BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O professor de economia Paulo Picchetti é cotado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para uma das duas diretorias do Banco Central que ficarão vagas na virada do ano, segundo interlocutores do governo ouvidos pela reportagem.
O nome também tem circulado no mercado financeiro como uma das principais apostas para o posto e tende a ser bem recebido, caso a indicação seja confirmada.
Picchetti é professor na USP (Universidade de São Paulo) e especialista em econometria, análise de ciclos econômicos e índices de preços -temas relacionados à missão do Banco Central de assegurar a estabilidade de preços da economia.
Ele já foi coordenador de índice de preços na Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e atua hoje em função similar na FGV Ibre, onde coordena o IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor - Semanal). Por isso, é reconhecido por pares como autoridade no tema.
Além disso, ele cursou o mestrado em economia na USP no mesmo período em que o ministro Fernando Haddad (Fazenda), no início dos anos 1990.
Picchetti também tem doutorado em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Hoje, é professor na Escola de Economia de São Paulo, ligada à FGV (Fundação Getulio Vargas).
Neste ano, ele teve dois encontros com Haddad, um deles em julho, na sede do ministério em São Paulo. Em agosto, ele esteve em Brasília para apresentar uma pesquisa acadêmica sobre inflação ao ministro da Fazenda, acompanhado de outros dois pesquisadores da FGV Ibre.
Na avaliação de técnicos fora do governo, a indicação de Picchetti, se confirmada, seria uma indicação bastante acertada, uma vez que o professor é experiente e também significaria a designação de alguém mais acadêmico para o BC, hoje composto majoritariamente por representantes vindos do mercado financeiro.
O nome do professor é cotado para substituir Fernanda Guardado, que hoje chefia a diretoria de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos.
De acordo com uma pessoa a par das discussões, ela chegou a pedir para ser reconduzida ao cargo, mas suas chances são remotas por ser considerada uma das integrantes mais conservadoras do colegiado do BC. Seu mandato termina em 31 de dezembro deste ano.
A diretoria de Assuntos Internacionais terá uma função estratégica no próximo ano, com o Brasil na Presidência do G20. A área também é responsável pelas discussões relacionadas à agenda verde -tema tratado como prioridade pelo Executivo.
De acordo com relatos feitos à reportagem, Haddad afirmou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o perfil dos futuros indicados: um professor com grande experiência em inflação e um servidor do BC com mais de 20 anos de casa.
"É gente conhecida, gente com experiência na área, não tem surpresa", disse o ministro a jornalistas na sede da pasta.
Segundo o titular da Fazenda, os nomes já tinham recebido aval de Lula e o anúncio dos indicados deveria ocorrer nesta semana. Havia expectativa de que a escolha fosse anunciada pelo presidente nesta sexta-feira (27) em café com jornalistas.
O petista, contudo, disse não ter pressa para fazer indicações para cargos, entre elas as dos novos diretores do BC. Segundo Lula, elas "vão acontecer no momento em que devem acontecer."
"Eu vou indicar alguém que eu acho que seja uma pessoa que possa ser indicada. Da mesma forma que vamos indicar pessoas para o Banco Central, que o Haddad vai indicar essas pessoas, nós vamos discutir e indicar pessoas que tenham ampla competência para exercer a função que vai exercer", disse.
Segundo a lei da autonomia da autoridade monetária, aprovada em 2021, cabe ao presidente da República a indicação dos nomes para a cúpula do BC. Posteriormente, os indicados passam por sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal. Os escolhidos são, então, levados ao plenário para aprovação.
Embora o presidente tenha dito não ter pressa, o governo quer dar celeridade às indicações para que os escolhidos passem pela sabatina ainda neste ano, antes do recesso parlamentar.
A ideia é assegurar que os novos integrantes -mais alinhados com o gestão petista- participem do primeiro encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC em 2024, agendado para os dias 30 e 31 de janeiro.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o governo deve indicar o servidor Rodrigo Alves Teixeira para o comando da área de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, como substituto de Mauricio Moura. O posto é tradicionalmente ocupado por um funcionário da autoridade monetária.
Servidor de carreira do BC, Teixeira atua hoje como secretário especial adjunto de Análise Governamental na Casa Civil e é professor do departamento de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
A possível indicação de Teixeira não foi bem recebida por parte dos servidores do BC, segundo relatos ouvidos pela reportagem Na visão desse grupo, ele trabalhou durante pouco tempo na instituição. Há um sentimento de desprestígio e um certo desconforto por parte de alguns funcionários, que entendem que ele não é, de fato, um nome com 20 anos de casa.
Outro fator de insatisfação é a perda de representatividade caso se confirme a indicação de dois homens para a cúpula do BC. Com a saída de Guardado, se outra mulher não for nomeada, restaria apenas Carolina de Assis (Administração) entre os nove membros do colegiado da autoridade monetária em 2024.
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