SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Vendas acima das expectativas mas excesso de público. Em linhas gerais, esta é a avaliação de diversos galeristas participantes da 19ª SP-Arte, feira que terminou neste domingo (2) depois de cinco dias de corredores lotados no pavilhão da Bienal, em São Paulo.

Foram mais de 30 mil visitantes desde quarta (29), informa a organização da feira, um recorde nas quase duas décadas do evento.

Marchands de galerias pequenas, médias e grandes já vinham relatando nos eventos paralelos à feira o quão surpresos estavam com a alta demanda por obras de arte, e numa consulta da reportagem a seis galeristas nesta segunda (3) o discurso seguiu o mesmo.

Antonia Bergamin, uma das sócias da Galatea, disse que suas vendas se espalharam por todos os dias da SP-Arte e não ficaram concentradas apenas na quarta-feira, o primeiro dia, antigamente dedicado somente a colecionadores e convidados e, portanto, um momento certeiro para fechar negócios.

Ela relata ter vendido em torno de 50 obras de artistas contemporâneos, na faixa de R$ 20 mil a R$ 30 mil, a exemplo de trabalhos de Carolina Cordeiro e Allan Weber, e quatro trabalhos na faixa dos R$ 900 mil. Há ainda uma Tarsila do Amaral em negociação, que pode sair por mais de R$ 3 milhões, ela conta.

Thiago Gomide, sócio da Gomide & Co, que tinha um estande todo dedicado a obras de cerâmica, afirma ter vendido 74 obras, num total de R$ 12 milhões.

André Millan, da galeria que leva seu sobrenome, diz que a diversificação do público na feira abre um leque de perspectivas de venda, embora estes novos compradores -profissionais liberais ou do mercado financeiro, na faixa dos 30 anos- optem por obras de tíquete médio mais baixo. Ainda assim, ele afirma ter vendido trabalhos de todos os preços, da jovem Guga Szabzon até consagrados como Tunga e Jaider Esbell.

De acordo com Millan, esta edição da SP-Arte foi melhor que a anterior em negócios por causa da pandemia ser, entre aspas, um capítulo encerrado, e porque a imagem do Brasil no exterior está melhor com a saída de Jair Bolsonaro e o retorno de Lula à presidência, fatores que trazem mais colecionadores de fora dispostos a gastar.

Alexandre Gabriel, sócio-diretor da Fortes D'Aloia & Gabriel, também fala na diversificação de visitantes. Segundo ele, que participa da feira desde o início, esse talvez tenha sido o ano com mais compradores de fora do eixo Rio de Janeiro e São Paulo, pessoas que orbitam ao redor de museus de Curitiba, Porto Alegre e Goiânia.

"As pessoas se sentem melhor de se aproximar da galeria na feira do que na própria galeria. A gente tem muita fama de antipático -a feira quebra um pouco o gelo e isso é bom", ele afirma. "O ideal é ver a arte no museu, não na feira. Mas acho que [a SP-Arte] fomenta o colecionismo de uma maneira mais ampla."

Galerias menores também encheram o porquinho de moedas. Ian Duarte, da Verve, relata uma alta procura pelas pinturas em pequeno formato de Adriel Visoto -entre R$ 12 e R$ 25 mil-, e afirma que a feira foi um momento bem-vindo num mercado que, para ele, estava estranho.

Gisela Gueiros, da Gisela Projects, estreou na SP-Arte e diz que conseguiu cobrir os custos de sua participação, altos para uma galeria de menor porte e sem espaço físico como a sua. Ela conta ter comercializado 29 obras, dentre as quais pinturas em grande formato de Gabriel Botta e Fernanda Feher.

Pelos relatos, a SP-Arte cumpriu seu objetivo principal, o de conectar compradores a vendedores de obras de arte. Ainda assim, galeristas reclamaram do excesso de público na abertura, quarta-feira (29), um dia que era dedicado apenas a colecionadores e vips mas que desde 2022 é aberto para o público geral, que pode acessar o pavilhão pagando R$ 70 pelo ingresso.

Parece contraditório que o alto número de visitantes seja uma questão numa feira de arte -afinal, a ideia ali é vender, e, em tese, quanto mais possíveis clientes, melhor.

Mas a questão, disse um galerista, é que as negociações eram cortadas ao meio pelos grupos de dezenas de pessoas das visitas guiadas, justamente uma ação da SP-Arte para agregar conteúdo e tentar parecer menos um evento de comércio.

Um galerista afirmou que o alto número de pessoas no primeiro dia significou que ela teve que fazer muito mais social sem chances de efetivamente fechar negócio, ao contrário de anos anteriores.

A SP-Arte afirma que abrir para o público no primeiro dia é uma exigência do Ministério da Cultura vigente há quatro anos para projetos incentivados pela Lei Rouanet. A SP-Arte foi autorizada este ano a captar quase R$ 3 milhões pela lei, dos quais obteve até agora R$ 600 mil.

Sobre as visitas guiadas, a organização da feira afirma que tem realizado, ao longo de suas 19 edições, um forte trabalho educativo e de formação do público visitante. "As visitas guiadas fazem parte dessa agenda e só haviam sido suspensas durante o período de pandemia", diz.

A organização diz ainda que, para a edição deste ano, estavam programadas seis visitas por dia, na sexta (31) e no sábado (1º), sendo cinco no setor de arte e uma no de design, e que as visitas eram limitadas a 12 participantes.

"Com o sucesso da feira e o grande interesse do público, outras visitas guiadas acabaram se formando espontaneamente e sem a participação direta da organização da feira", acrescenta.


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