RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A escalada das cotações do petróleo após anúncio de corte na produção por países exportadores eleva a pressão sobre a diretoria da Petrobras, que tomou posse na última sexta-feira (31) tendo como uma de suas missões alterar a política de preços da companhia.

Diante do risco de novos aumentos, sindicatos e aliados do governo reforçaram o pleito por mudanças nessa política, que é baseada no conceito de paridade de importação, que simula quanto custaria para importar os produtos.

Mantido o modelo atual, a expectativa do mercado é que a estatal se veja forçada a repassar a alta nas cotações em um momento já de pressão nos preços pela alta dos impostos estaduais. Nesta segunda (3), as ações da empresa subiram nas bolsas, diante da perspectiva de ganhos com o petróleo mais caro.

De acordo com dados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), as refinarias brasileiras já operam com defasagem na gasolina desde o dia 23 de março, logo após corte promovido pela Petrobras.

No fim do pregão de sexta-feira (3), ainda antes do anúncio do corte de produção feito pela Opep+., a diferença era de R$ 0,10 por litro. Para o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), era ainda maior, de R$ 0,32 por litro.

No domingo, a Opep+, grupo de países exportadores que inclui Arábia Saudita e Rússia, anunciou corte de um milhão de barris por dia, o que levou a cotação do Brent a superar os US$ 80 (R$ 405) por barril pela primeira vez desde 12 de março.

Após o anúncio, analistas chegaram a projetar que o barril volte a se aproximar dos US$ 100 (R$ 507). O Goldman Sachs, por exemplo, elevou sua projeção para o fim do ano de US$ 90 (R$ 456) para US$ 95 (R$ 481) por barril.

O pesquisador do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) Adhemar Mineiro defendeu nesta segunda que o cenário demanda revisão da política de preços da estatal.

"Deixar os preços praticados no Brasil flutuarem ao sabor dos movimentos internacionais é perder o papel de protagonista e ficar à mercê da estratégia de outros países", afirmou.

Ligado à FUP (Federação Única dos Petroleiros), o Ineep tem hoje dois representantes na cúpula da Petrobras, atuando como assessores do presidente da companhia, Jean Paul Prates.

"A conjuntura torna ainda mais urgente a mudança da política de preços", reforçou o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo. "Jean Paul Prates tem em suas mãos o momento ideal para cortar esse mal pela raiz. Essa precisa ser sua primeira ação à frente da companhia."

Prates já afirmou que a política será alterada, deixando de considerar a paridade de importação, mas ainda assim com algum nível de acompanhamento das cotações internacionais. Ele argumenta que o modelo atual favorece os concorrentes da estatal, ao praticar o preço deles.

Procurada, a Petrobras ainda não havia respondido a pedido de entrevista até a publicação deste texto. A empresa costuma esperar para repassar momentos de alta volatilidade de preços e a Folha apurou que a direção atual manterá a estratégia.

Por enquanto, a empresa seguirá monitorando a situação, dizem fontes.

O cenário é ruim para reajustes já que gasolina e diesel serão pressionados pela mudança no modelo de cobrança do ICMS, que passará a ter alíquotas maiores que as atuais.

No caso da gasolina, a mudança ocorre no dia 1º de junho. A nova alíquota, de R$ 1,22 por litro, é maior do que a cobrada em quase todos os estados, à exceção do Piauí. Com relação a São Paulo, por exemplo, representa um aumento de R$ 0,32 por litro.

No diesel, o impacto é menor, de cerca de R$ 0,13 por litro, em média, considerando os valores praticados na segunda semana de março. O produto, porém, também será pressionado pelo aumento da mistura de biodiesel, mais caro que o diesel de petróleo.

A posse da nova diretoria, por outro lado, dá início ao processo de revisão da política de preços, que precisa também ser aprovada pelo conselho de administração da companhia, que deve ser renovado em assembleia no fim do mês.


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