SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois em cada três brasileiros beneficiados pelo Auxílio Brasil não pegaram e não pretendem contratar o empréstimo consignado direcionado a esse público, segundo pesquisa Datafolha.
São 15% os que declaram já ter feito o empréstimo nessa modalidade. Outros 13% não fizeram, mas pretendem contratar a linha de crédito. Outros 66% não fizeram e não pretendem pegar esse crédito, de acordo com o levantamento realizado nos dias 19 e 20 de dezembro.
Na pesquisa anterior sobre o tema, de 25 a 27 de outubro, 18% declararam já ter feito o empréstimo. Outros 19% não haviam feito, mas pretendiam contratar a linha de crédito. Eram 58% os que não pretendiam fazer.
Segundo o Datafolha, a diferença entre as duas pesquisas no percentual dos que não pretendem fazer o empréstimo está no limite da margem de erro, de 4 pontos percentuais nesse público.
Segundo o Datafolha, a parcela dos que não pretendem pegar o empréstimo é majoritária em todos os recortes socioeconômicos.
A rejeição é maior entre mulheres que recebem o auxílio (70%) do que entre os homens (60%) beneficiados, em pessoas com ensino superior (94%) e donas de casa (75%). É menor entre desempregados (61%), autônomos (60%) e pessoas com ensino fundamental (62%).
Entre as pessoas entrevistadas, 25% recebem ou moram com alguém que conta com o benefício assistencial.
Foram realizadas 2.026 entrevistas em todo o Brasil, distribuídas em 126 municípios. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
VAIVÉM DO CONSIGNADO
Os empréstimos do consignado do Auxílio Brasil somaram cerca de R$ 5 bilhões em outubro, de acordo com dados do Banco Central. A Caixa respondeu por R$ 4,3 bilhões liberados entre o início da operação, em 11 de outubro, e o dia 21 do mesmo mês.
Os números se referem a menos de 30 dias, pois a modalidade foi lançada no dia 11 de outubro e suspensa antes do segundo turno das eleições, após recomendação do TCU (Tribunal de Contas da União). No dia 14 de novembro, a Caixa voltou a liberar a modalidade de crédito.
A liberação do consignado foi usada como trunfo na campanha de reeleição de Jair Bolsonaro (PL). Após a derrota do presidente nas eleições, porém, a Caixa passou a restringir a concessão de crédito.
O início da liberação do consignado do Auxílio Brasil foi marcado por reclamações de crédito cancelado, demora na liberação do dinheiro, cobrança de taxa extra e sobrecarga nos sistemas da Caixa.
Também houve relatos de desconto indevido da parcela de beneficiários que não pediram o crédito. Além disso, o contrato que aparecia no aplicativo Caixa Tem informava que o primeiro pagamento seria em dezembro, mas a cobrança já era devida a partir de novembro.
O gabinete de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informou que vai acionar legalmente o governo Jair Bolsonaro após ter detectado indícios de abuso de poder econômico durante as eleições por meio do Auxílio Brasil.
Um comitê formado por funcionários e ex-dirigentes da Caixa alertou o presidente eleito sobre o risco de superendividamento de famílias de baixa renda com a concessão de empréstimos consignados para esses beneficiários.
COMO FUNCIONA O EMPRÉSTIMO CONSIGNADO DO AUXÍLIO BRASIL
O consignado é um crédito descontado direto do benefício. Com isso, todos os meses, o beneficiário recebe valor menor, até que pague o empréstimo. Pelas regras aprovadas, é possível emprestar até 40% do benefício, o que dá um limite de R$ 2.569,34, em 24 vezes.
O valor máximo mensal a ser pago é de R$ 160. Esse valor é descontado do benefício-base, de R$ 400 --e não sobre os R$ 600.
Embora o crédito consignado tenha juros baixos, o empréstimo ligado ao Auxílio Brasil é 87% mais caro que o crédito para aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que tem taxa de até 2,14% ao mês para desconto direto do benefício.
A taxa de juros do crédito do Auxílio é limitada a 3,5% ao mês, o que dá 51,11% ao ano. A menor taxa mensal é a oferecida pela Caixa, de 3,45% ao mês.
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