imperador", em que voltou a trabalhar com Byrne, o artista ainda foi responsável pelas composições de "O Céu que nos Protege", de 1990, e "O Pequeno Buda", de 1993. Ele ainda fez parte do júri do Festival de Veneza de 2013, presidido por Bertolucci na época.
Ele se tornaria um nome muito solicitado na indústria durante a década de 1990. Entre outros trabalhos, Sakamoto foi responsável pela música de "De Salto Alto", dirigido por Pedro Almodóvar em 1991; a adaptação de "O Morro dos Ventos Uivantes" de 1992, com Juliette Binoche e Ralph Fiennes; e de "Tabu", de 1999, o último filme dirigido por Nagisa Oshima.
Brian De Palma foi outro diretor marcante na carreira de Sakamoto, que compôs para dois filmes do cineasta americano. Foram dois projetos, nos filmes "Olhos de Serpente", de 1998, e "Femme Fatale", de 2002. Embora tenham sido mal recebidos na época do lançamento, ambos são considerados produções cult atualmente.
Sakamoto teve três casamentos durante a vida, incluindo a pianista e vocalista Akiko Yano, com quem esteve relacionado oficialmente entre 1982 e 2006. Mas ele manteve um relacionamento amoroso com a agente, Norika Sora, desde 1990, e dois anos antes havia decidido viver separado de Yano, e conviveu com ela até a morte.
O artista tinha grande admiração pelo Brasil, em especial Tom Jobim. Ele veio ao país em 1995, quando fez um show com Caetano Veloso de homenagem ao fundador da bossa nova, repetindo a dose depois com Gilberto Gil.
Sakamoto ainda lançou em 2001 o disco "Casa", feito com o casal de músicos Jaques e Paula Morelenbaum, gravado no antigo lar de Jobim e que celebrava a bossa nova. O álbum acabou na lista de melhores do ano do New York Times, com imensos elogios da crítica.
O artista seguiu equilibrando projetos solos com colaborações para o cinema nas últimas duas décadas de vida. Filmes alardeados como a refilmagem de "Hara-kiri", de 2011, e "O Regresso", de 2015, ganharam com composições minimalistas e cada vez mais tradicionais. Mesmo com o câncer, Sakamoto continuou produzindo ?a dedicação rendeu um documentário sobre sua pessoa, "Coda", em 2017.
No cinema, seus últimos trabalhos foram nos filmes "Love After Love", de 2020, e "Beckett", de 2021, além do inédito "Monster", novo longa-metragem de Hirokazu Kore-eda.
Sakamoto lançou o último álbum, "12", em janeiro deste ano. A obra, feitas apenas de faixas com títulos numéricos, foi elogiada por suas composições, que no uso experimental de sintetizadores mostram um artista consciente de seus últimos passos.
Junto da esposa Sora, Sakamoto deixa quatro filhos.
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