SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um cenário de queda de juros e atividade econômica melhor do que a esperada, cresce a demanda por mais crédito, diz Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco.
"Olhando para a frente, para a carteira [de crédito], temos visto, sim, um aumento de demanda. A originação [de crédito] de grandes empresas aumentou bastante nesse último trimestre, e o mercado de capitais está voltando", disse em teleconferência sobre os resultados do banco no terceiro trimestre de 2023, nesta terça-feira (7).
De julho a setembro, o banco teve um lucro líquido recorrente de R$ 9,04 bilhões. O número representa um crescimento de 11,9% na comparação com o mesmo período de 2022. Já na comparação com o segundo trimestre de 2023, o resultado é 3,4% maior.
Os valores devem cair na conta dos acionistas. O CEO disse que o banco discute o aumento de dividendos e a recompra de ações. "Não queremos reter capital excedente."
Por volta das 13h14, as ações do banco (ITUB4) na Bolsa de Valores registravam valorização de 2,91%.
De acordo com o executivo, a economia mais forte, mesmo com uma desaceleração no terceiro trimestre, tem reflexo no apetite dos clientes. "Estamos vendo um mercado mais ativo, empresas antecipando a queda de juros, já vendo perspectivas mais positivas, o PIB crescendo neste ano."
A Selic caiu de 13,75% para 12,25% neste ano e a expectativa é que tenha mais um corte de 0,5 ponto percentual em dezembro, terminando 2023 a 11,75%. Juros mais baixos tendem a incentivar a economia, reduzindo o custo do crédito e a atratividade da renda fixa.
Outro ponto que favorece a concessão de mais empréstimos é a queda na inadimplência. Apesar de um impacto quase nulo do programa Desenrola Brasil, o Itaú espera uma queda de 0,30 ponto percentual no índice de operações de crédito de pessoas físicas com mais de 90 dias de atraso, para 4,6% no quarto trimestre.
Segundo o presidente do Itaú, o parcelado sem juros é impulsionador da inadimplência. "Quando o cliente entra no produto cartão, ele não espera e não imagina que vai precisar se financiar, até porque ele não é um bom instrumento de financiamento ao consumo da forma como ele está desenhado."
Maluhy defende que o atual modelo seja substituído pelo parcelado com juros "de uma forma que financie os clientes num nível competitivo, a 4% por mês, de maneira que se pode reduzir fortemente a taxa do rotativo".
Em outubro, o Banco Central se reuniu com representantes de bancos, adquirentes, cartões e varejo para discutir a regra da lei do Desenrola, que limita a dívida do rotativo a 100% do valor original caso o próprio setor não chegue a outra fórmula para reduzir as altas taxas.
O texto da lei não faz nenhuma menção às compras parceladas. Bancos, no entanto, têm defendido a restrição dessa modalidade de crédito como forma de baixar as altas taxas do rotativo --acionado automaticamente quando a fatura do cartão não é paga de forma integral. Não há, porém, estudos públicos independentes que mostrem relação de causa e efeito entre parcelamento sem juros e inadimplência.
Inicialmente, a proposta levantada pelo BC era limitar o parcelado sem juros a 12 vezes, o que, segundo os bancos, não seria o suficiente para reduzir o juro do rotativo. Eles sugerem que o limite seja de seis vezes, eventualmente indo a quatro. Hoje, às 17h, acontece uma segunda reunião sobre o tema. O setor tem até o fim do ano para definir uma autorregulação para o rotativo. Caso contrário, entra em vigor o limite de 100% definido na lei do Desenrola.
"O cartão de crédito representa 40% do consumo no Brasil. O parcelamento em 12 vezes é menos de 0,5% do faturamento da indústria do parcelamento sem juros. Da nossa carteira de crédito, cerca de R$ 100 bilhões não pagam juros e só R$ 20 bilhões pagam. Se ficarmos com a solução do governo [de teto do rotativo], temos que cortar 60 milhões de cartões de crédito e R$ 350 bilhões serão retirados do mercado de consumo", disse Maluhy.
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