BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A tarifa de Itaipu vai ser revista, e para cima, avisa o novo diretor-geral de Itaipu, Enio Verri. O valor de US$ 16,19/Kw (R$ 85,62 por kilowatt) está em vigor desde 1º de janeiro no Brasil, mas foi fixado unilateralmente pela gestão bolsonarista, sem consultar o sócio paraguaio. A tarifa acertada entre os dois países no ano passado foi de US$ 20,75/kW (R$ 109,73).
Quando o valor foi anunciado, como uma herança positiva do governo passado, especialistas da área de energia já alertavam que o novo governo teria o ônus político de aumentar a tarifa.
"A grande questão é que dificilmente o Paraguai vai concordar em baixar para US$ 16. O valor está diretamente relacionado à receita do país, e eles estão em processo eleitoral, a conjuntura não é a melhor para isso", disse Verri em entrevista à Folha.
"Claro que o meu papel como diretor-geral de Itaipu é tentar, ao máximo, a tarifa mais barata possível para o Brasil."
Apesar de a energia produzida por Itaipu ser dividida meio a meio entre os dois países, o Paraguai não consome toda a sua parte e, ao final, os brasileiros do Sul, Sudeste e Centro-Oeste consomem 85% da energia distribuída, com impactos na conta de luz dessas regiões.
Verri tomou posse nesta quinta-feira (16), numa cerimônia prestigiada por técnicos do setor, políticos e representantes dos governos dos dois lados da fronteira, incluindo os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Mario Abdo Benítez.
Verri reforçou que o conselho de Itaipu será formado por maioria de ministros, conforme noticiado pela Folha. Segundo ele, na terça-feira, quase todos os nomes foram confirmados numa reunião com o presidente Lula e os ministros Alexandre Padilha, Rui Costa e Alexandre Silveira.
"Não vou dizer todos os nomes, porque o presidente pediu para dar uma olhada final, mas até ontem [quarta] o conselho era formado 100% por ministros", afirmou. "Essa escolha busca mostrar a importância de Itaipu num importante momento de negociação."
A partir deste ano, os representantes de Brasil e Paraguai em Itaipu terão a missão de participar da renegociação do chamado Anexo C do tratado bilateral, que rege a estrutura financeira da empresa e de comercialização da energia da usina.
As tratativas devem começar após a posse do novo presidente do Paraguai, que ocorre em agosto. Neste momento o país está concentrado na campanha eleitoral. Um dos temas que será discutido na renegociação é se haverá alteração na forma de calcular a tarifa da hidrelétrica. Hoje a usina não dá lucro e o valor que vai para conta de luz deve apenas cobrir as despesas da binacional.
Verri conta que os novos diretores ainda estão sendo escolhidos, mas confirma dois nomes.
Para a Diretoria de Coordenação vai o advogado Carlos Carboni, ex-chefe de gabinete da Casa Civil quando Gleisi Hoffmann foi ministra. A Diretoria Jurídica ficou com o também advogado Luiz Fernando Delazari, ex-secretário de Segurança do Paraná.
O novo diretor-geral avisa que pretende rever a gestão da chamada missão socioambiental de Itaipu.
Especialmente durante o governo bolsonarista, os recursos dessa rubrica cresceram exponencialmente para bancar obras na área de influência da usina, o que significa todo o Paraguai do outro lado da fronteira e o Paraná, no Brasil. A usina financia a nova ponte Brasil-Paraguai, além de estradas e pista de aeroporto, entre outros empreendimentos que são de responsabilidade do Estado.
"O problema, nos últimos anos, é que ficaram os projetos de infraestrutura e não foram feitos, na mesma proporção que anteriormente, os investimentos na questão socioambiental. Não dá para dizer que isso foi ruim, mas não é a missão de Itaipu", disse Verri.
"Vamos retomar a missão de Itaipu, então, vai ocorrer uma reconfiguração nos investimentos, onde vamos retomar a agricultura familiar, o trabalho com os pescadores, a política regional de crescimento, sempre casada com os programas de governo do presidente Lula, que foi eleito com a proposta de promover políticas sociais", afirmou.
"Isso não quer dizer que não vamos fazer mais obras, mas que as prioridades são projetos ambientais e sociais."
Uma das metas, destaca Verri, é retomar as obras da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), em Foz do Iguaçu, que estão suspensas. Segundo ele, a universidade é um exemplo de investimento em infraestrutura com potencial multiplicador social que atende a política do atual governo.
"A obra está parada há tanto tempo que nem sei se vamos conseguir aproveitar o que está lá", diz ele. "Mas a Unila é um projeto importantíssimo para um país que defende a integração regional. Hoje, no discurso da posse, o presidente Lula insistiu para que, trabalhando com o ministro Camilo [Santana, da Educação], a gente retome as obras.
Verri adianta que considera "pouco provável" atender um dos pleitos do setor elétrico brasileiro: tentar liberar a energia da binacional no mercado livre durante a revisão do Anexo C.
"Itaipu produz 8,5% da energia elétrica do Brasil e serve de ponto de equilíbrio", diz ele. "O mercado livre oscila, e oscila muito. Agora, o preço está lá embaixo, porque temos abundância de chuva, mas quando chegar uma seca, como tivemos em 2021, ele vai lá para cima."
Verri explica ainda que Itaipu precisa continuar atuando como "bombeiro" do sistema elétrico nacional.
"Quando cai uma torre, por exemplo, e é preciso cortar a energia daquela região, quem entra para fazer o abastecimento é Itaipu", diz ele. "Então, Itaipu tem um papel de Estado, uma atuação estratégica, e não há como trabalhar pela lógica do mercado livre. Precisa mentar a lógica atual."
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