SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O sociólogo Boaventura de Sousa Santos publicou um texto no qual afirma ter tido comportamentos inadequados, mas refuta novamente ter praticado assédio sexual.

Um dos pensadores portugueses mais importantes da atualidade, ele diz, em texto no portal GGN que define como uma autocrítica, ter nascido em um momento no qual posturas inadequadas eram normalizadas.

"Não é sempre fácil perceber conscientemente que se está a ter comportamentos que antigamente não eram vistos como inapropriados", escreve ele, acrescentando que não busca justificar com isso possíveis atos machistas.

"Reconheço que em determinados momentos posso ter sido protagonista de alguns desses comportamentos. Nessa medida, lamento que algumas pessoas possam ter sofrido ou sentido desconforto e por isso lhes devo uma retratação."

O intelectual diz, porém, que esse reconhecimento não significa que ele admite ter cometido os abusos dos quais é acusado.

Por sua vez, as mulheres que denunciaram o acadêmico criticaram o texto em uma terceira carta aberta contra o pensador e afirmaram que Boaventura não se adequou às exigências de um mundo menos opressivo.

"O seu comportamento com as equipes, colegas de trabalho, estudantes e orientandas não foi reflexo cultural dos tempos, mas uma escolha consciente", escreveram elas. "É difícil aceitar como desculpa a ignorância ou a falta de noção, depois de tanto livro escrito, tanta palestra, tanta aula, tanta oficina, tanto fórum sobre o heteropatriarcado."

Em abril, o sociólogo foi acusado de assédio sexual por três mulheres. Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Santos teria importunado três alunas da instituição.

Ele nega as denúncias e diz ser alvo de um processo de cancelamento. As vítimas se pronunciaram sobre o ocorrido no artigo "Sexual Misconduct in Academia - Informing an Ethics of Care in the University" -ou má conduta sexual na academia - para uma ética de cuidado na universidade, em português-, publicado em março pela editora Routdlege.

"Exigir objetividade a uma descrição de sobrevivente é um ato de violência", escreveram as autoras, a belga Lieselotte Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro e a americana Mye Nadya Tom. Elas não citam o nome de Boaventura ou do Centro de Estudos Sociais, se referem a um "professor estrela com mais de 70 anos" e dão todas as descrições, próprias do ambiente acadêmico.

Boaventura teria tocado no joelho de uma aluna de doutorado, sugerindo, na sequência, "aprofundar o relacionamento", em troca de seu apoio acadêmico. As denunciantes também relataram abraços longos e excessos de familiaridade.

Em entrevista ao jornal português Diário de Notícias, Santos diz que o homem descrito no artigo é ele mesmo, mas que não foi citado nominalmente por um suposto receio das implicações jurídicas, que atingiriam as alunas. Santos as acusa de querer "lançar lama sobre quem se distingue e luta por um mundo melhor".


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