And the Oscar goes to... "1917"
Uma das coisas mais lindas de ser um apaixonado pela arte, é que o benefício que ela nos traz preenche a alma de alegria. Meu coração escolheu para amar aquela que foi apelidada de a "sétima arte": o cinema. Quantas e quantas vezes fui a uma sala simplesmente porque queria chorar, ou para ter a sensação de viver um pouquinho que fosse uma outra vida.
Eu tenho o pensamento de que os grandes trabalhos cinematográficos, os mais memoráveis, não são aqueles que contam as mais incríveis, ou belas, ou terríveis histórias. Não. Assim como os livros de um José Saramago, ou as músicas de Mozart, não são somente histórias ou melodias. São arte. Mostram um estilo de fazer, uma criação visionária. Maravilhosas em si. Fantásticas por serem. Como se esculpidas. Alguns trabalhos cinematográficos são assim. Cada segundo da película pensado para ser incrível e correto.
Na atualidade, vez ou outra, nos deparamos com o imenso prazer de estar diante de obras assim nas telas, entregues a nós por grandes mestres. E esse é o caso do diretor Sam Mendes, com seu "1917".
No início do ano de 1917, nos tempos da 1ª Guerra Mundial, os jovens cabos do exército britânico, William Schofield (George MacKay) e Tom Blake (Dean-Charles Chapman), recebem a missão de avisar o Segundo Batalhão de Devonshire para não atacarem o exército alemão, pois, apesar de parecer que sairiam vitoriosos, tratava-se de uma armadilha e eles seriam vítimas de um massacre.
Eu senti muita vontade de escrever este texto para, quem sabe, atingir quase que uma catarse, falando sobre o quanto "1917" é um fenômeno de genialidade e criatividade, e quem sabe convencer pessoas a irem e viverem esse momento de emoção.
Sam Mendes, diretor e roteirista, decidiu contar a história em tempo real. Ou seja, desde a primeira chamada do Cabo Blake, até a efetiva entrega da mensagem ao Coronel Mackenzie (Benedict Cumberbatch), responsável pelos "Devons". Porém, isso não seria possível, considerando o tempo médio de uma sessão de cinema, e o tempo necessário para os soldados irem de um ponto ao outro. Então, o que o diretor faz. Ele divide o filme em três partes. O caminho até a localidade francesa de Écoust. A cena que ali se passa. E o após.
Primeiramente, "1917", que tem como pano de fundo um dia no penúltimo ano da guerra, nos apresenta, com beleza fotográfica magistral, direção e escolhas de posicionamento primorosos, a alguns dos horrores aos quais os militares foram submetidos em um dos piores períodos bélicos da história. Mostra também, de maneira muito digna e muito respeitosa, as diferenças de opiniões dos dois camaradas, que têm visões opostas de tudo o que está acontecendo, bem como valores diferentes sobre a forma como um país trata aqueles que lutam e entregam suas vidas por uma causa que, em sua maioria, eles nem entendem do que se trata. O roteiro faz essas colocações de maneira muito feliz. O filme não é tendencioso, mas crítico.
A divergência de pensamentos entre os companheiros culmina no início do segundo momento do longa, sua parte lúdica, quando Écoust entra em cena. Sam Mendes utiliza essa passagem para as horas que não poderiam decorrer durante o filme. E também é na comuna que acontecem cenas que são passíveis de entrarem para a história do cinema mundial. Tudo é tão belo! As passagens ali parecem pinturas, ou imagens de cinema antigo, com cores muito fortes, e poucas delas, para ficarem bem realçadas. A solidão daquele soldado beira o palpável. É muito bem passado esse sentimento dele. Assistimos às chamas, e a perplexidade de um jovem, que parece não acreditar que tudo aquilo está acontecendo.
O ápice do filme fica por conta de sua terceira parte, quando vemos aquele rapaz extrapolar todos os seus limites para fazer valer a vida e a memória de seu amigo. Foi extremamente emocionante assisti-lo. Eu chorei nessa hora, e estou trêmulo ao me lembrar.
"1917" é o melhor filme de 2019. Merece todos os prêmios aos quais foi indicado ao Oscar (10, ao todo). E é um dos melhores trabalhos cinematográficos dos últimos tempos.
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