SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um novo gigante financeiro global foi criado neste domingo (19). Quando finalizada, a compra do Credit Suisse pelo UBS, por US$ 3,25 bilhões, vai criar um novo banco com uma carteira de US$ 5 trilhões em recursos administrados. Será o terceiro maior da Europa neste segmento, e o 11º no ranking mundial de gestão de recursos de terceiros, segundo estimativa do próprio UBS.

Na noite deste domingo, a diretoria do UBS realizou uma teleconferência com analistas para dar mais detalhes sobre a operação. Segundo Ralph Hamer, CEO do banco, a fusão não estava nos planos. Mas acabou se tornando uma oportunidade.

Isso porque o preço a ser pago, de 0,76 franco suíço por ação do Credit Suisse, representa um desconto de 60% em relação à cotação de fechamento da última sexta-feira (17), de 1,86 franco.

"A fusão foi uma decisão dos reguladores suíços, e neste cenário, procuramos uma forma de fechar o acordo. Além do preço, temos garantias regulatórias, e podemos garantir que a operação será vantajosa para os nossos acionistas", disse Hamer. O UBS projeta um crescimento de 74% no valor patrimonial do banco logo após a conclusão da transação.

Este é um ponto importante, já que o governo da Suíça terá que mudar, de forma abrupta, uma regra de governança corporativa importante para o mercado de capitais. A fusão não precisará da aprovação dos acionistas do UBS para ser concretizada. Pela regra tradicional, os detentores de ações do banco teriam prazo de seis semanas para votar sobre a transação.

Os reguladores do sistema financeiro da Suíça darão também suporte financeiro para o UBS. Serão 25 bilhões de francos suíços (US$ 27 bilhões) em recursos disponibilizados, dos quais 15,8 bilhões de francos em títulos do banco que serão comprados pelo órgão regulador Finma. O valor será incorporado ao capital do UBS.

Este montante se soma a "um valor significativo" que será disponibilizado pelo SNB (banco central da Suíça). Segundo fontes ouvidas pelo Financial Times, será oferecida uma linha de US$ 100 bilhões para dar liquidez às operações do Credit Suisse adquiridas pelo UBS.

"Na sexta-feira, a disponibilização de uma linha de liquidez e a volatilidade das ações mostraram que não era mais possível restaurar a confiança do mercado no Credit Suisse, e uma solução rápida e estabilizadora era absolutamente necessária", disse o presidente suíço Alain Berset, em entrevista coletiva em Berna na noite deste domingo. "Essa solução foi a aquisição."

Mas os próprios executivos do UBS esperam algumas dificuldades. Entre elas, possíveis ações judiciais de acionistas do banco questionando a forma como foi conduzida a fusão. "Fomos chamados a fechar o acordo rapidamente, em um fim de semana. Já esperamos alguns questionamentos", afirmou Hamer.

Vincent Kaufmann, executivo-chefe da Fundação Ethos, disse ao Financial Times que a decisão de evitar a votação pelos acionistas no acordo viola as boas práticas de governança corporativa. A fundação representa os fundos de pensão suíços, que possuem entre 3% e 5% do Credit Suisse e do UBS, .

"Não acredito que nossos membros e acionistas do UBS ficarão felizes com isso", disse ele. "Nunca vi medidas desta natureza, e isso mostra o quão ruim é a situação."

Outra dificuldade deve ser a venda de ativos e operações do Credit Suisse que não interessam ao UBS. "Queremos manter nosso foco naquilo que já somos fortes, na área de gestão de recursos, inclusive de fortunas", disse Hamer, que continuará como CEO do banco resultante da fusão. Colm Kelleher também continua como presidente do conselho de administração.

Mas a aquisição deve acelerar o crescimento do UBS em mercados onde o Credit Suisse tem atuação importante, inclusive América Latina e Estados Unidos. "Já estávamos em processo de crescimento próprio nestes mercados. Agora, vamos acelerar este caminho", projeta Hamer.

Quanto ao corte de custos, os executivos do UBS afirmam que há uma grande oportunidade de sinergias, principalmente dentro do mercado europeu. Eles explicam que o valor de US$ 8 bilhões é uma média projetada até 2027, mas o ritmo destes cortes vai depender do conhecimento mais detalhado das operações do Credit Suisse após a fusão.

A fusão foi apressada após a situação do Credit Suisse se agravar, mesmo com a abertura de uma linha de liquidez de US$ 54 bilhões pelo SNB. Os saques feitos por correntistas do bancos superaram os 10 bilhões de francos suíços por dia no final da semana passada, informou o Financial Times. Os clientes retiraram 111 bilhões de francos suíços do grupo nos últimos três meses do ano passado.

Em depósitos e empréstimos, o novo banco também terá números significativos. Segundo o UBS, com a fusão, a instituição passa a ter 333 bilhões de francos suíços (US$ 360 bilhões) em depósitos, e uma carteira de crédito de 307 bilhões de francos (US$ 331 bilhões).

Ainda de acordo com os executivos do UBS, o SNB e a Finma estão em contato com os órgãos reguladores dos outros países onde o Credit Suisse tem operações para garantir uma aprovação conjunta da fusão.


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