Lenine volta a Juiz de Fora com a turnê Chão

O trabalho, que possui uma musicalidade especial, tem a manipulação de sons como as batidas de um coração, o canto das cigarras e o ruído de uma chaleira

Andréa Moreira
Repórter
2/5/2013
Lenine

Depois de percorrer dezenas de cidades do Brasil e países como Chile, Argentina, Uruguai e França a turnê Chão, do músico Lenine, chega a Juiz de Fora nesta sexta-feira, 3 de maio, a partir das 23h, no Cultural Bar. O show, que tem o apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc) tem preços promocionais a partir de R$ 10.

Em entrevista ao Portal ACESSA.com, Lenine, que este ano comemora 30 anos de carreira, revela que sua trajetória foi construída com o apoio de muitos parceiros. "Foi um amigo que me avisou sobre a conspiração das datas: não são apenas 30 anos de Baque Solto, minha estreia ao lado de Lula Queiroga, em 1983, mas também 20 anos de Olho de Peixe, parceria com Marcos Suzano, em 1993, além dos 15 anos, completados ano passado, de O dia em que faremos contato. Eu olhei para trás, gostei do que vi, e percebi que minha trajetória foi costurada por essa coletividade. Todas as relações que estabeleci deixaram uma relação de afeto e de carinho. Porque não celebrar isso?".

O álbum Chão, que dá nome de sua turnê, é o décimo trabalho do cantor e traz nas faixas a manipulação de sons como as batidas de um coração, o canto das cigarras, o ruído de uma chaleira e a derrubada de uma árvore por uma motosserra. "O desejo inicial foi o de fazer um projeto sem bateria nem percussão. Nada contra os bateristas e percussionistas – até porque meu trabalho é impregnado de ritmo – mas isso era só uma janela que eu imaginava que poderia me abrir outros relevos sonoros, simples assim. Frederico VI, o canário belga de minha sogra, foi o grande culpado! Sim, estávamos gravando um primeiro lote de canções, mas a porta ficou aberta. Quando fomos ouvir, ele não apenas interferiu, como solou, fez arranjos lindos para a música, que é outra característica do Chão: nenhum desses sons foi manipulado, nenhum desses sons foi editado. Eu, na verdade, construí as canções em cima desses áudios originais, o que é um processo inverso da música concreta, por exemplo, do Pierre Henry," revela Lenine.

Parceria

Outro destaque deste trabalho, é a parceira que o artista fez com seu filho Bruno Giorgi, que além de produtor do álbum, também divide o palco com Lenine na turnê. O músico, que também é pai de João Cavalcanti, vocalista da Banda Casuarina, revela ao Portal ACESSA.com a emoção de ter uma família tão musical. "É uma alegria! O Bruno e João sempre me provaram uma competência, além da idade. Interessados não só por arte, mas pelas ferramentas que nos possibilitam fazer arte. Sempre fomos muito presentes. O João comemora dez anos de estrada com a banda Casuarina e o Bruno já produziu comigo, anteriormente, e a novidade, dessa vez, foi estarmos juntos em todo esse processo, cair na estrada mesmo. Sou muito criterioso, não seria só pelo laço familiar que criaria com um filho, que estaria com ele profissionalmente. É uma excelência," destaca.

A turnê ainda traz a releitura de sucessos consagrados, como A ponte, Jack soul brasileiro, Leão do Norte e Paciência. Segundo Lenine, essas canções nunca podem faltar. Entretanto, tudo está diferente, dentro da atmosfera sonora de Chão. "A turnê segue seu caminho, usando os sons e ruídos do meu cotidiano como parte importante da base rítmica das canções. O show tem essa atmosfera, e explora recursos como o surround, para proporcionar ao público uma espécie de experiência sensorial."

Turnê Chão Turnê Chão

Produção

Com direção musical do próprio Lenine, em parceria com Bruno Giorgi e JR Tostoi, o show tem Paulo Pederneiras como diretor de arte do espetáculo, o qual criou um cenário em tons vermelhos, que ocupa apenas o chão da caixa cênica, em contraste com o entorno totalmente negro. Três lâmpadas direcionadas para os músicos, compõem a cena do espetáculo.

O artista

O pernambucano Oswaldo Lenine Macedo Pimentel nasceu no dia 2 de fevereiro de 1959. Influenciado pelas manifestações culturais do Brasil, Lenine se autodenomina recifense-carioca. Segundo o cantor, a mudança para a capital fluminense, quando ele tinha apenas 20 anos, aconteceu por necessidade em aprofundar sua carreira. "Naquele momento existiam duas opções: Rio ou São Paulo. Minha ligação com o mar me trouxe para o Rio," destaca o cantor, ressaltando que, neste período, muitas coisas mudaram no cenário musical brasileiro. "Com a consolidação da internet, começa a acontecer uma descentralização muito benéfica, que permitiu que novas gerações não precisassem sair de seus lugares de origem pra tentarem uma carreira artística no Rio ou São Paulo. Criar um mercado interno foi uma maravilhosa saída! E isso vem se propagando numa progressão geométrica por todo o mundo. O universo digital nos deu tudo, os meios de produzir, de propagar e de chegar a todos, de maneira ampla e democrática. Hoje falamos da música do Pará, da música da Paraíba, do Rio Grande do Sul... e Pernambuco tem uma certa culpa neste processo."

Nos 30 anos de carreira, Lenine lançou dez discos, além de dois projetos especiais e inúmeras participações em álbuns de diversos artistas. O cantor também produziu CDs de Maria Rita, Chico César, Pedro Luís e a Parede, do cantor e compositor cabo-verdiano Tcheka; e teve suas canções gravadas por referências musicais, como Elba Ramalho, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Maria Rita, O Rappa e Zélia Duncan. Nesse tempo, o artista coleciona cinco prêmios Grammy Latino; dois da Associação Paulista de Críticos de Arte e nove Prêmios da Música Brasileira.

Em JF

Sobre o show em Juiz de Fora, Lenine revela ter um carinho especial pela cidade e acredita fazer mais uma grande apresentação. "Sempre que volto à cidade sou muito bem recebido, gosto muito de Juiz de Fora, especialmente do público mineiro."

ACESSA.com - Lenine volta a Juiz de Fora com a turn? Ch?o