SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A pandemia de Covid-19 trouxe condições ideais para que muitas empresas colocassem em prática seus planos de captar recursos por meio da abertura de capital. O ano de 2021 foi muito movimentado neste sentido, no Brasil e nos Estados Unidos. Mas desde o ano passado, o cenário mudou, e uma reversão só deve acontecer em 2024.
A projeção é de John Tuttle, vice-presidente da Nyse (New York Stock Exchange), empresa que opera a Bolsa de Nova York e também a ICE, de Londres, entre outros mercados pelo planeta.
Ele afirma que o ano de 2022 foi fraco em aberturas de capital, e que a tendência continua em 2023. "Tivemos uma combinação de incertezas geopolíticas e econômicas que aumentaram a aversão a risco", diz Tuttle.
Segundo o portal Stock Analysis, que levanta dados do mercado de capitais americano, no ano passado foram 181 aberturas de capital nos Estados Unidos. O número representa um contraste ante as 1.035 operações realizadas em 2021, batendo o recorde histórico de IPOs que já havia sido batido em 2020, com 480 aberturas de capital.
Segundo Tuttle, episódios como a guerra entre Rússia e Ucrânia e o início do ciclo de aumento de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) foram fatores fundamentais para esta mudança de cenário.
"Muitas empresas estavam prontas para realizar suas ofertas de ações, e tiveram que rever suas estratégias", afirma o executivo da Nyse.
Em 2023, a percepção de Tuttle é de que o ambiente está começando a se estabilizar, mesmo com a crise bancária e a falta de uma clareza sobre a política monetária do Fed. Mesmo assim, a retomada dos IPOs deve ser cautelosa.
"Acredito que veremos primeiro ofertas de ações de empresas que já são listadas. Se forem bem recebidas, aquelas que estão mais prontas para abrir capital vão começar seus movimentos. Dependendo da conjuntura, pode acontecer no segundo semestre de 2023, ou somente em 2024".
Apesar dos números de IPOs terem sido ruins no ano passado, Tuttle afirma que outros instrumentos do mercado financeiro foram bem. "Tivemos um recorde de lançamentos de ETFs (Fundos de Índices), por exemplo". Estes fundos replicam os desempenhos de índices de ações e de outros ativos do mercado financeiro, e são destinados principalmente a pessoas físicas.
BRASIL NA MIRA
Tuttle veio ao Brasil com a missão de conversar com empresários e agentes do mercado financeiro. Ele afirma que a Bolsa americana ainda oferece as melhores condições para captação de dinheiro.
"Se uma empresa quer atuar só localmente, acho que os mercados de seus países, inclusive o Brasil, atendem muito bem as necessidades. Mas quando o objetivo é ganhar escala e crescer internacionalmente, a Nyse continua sendo a melhor alternativa", afirma o executivo.
Atualmente, segundo o executivo, são 34 empresas listadas na Nyse. Algumas delas abriram seu capital diretamente em Nova York, como Nubank e PagSeguro. E ele se mostra otimista com o Brasil.
"É um país com uma indústria muito diversificada, e que pode ter liderança global em várias áreas. Uma delas é a de energia renovável", diz Tuttle.
Ela afirma que, para este segmento especificamente, o mercado americano oferece um bom ambiente para levantar recursos. "Muitos grandes fundos globais querem ou até mesmo precisam colocar recursos no mercado americano. Isso se torna um diferencial para quem quer buscar financiamento para projetos de longo prazo".
Sobre a crise bancária nos Estados Unidos, Tuttle elogia a reação rápida dos reguladores aos problemas apresentados por SVB (Silicon Valley Bank) e Signature Bank, garantindo os depósitos de todos os clientes.
"Mas é preciso sempre olhar como melhorar o sistema. Temos que ter a noção de que o mundo inteiro olha para os Estados Unidos, e nós afetamos os mercados de todos os países", afirma o vice-presidente da Nyse.
Sobre a empresa que ajuda a comandar, Tuttle afirma que a Nyse se mostrou muito resiliente durante a pandemia. "Continuamos o tempo inteiro funcionando. Sempre pensamos em estar bem posicionados olhando para um horizonte de 15 a 20 anos".
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