Resident Evil 4 – Recomeço
Quando é anunciado que um game será adaptado para filme, a grande preocupação da equipe envolvida no projeto é conseguir transferir para as telas não só as personagens e as narrativas, mas também permitir que o espectador vivencie o filme da maneira mais próxima possível a que ele vivencia no jogo.
Esse é um dos motivos pelos quais muitas adaptações de jogos são verdadeiros fracassos. Porém, Resident Evil é uma das poucas adaptações bem sucedidas financeiramente e chega agora a sua quarta parte.
Salvando as diferenças básicas dos meios game e cinema, Resident Evil 4 - Recomeço consegue trazer para as telas algumas características do jogo, mas na hora de organizar e utilizar a gramática cinematográfica comete alguns erros significativos e comprometedores.
Nesse quarto filme, que é uma sequência direta do anterior, Alice consegue destruir e matar o líder das Umbrella Corp. e volta a ser humana, partindo em busca da cidade de Arcádia, refúgio humano livre de infecção. Mas, ao chegar no local, Alice encontra algo de errado e volta para Los Angeles, onde ajuda alguns sobreviventes e tenta descobrir onde realmente encontra-se Arcádia e o que ela é.
Para quem assistiu aos filmes anteriores, fica claro a semelhança de cada filme como uma fase do jogo, com uma ligação direta entre um e outro e sem um final conclusivo. Mas tal artifício só funciona com os fãs do game, que conhecem a mitologia e a história. Para um não iniciado, as dúvidas custam a ser respondidas e o filme fica chato.
Com uma sequência inicial repleta de ação e bastante estilizada, Resindent Evil 4 perde ritmo e fica quase quarenta minutos exclusivamente com cenas internas de diálogos, sem criar tensão. E tensão é um artifício importantíssimo em filmes de ação/terror. A ação só volta a acontecer aproximadamente aos cinquenta minutos, deixando a impressão de que assistimos a dois filmes distintos sobre o mesmo universo. Falta unidade rítmica e narrativa.
As referências aos filmes anteriores e a personagens também privilegiam os conhecedores da saga, o que pode ser bom e ruim. Apesar de lembrar o jogo ser uma virtude, a adaptação de game precisa também ser cinema, e Resident Evil 4 não consegue ser os dois de maneira satisfatória.
Rafael Tavares é diretor, produtor e roteirista audiovisual, formado em Produção Audiovisual e pós-graduando em TV, Cinema e Mídias Digitais
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