O preconceito é um dos fatores que promove o apagamento ou o esquecimento das histórias de mulheres negras. Com a intenção de apresentar as histórias de mulheres com origens e gerações diferentes e pertencentes a classes sociais também distintas, o jornalista e colunista da ACESSA.COM, Jorge Júnior,  foi em busca de ouvir  e contar as  histórias de mulheres, que ecoam no documentário: “A Voz da Mulher Negra”, que será lançado nesta terça-feira (25), no You Tube, no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.


A produção é financiada pela Prefeitura de Juiz de Fora, por meio do  edital Quilombagens do Programa Cultural Murilo Mendes da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) e conta com os relatos da advogada e professora Carina Dantas, a cantora Sandra Portella, a jornalista e professora Tâmara Lis, as profissionais de serviços gerais Arlinda Messias e Dulcinéia Borges, a modelo e técnica em necropsia Ludimila Velasquez e a professora e militante Adenilde Petrina. O lançamento neste dia 25 representa muito para Jorge. “É meio que um presente pra sociedade, são muitas histórias bonitas, são vitórias, histórias de superação, histórias de preconceito e cada uma ali carrega essas histórias. Por mais que sejam diferentes, no fundo elas são muito iguais, então, realmente é muito importante, principalmente sendo um Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, eu fico muito feliz com o resultado e espero que as pessoas gostem também”.


Jorge comenta que o fio condutor da produção são as vivências, experiências, dificuldades e conquistas compartilhadas. “O mais legal durante a captação das imagens, das entrevistas, foi perceber que há muitas histórias, mesmo de pessoas diferentes, que nunca se conheceram, que são muito parecidas. É interessante nesse sentido de avaliação mesmo, mas muito triste pensando no dia-a-dia das pessoas negras”, avalia o jornalista.


Jorge conta que a maioria das entrevistadas vieram de fora de Juiz de Fora, para buscar melhores condições de vida. Por ter boas escolas, faculdades, possibilidades de trabalho. Mas isso não é o suficiente para impedir que as mulheres passem por situações de discriminação. “Uma das personagens contou que morava na Rua Halfeld e, por morar na Rua Halfeld, todo mundo achava que ela era a faxineira do apartamento. E, se ela entrava no ônibus, as pessoas já logo perguntavam se ela sabia de alguém que estava precisando fazer faxina. Por estudar em colégio particular, as pessoas já vinham falando: ‘você estuda aqui porque seu pai trabalha onde? Porque você tem bolsa.’ Então, isso é muito comum.” Jorge também afirma que imagem que se constrói de mulheres fortes, guerreiras e que fazem faxina, assim como a do homem negro, que representaria perigo, precisam ser alteradas.


No início, Jorge queria encontrar uma lavadeira, mas relatou que não encontrou mais personagens que carregassem esses estereótipos. “Hoje a gente tem mulheres negras na faculdade, doutoras, médicas, advogadas, jornalistas, influenciadoras. Elas estão em todas as partes e cada uma levantando um grupo, levantando a sua bandeira e correndo atrás dos seus direitos. ”


Estrutural


Jorge Júnior cita outra mulher, a cantora Bia Ferreira, que na Letra da Canção “Cota não é esmola” disse: “Existe muita coisa que não te disseram na escola/ Cota não é esmola/ Experimenta nascer preto na favela/ O que rola com preto e pobre não aparece na TV/Opressão, humilhação, preconceito”. Em outro trecho, ela segue: “E nem venha me dizer que isso é vitimismo/Não bota a culpa em mim pra encobrir o seu racismo”, para ressaltar a forma como o processo de escuta das mulheres mudou a forma dele de pensar e olhar para as pessoas.


“Entender determinadas histórias que realmente, assim, não estão nos livros. As nossas verdadeiras heroínas, os nossos verdadeiros heróis não estão nos livros. A gente não aprendeu isso na escola. A gente vai aprendendo com a vida. Eu aprendi agora”, compartilha o jornalista.


“É muito diferente a gente ouvir das próprias pessoas essas histórias de superação, de preconceito. Eu estava sendo a ponte delas para o documentário, eu tenho uma outra visão, muito diferente. Era eu que estava ali, intermediando, fazendo as perguntas, ouvindo, eu que participei da edição. Foi um aprendizado para mim. Hoje, sempre que eu me deparar com uma situação, eu vou lembrar de tudo que eu vivi ali. Das pessoas que se olhavam no espelho, não se reconheciam, pessoas que tinham medo de sair, pessoas que saíam e sabiam que iam ser questionadas”. Todas essas vivências despertaram em Jorge um olhar distinto para todas as violências, que a princípio soam sutis, mas depois se revelam como parte de uma estrutura.


Jorge ainda reforça que, mesmo com a assinatura da Lei Áurea, em 1888, as pessoas negras permanecem relacionadas às marcas que atingiram seus antepassados. “Por mais que tenha melhorado muito, ainda têm essas marcas, infelizmente. Assim, a proposta do documentário é contar essas histórias, se elas entrarem na cabeça das pessoas que assistirem, já vai ser muito bom.”


Cabelo


Um ponto de atenção nas experiências compartilhadas pelas mulheres, segundo Jorge Júnior, é a centralidade da importância dos cabelos. “O cabelo é muito importante para a mulher, é o desenho do corpo dela e a dificuldade que elas têm em chegar a uma determinada idade e ter um que elas achem bacana, porque o cabelo às vezes é muito fino e ele não cresce, então elas têm que colocar laces, apliques.” As críticas que são atreladas à forma como elas usam os cabelos: “Muitas pessoas falam: ‘mas não é seu cabelo’. Elas compraram, então, os cabelos são delas. Mas há, também, a diversidade, poder trocar o cabelo várias vezes, no ano, no mês, enfim, isso é muito legal e algo muito forte, porque geralmente, antes, elas eram as negras dos cabelos duros, que é algo que elas carregam também.”

 

 

 

 

 

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arte | Cultura | Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribe | Geral | mulher | Mulher Negra | mulheres negras

Divulgação - Documentário estará disponível no YouTube

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