SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O final de semana da Virada Cultural deste ano, com shows no centro de São Paulo menos lotados e maior sensação de segurança, entregou uma experiência oposta à do ano passado, quando cinco pessoas foram esfaqueadas e arrastões tomaram a região.

Com 12 arenas espalhadas pela cidade, do centro a Parelheiros, passando por Heliópolis e Itaquera, nomes como Gloria Groove e BaianaSystem se apresentaram no maior palco do evento, no Vale do Anhangabaú, mas não atraíram uma multidão capaz de atingir a capacidade de 60 mil pessoas.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo divulgará o balanço dos dois dias de evento nesta segunda-feira (29). A reportagem da Folha de S.Paulo não presenciou furtos ou confusões generalizadas nos seis palcos que acompanhou, onde havia um esquema de policiamento ostensivo.

O clima violento do ano passado, no entanto, parece ter afastado boa parte do público da região central, onde também foi preciso enfrentar uma chuva persistente para acompanhar Alceu Valença e Iza, as estrelas do domingo (28). A princípio, o clima não afastou o público da apresentação do pernambucano, mas gerou um atraso de 40 minutos no show da carioca.

Gripada e rouca, Iza, que encerrou a programação no local, se poupou e deixou para cantar nas partes de seus hits em que sua voz era indispensável. A cantora também pausou o show ao ver uma briga na plateia. Ela disse que não continuaria até que o suposto agressor de uma mulher fosse retirado. Afirmou que era uma noite de "paz, alegria, brisa, música e fé", "sem caô".

Quem também precisou pausar a apresentação, por três vezes, foi a drag queen Gloria Groove, que abriu o palco do Vale do Anhangabaú no sábado. Mas o motivo foi outro. Após cantar sucessos como "Leilão" e "Ameianoite" em meio a falhas técnicas, seu microfone ficou mudo.

Apesar de o clima geral da apresentação ter sido tranquilo, a reportagem da Folha acompanhou cinco agentes de segurança apartarem uma briga com cassetetes na frente do palco. Na ocasião, um homem acabou retirado do evento.

Na apresentação seguinte, do BaianaSystem, o público do Anhangabaú ficou mais numeroso, mas ainda não chegou a lotar o espaço, como nos anos anteriores. A banda tocou "Lucro (Descomprimido)", "Playsom" e "Saci" e engajou o público em rodas de bate-cabeça, como de costume.

Quando a apresentação terminou, por volta de 22h, as pessoas começaram a se dispersar, apesar de caixas de som e camelôs seguirem tomando os arredores do Anhangabaú.

Quando o argentino Dread Mar I subiu ao palco, a plateia estava esvaziada, tom que se seguiu por toda a madrugada, ainda com os shows de Luedji Luna e MV Bill. Diferentemente do que costuma acontecer no centro de São Paulo, o público parecia à vontade para ficar com os telefones celulares à mostra.

O evento no Anhangabaú teve inicialmente um grande efetivo de policiais, revista minuciosa e agentes com armadura estilo Robocop anti-tumulto.

Se no centro o panorama foi tranquilo, houve certo tumulto em palcos de bairros mais afastados. Agentes de segurança spray de pimenta para dispersar uma briga entre duas mulheres em frente ao palco M'Boi Mirim, na zona sul. A confusão aconteceu no início do show de Henrique e Diego, por volta de 21h15 do sábado, atingindo famílias e crianças que estavam próximas.

Em paralelo, esses palcos afastados do centro tiveram uma programação mais diversas e despertaram mais o ânimo dos fãs. No início da noite de sábado, em Itaquera, na zona leste, a apresentação lotada de Baco Exu do Blues que abriu o palco foi marcada por ocorrências de fãs passando mal.

Os socorristas do local contaram mais de 50 atendimentos, e o cantor deixou de esticar o show em bis pedindo desculpas pelo mal-estar. Mais tarde no mesmo palco, MC Neguinho do Kaxeta precisou se manifestar do palco para apartar brigas na plateia.

No domingo, as apresentações em Itaquera foram mais diversificadas, indo do infantil Mundo Bita e da música gospel de Aline de Barros pela manhã até a agitação do funk de MC Cabelinho e Tasha e Tracie no fim do dia. Com registro de apenas uma ocorrência de roubo, anunciada pelas cantoras, o dia foi tranquilo para o público de famílias com crianças, idosos e adolescentes.

No Butantã, bairro da zona oeste da cidade, a dupla Anavitória e a diva do pop nacional Marina Sena se apresentaram entre atrasos e a chuva insistente, mas ainda assim reunindo um público maior que o do sábado, quando Roberta Campos e Nação Zumbi se apresentaram. Sena e os dançarinos ganharam a plateia com movimentos sensuais, durante a faixa "Dando Sarrada", enquanto o duo celebrou Rita Lee.

Na zona norte também houve atraso. O show de Emicida na Brasilândia começou cerca de 50 minutos depois do previsto por conta de inundação no palco. O rapper privilegiou o álbum "AmarElo" no setlist e contou com Rashid e Drik Barbosa.

Na zona sul, ídolos do piseiro, gênero que tem dominado as paradas musicais do país, foram destaque no palco Capela do Socorro, com Zé Vaqueiro e Tarcísio do Acordeon, que reuniu 16 mil fãs e fez o público cantar em coro os hits "Meia Noite", "Cê Vai Beber, Vai Chorar, Vai Ligar" e "Esquema Preferido."

Às 20h20, Djonga iniciou o último show da Virada Cultural. A apresentação teve um atraso de cinco horas em função de atraso no voo do rapper de Cascavel, Paraná, para a capital paulista. A plateia de 9.000 pessoas fez coro para "Junho de 94", "Leal" e outras rimas famosas.

À exceção de shows maiores fora do centro, a cidade tinha espaços longe da lotação, apesar das atrações de renome. Ainda assim, as pessoas sofreram para se proteger das intempéries do clima, já que a Prefeitura de São Paulo não planejou estrutura para proteger a plateia da chuva.

Faltou também esforço para fornecer alimentos diversos. Os comerciantes credenciados pela concessionária Viva o Vale, no Anhangabaú, vendiam apenas cachorro-quente. Enquanto isso, o preço de itens como uma lata de cerveja de 269 mL variava até 150%, a depender da região, indo de R$ 4 a R$ 10. Os valores eram tabelados apenas na região central.


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