SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma olhada na lista de marcas que desfilam na edição da São Paulo Fashion Week que começa nesta quarta-feira (8) e se estende até domingo (12) mostra muitos nomes desconhecidos do público.
São etiquetas que produzem peças exclusivas sob encomenda, a exemplo de Renata Buzzo e seus vestidos obras de arte, ou então para uma clientela bem específica, como a Bold Strap e sua moda queer de regatas semitransparentes e arreios de couro de apelo sexual.
Das 38 grifes prontas para ocupar as passarelas no shopping Iguatemi, no Komplexo Tempo e em algumas locações externas da capital paulista, apenas um punhado já furou a bolha fashionista, a exemplo da Handred ?a marca carioca, com lojas de rua e em vários shoppings, vai mostrar uma coleção inspirada no mestre do móvel moderno Sergio Rodrigues, com peças em couro e patchwork de seda.
Em sua edição de número 56, a São Paulo Fashion Week vive um momento em que algumas etiquetas que atingiram o estrelato com a ajuda das suas passarelas agora lhe viram as costas, como é o caso da super hypada Misci, que mostrou a nova coleção num desfile independente.
Mas isto não impossibilita a existência de uma fila de marcas menores ansiosas por exibir seus looks no evento de maior visibilidade da moda nacional ?nesta edição, todos os desfiles são presenciais.
O desejo de fazer parte, diz Paulo Borges, o fundador da semana de moda, acontece porque "a passarela ainda é o grande lugar da narrativa e os desfiles são autênticos".
Segundo ele, ao desfilarem no evento as marcas constroem rapidamente a sua reputação e uma percepção para o mercado, acelerando o crescimento. Borges cita como exemplos mais recentes de ascensão a partir da semana de moda a Handred e também a Neriage, grife conhecida por seus vestidos plissados, e menciona casos de sucesso do passado, como Osklen, Cavalera e Fause Haten.
Borges acrescenta que as marcas jovens de hoje não necessariamente querem uma expansão comercial ilimitada, como era o modelo de negócio da moda nos anos 1990, representado por Forum e Ellus.
"Se você pergunta para os jovens estilistas o que eles buscam, eles falam 'ser feliz'. Eles não precisam ter três lojas. Para ter o reconhecimento do público que eles querem, eles podem customizar a demanda. A [marca] Another Place é um sucesso, e ela não tem uma loja física. Nasceu na internet, onde tem uma penetração e influência enormes."
Sobre as etiquetas estabelecidas que optam por desfilar de forma independente, criando seu próprio calendário de lançamento, Borges afirma que isto é uma decisão de cada estilista e uma maneira de chamar a atenção só para si, como se as marcas não precisassem de mais ninguém e se bastassem.
Cinco nomes estreiam nesta São Paulo Fashion Week ?João Maraschin, com vestuário de técnicas manuais como o crochê e o bordado, Mateus Cardoso, que trabalha uma alfaiataria moderna, Artemisi, etiqueta vestida por celebridades como Ludmilla e Luisa Sonza, Sau, de moda praia feminina, e Hist.
A etiqueta da cearense Giuliana Braide, cujo nome é a sigla para "how I see things", ou como vejo as coisas, é uma das estreias mais esperadas. Com menos de três anos de existência e um ponto de venda no bairro paulistano de Pinheiros, a marca conquistou uma clientela de jovens urbanos fissurados pela sua mistura de streetwear e alfaiataria em peças fáceis de usar.
São camisetas, regatas, moletons e jaquetas de caimentos amplos, como manda a cartilha do streetwear. "Fazer modelagem unissex boa é muito difícil", afirma a estilista de 26 anos, formada em negócios de moda em Nova York.
Intitulada "Voyeur", a sexta coleção da Hist é uma narrativa sobre a adaptação e a sobrevivência na Terra, com looks em tons terrosos e ampla linha de acessórios ?óculos escuros, seimijoias e bolsas.
Outro desfile sensação é a volta de Helô Rocha, a estilista que ficou pop ao desenhar o vestido de casamento de Janja com Lula e, depois, um dos looks que a primeira dama usou no dia da posse do presidente.
Na passarela a ser montada no Teatro Oficina, em homenagem a José Celso Martinez Corrêa, que morreu há pouco, o público verá uma retrospectiva de looks da marca nos últimos anos, com foco no carro-chefe ?os vestidos.
"A gente faz alta costura à brasileira. Tudo é feito à mão, sob medida. É um trabalho têxtil de crochê, bordados de linha, bordados de pedraria, uma mistura de técnicas de trabalhos manuais", conta Rocha, que capitaneia a marca com sua sócia, Camila Pedroza.
Já João Pimenta, tradicional designer de moda, conta ter trabalhado bastante a construção das roupas, criando uma estética desconhecida para seu cliente ?as peças da nova coleção têm ombros grandes e afunilam como lápis.
"Estamos vivendo um momento da moda em que parece que só o que você quer dizer já é o suficiente. Mas roupa não é só comunicação. É construção, tem o acabamento, a modelagem", ele afirma, enaltecendo o trabalho minucioso de ateliê.
Conceitualmente, Pimenta quer questionar a brasilidade em seu trabalho e, para isso, pensou no barroco e no minimalismo, dois movimentos opostos, na hora de criar os novos modelos, que terão somente três cores ?branco, preto e dourado, numa leitura de Brasil longe do ufanismo verde e amarelo.
"A gente está sempre em busca da imagem da moda brasileira, mas não consegue identificar. A roupa francesa e italiana você já fala ?isso é desse lugar?. A nossa aqui é muito misturada. O que seria uma moda com cara de Brasil?"
SÃO PAULO FASHION WEEK 56
Quando De quarta (8) a domingo (12)
Onde Shopping Iguatemi, Komplexo Tempo e locações externas
Preço Ingressos a partir de R$ 300
Link: https://spfw.com.br/
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