SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto o conselho derrubou Sam Altman do comando da desenvolvedora do ChatGPT, OpenAI, e investidores e funcionários pressionaram para devolver o chefe-executivo ao cargo, o chatbot movido à base de inteligência artificial (IA) enfrentava outro problema: a procura por assinar o serviço premium da plataforma era tamanha que a empresa teve de suspender a entrada de novos usuários ao plano de US$ 20 (R$ 97) para continuar a funcionar bem. Tudo isso nas últimas duas semanas de novembro.

A tecnologia que ganhou o público completa, nesta quarta-feira (30), seu primeiro ano de 'vida'. A plataforma gratuita capaz de dar respostas com aparência de criatividade atraiu o recorde de 100 milhões de usuários mensais em 60 dias --a marca anterior era do TikTok, que levou nove meses, de acordo com estimativa do banco suíço UBS.

Baseada em São Francisco, a OpenAI apresentou o ChatGPT ao mundo como um teste. A plataforma gratuita capaz de dar respostas com aparência de criatividade, entretanto, atraiu um milhão de usuários inscritos em apenas cinco dias --um recorde na história da internet, que deixou para trás Facebook, Instagram, Twitter e outros gigantes.

Essa popularidade e a habilidade de Altman com o público, de um lado, catapultaram uma startup com histórico de prejuízos a uma avaliação de mercado de cerca de US$ 90 bilhões neste fim de 2022, segundo a agência Bloomberg.

De outro, a alta demanda pelas habilidades do ChatGPT arremeteu a OpenAI a uma corrida por poder computacional --na prática, por supercomputadores Azure da Microsoft e unidades de processamento gráficos da Nvidia.

A Microsoft, aliás, é a maior investidora da OpenAI: só no começo do ano direcionou US$ 10 bilhões (cerca de R$ 48 bilhões) à startup, dos quais boa parte foi gasto com computadores da própria Microsoft.

Foram esses investimentos que acabaram com a fila do ChatGPT. No começo do ano, era quase impossível acessar a plataforma na primeira tentativa, devido a limitações de servidor.

Para o usuário gratuito da inteligência artificial geradora de texto, essa foi a única mudança significativa, além da atualização do conhecimento do bot para fatos de até janeiro de 2022. No início, os dados limitavam-se a abril de 2021.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o vice-presidente da OpenAI responsável pelo ChatGPT, Srinivas Narayanan, afirmou que não há planos para atualizar a versão gratuita do ChatGPT no curto prazo. "Ficamos muito felizes em receber milhões de pessoas todos os dias, mas nossa prioridade agora são os clientes."

O usuário não assinante contribui com a empresa com dados sobre sua interação com o bot, que podem ser usados para melhorar o serviço.

A versão paga do ChatGPT, hoje, ganhou diversas funcionalidades exclusivas. Além de ter uma inteligência artificial mais potente, melhor em matemática e capaz de entregar textos mais sucintos, a plataforma está equipada com recursos de compreensão de áudio e imagem --pode ver e ouvir. Ainda cria imagens, de acordo com instruções do usuário, e consegue ler textos gerados --conversa.

Mais do que isso, foi o anúncio da possibilidade de criar versões customizadas do ChatGPT que fez a busca pelo pacote premium da plataforma disparar. "A ideia de permitir que as pessoas criem os seus próprios GPTs. O usuário pode usar seus dados e treinar uma própria inteligência artificial apta para tarefas mais específicas", diz o professor de ciência da computação da PUC-SP e especialista em IA Diogo Cortiz.

O New York Times, por exemplo, criou um GPT que responde a dúvidas de tecnologia com base nas informações do jornal.

Nesse contexto, a startup de inteligência artificial conseguiu se manter como um ator de destaque, mesmo depois de Google, Meta e Amazon lançarem os próprios modelos de linguagem concorrentes do ChatGPT --Bard, LLaMA e Amazon Q, respectivamente.

A OpenAi, entretanto, ainda precisa lidar com as críticas ao risco envolvido no desenvolvimento de inteligência artificial. A startup já foi mal avaliada por tratar quantidades de dados excessivas, por terceirizar serviço na África, pelo risco que representa ao mercado de trabalho e por desrespeitar direitos autorais de artistas, estúdios de cinema, selos musicais e de jornais.

Não dá para dizer que foi por ignorância, uma vez que o chefe-executivo Sam Altman escreveu, em 2021, que a inteligência artificial geral, com capacidades humanas, transformaria a economia da cabeça aos pés.


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