Homens em Fúria deixa marcas, porém superficiais
Permeado por questões existencialistas, Homens em Fúria traz à tona sentimentos profundos da alma humana, como as frustrações de uma vida, a crença em alguma força divina e a dificuldade de julgamento entre o bem e o mal. Para ambientar esses questionamentos, o diretor John Curran optou por cenas de natureza angustiante, com cortes secos e inúmeros closes em diversos detalhes. Opção boa para esse tipo de trama.
Mas apesar de algumas escolhas certas, o maior pecado está no enredo. Mesmo com uma proposta extremamente profunda e um elenco promissor, a história ficou um pouco superficial, na verdade, ela foi pouco potencializada, transformando o filme em uma obra que pretendia mais do que foi capaz de transmitir. Paralelamente, inúmeras questões ficaram sem resposta. Em muitos filmes, essa característica não se configura como um problema, mas para obras que seguem uma linha mais clássica (com início, meio e fim lineares), surge a impressão de que alguma coisa ficou esquecida.
O filme conta a história de Jack (Robert De Niro), um agente penitenciário responsável pela liberação de condicionais e amargurado com a vida que, na reta final de sua carreira, fica encarregado de analisar o pedido de Stone (Edward Norton), um sujeito enigmático, que não nos permite definí-lo como louco, gênio ou arrependido. Toda essa situação é circundada por questões que abrangem comumente a vida do agente e a do presidiário, cada um em sua realidade, tão distintas e tão semelhantes em alguns momentos.
Obviamente devemos mencionar a atuação de Edward Norton, que além de fazer um belo trabalho com a voz, incorporou com muita naturalidade os sotaques e trejeitos essenciais para a criação de seu personagem. Destaque também para Mila Jovovich que finalmente, após muito tempo, encarou um personagem mais humanizado, bem diferente de seus últimos papéis, como a exterminadora de zumbis da franquia Resident Evil e do lunático Contatos de Quarto Grau (2009).
Já Robert De Niro novamente aparece naquele papel do cara amargo e rancoroso com a vida. Não que sua interpretação tenha sido ruim, apenas o trouxe às telonas em uma caracterização estigmatizada novamente.
Apesar dos deslizes do roteiro, vale dar um destaque para a utilização dos efeitos sonoros. Bem escolhidos e encaixados, foram elementos essenciais para a compressão e localização dramática da trama, além de compensarem, sem defasagem, a ausência de trilha sonora.
Apesar de sua pretensão ser maior que sua execução, Homens em Fúria é um filme que não surpreende, mas que também não nos decepciona por isso. Apenas passa por nós sem deixar muitas marcas, mesmo parecendo ser essa a sua maior intenção.
Ficha Técnica
Stone/ Homens em FúriaEUA, 2010 – 105 minutos
Drama
Direção: John Curran
Roteiro: Angus McLachlan
Elenco: Edward Norton, Milla Jovovich, Robert De Niro, Frances Conroy, Enver Gjokaj, Liam Ferguson, Pepper Binkley, Richard Goteri, Sarab Kamoo.
Produção: David Mimran, Jordan Schur, Holly Wiersma
Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos.
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