SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Neste domingo (6), a morte de José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, completa um mês. Fundador do Teatro Oficina e um dos nomes mais importantes das artes cênicas no país, o ator, diretor e dramaturgo deixou a cargo do marido, o também ator Marcelo Drummond, a tarefa de preservar seu legado e dar Parte importante dela diz respeito à criação do Parque do Rio Bixiga, sonho antigo de Zé Celso, que queria um parque ao lado do teatro que fundou. O terreno no centro de São Paulo, no entanto, pertence ao Grupo Silvio Santos, e o apresentador tem outros planos para o local, que já chegou perto de virar shopping center.

Por anos, o dramaturgo conseguiu impedir a construção, reivindicando o espaço de 11 mil metros quadrados, equivalente a um campo e meio de futebol, para a construção de uma área verde para a cidade. Agora, diz Marcelo Drummond, a briga pelo parque continua.

"Eu venho recebendo muitas promessas, de gente com vontade de fazer o parque acontecer, não só como homenagem ao Zé, mas porque é uma área que precisa de um parque", diz o ator do Oficina. "Mas não espero que o Silvio Santos mude de opinião. O negócio com ele e a família é 'pagou, levou'. Eles não estão contra a gente, eles querem grana. Topa tudo por dinheiro, é um quadro dele mesmo", diz, citando a atração exibida pelo SBT nos anos 1990.

Neste fim de semana, Drummond disse ao UOL que Silvio Santos é "um escroto que conseguiu uma televisão, uma concessão de televisão durante a ditadura militar". À Folha, ele reforça o que pensa sobre o apresentador: "O puxa-saquismo na ditadura é verdade, todos nós sabemos disso".

"Se ele sentiu ou não sentiu a morte do Zé, eu não sei. Talvez ele até entenda a dor que eu sinto, mas nem por isso vai mudar de opinião ou dar o terreno. Não espero nada dele nem do prefeito ou do governador. Quando era o PSDB, era outra coisa. Eles podiam não concordar com o Zé, mas davam importância à discussão. Agora tudo está muito obscuro", afirma ainda, em referência ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

De acordo com Drummond, várias personalidades o abordaram e se dispuseram a ajudar na batalha pelo parque, mas houve pouco avanço desde a morte de Zé Celso.

O ator, que casou com o dramaturgo no mês passado, falou com a reportagem após entrar no apartamento onde os dois moravam pela primeira vez desde o incêndio que matou Zé Celso. Ele diz que o imóvel está sujo e que muitos pertences foram prejudicados pelas chamas, mas que já começou a reorganizá-lo.

Na próxima semana, ele pretende levar uma equipe de limpeza especializada para analisar manuscritos e outros materiais de Zé Celso, para que depois sejam encaminhados à casa de produção do Oficina.

"É um momento muito difícil, de ter que viver o luto. E do jeito que foi, né? Tem momentos que estou mais forte, mas por ter entrado no apartamento agora, estou num momento frágil", diz com a voz embargada.

Além do apartamento e do parque, Drummond também se preocupa com o futuro do Oficina, que segue com a programação previamente montada. "Queda do Céu", espetáculo que Zé Celso planejava lançar ainda este ano, também deve sair do papel. Reuniões estão sendo feitas para dar continuidade aos planos.

Neste domingo, João Carlos Martins e a escola de samba Vai-Vai farão uma homenagem em frente ao Oficina, na rua Jaceguai, a partir das 12h.


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