TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - As dificuldades da Apple na China dispararam há dois meses, quando a Huawei surpreendeu ao lançar seu novo smartphone com chip para conexão 5G, Mate 60 Pro, duas semanas antes de chegar o iPhone 15. Em fervor nacionalista, lojas online e depois físicas se encheram de clientes. Agora começam a surgir os números que evidenciam o tamanho do desafio.

Três consultorias de pesquisa do setor, Counterpoint, Jefferies e Canalys, divulgaram dados positivos para o Mate 60 Pro, como a venda de 1,6 milhão de aparelhos em apenas um mês e meio no mercado chinês, e negativos para o iPhone 15, com vendas 4,5% abaixo do que havia conseguido o modelo anterior, iPhone 14, nas primeiras semanas pós-lançamento.

Nesta última quinta-feira, em novo relatório, a Counterpoint afirmou que a Huawei cresceu 37% no terceiro trimestre, em relação ao período no ano anterior, devido ao impacto do novo celular sobre um único mês do trimestre, setembro. A empresa passou a ocupar 12,9% do mercado chinês de smartphones, já perto de voltar a superar a Apple, que tem 16%.

O Mate 60 Pro "provocou grande abalo no mercado", afirmou Ivan Lam, analista sênior da consultoria, ao divulgar os resultados. A Canalys, por sua vez, enfatizou que não é só a Apple que vem sofrendo, mas também marcas chinesas. As vendas de iPhone caíram 6%, ano a ano, enquanto os modelos de Oppo e Vivo perderam até mais, respectivamente 10% e 26%.

Mas a disputa central é mesmo entre Huawei e Apple, na faixa de qualidade e preço mais altos. E outubro se mostrou, de novo, "um mês terrível para a Apple na China", na avaliação do analista de tecnologia TP Huang, a ponto de Tim Cook "aparecer para fazer controle de danos". O CEO voltou ao país para ver autoridades e fornecedores -e baixar preços.

Segundo o jornal Global Times, de Pequim, ligado ao Partido Comunista Chinês, na plataforma de comércio eletrônico Pinduoduo o principal modelo de iPhone passou a ser oferecido nesta semana por 5.198 yuans, contra 5.999 do preço de venda estabelecido pela Apple. Plataformas concorrentes, como Taobao, do Alibaba, também estariam adotando reduções semelhantes.

O analista Ma Jihua avalia que isso pode indicar uma ação preparatória para as compras do Duplo 11 ou Dia dos Solteiros, 11 de novembro, data anual para uma batalha de descontos entre os gigantes chineses do comércio eletrônico. Mas também "reflete a atração declinante do iPhone" junto aos consumidores do país, com o retorno do maior concorrente.

Quatro anos atrás, a Huawei foi proibida pelo governo americano de continuar adquirindo chips avançados para seus smartphones junto à taiwanesa TSMC, que usa tecnologia em parte americana. Foi o início do cerco dos Estados Unidos à empresa chinesa -que cresceu tanto que chegou a passar em vendas globais não só a Apple, mas a coreana Samsung, tornando-se líder mundial.

Com essas e outras sanções, a Huawei quase desapareceu do mercado de smartphones, a ponto de seu fundador ter alertado os funcionários, em evento interno, que ela lutava por sua sobrevivência. O anúncio do Mate 60 Pro, com chip desenhado pela Huawei e fabricado pela também chinesa SMIC, reanimou clientes locais e até outras empresas, que vêm anunciado saltos em tecnologia.

Durante a visita que culminou nos cortes de preços, Cook publicou mensagens em sua conta na rede Sina Weibo, inclusive foto de uma ponte célebre de Sichuan tirada com iPhone 15, falou à mídia estatal saudando inovação chinesa e encontrou autoridades como o ministro do Comércio, Wang Wentao, e o vice-primeiro ministro Ding Xuexiang.

Mas a passagem mais significativa foi por uma fabricante chinesa de produtos da Apple, também em Sichuan e com vídeo no Weibo. "Trabalhamos com a Luxshare há mais de uma década, e agora eles estão produzindo alguns de nossos aparelhos mais avançados, incluindo o iPhone 15 Pro Max", escreveu Cook em sua conta, agradecendo à presidente da empresa, Wang Laichun.

Wang trabalhou na Foxconn, a principal fabricante de iPhone na China, antes de fundar a concorrente Luxshare. A visita e os elogios de Cook coincidiram com os esforços da Apple para diminuir a dependência e o custo da Foxconn, que estaria resistindo e com isso dificultando oferecer o novo iPhone a preços mais competitivos.

Reprodução/ Redes - Apple

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