RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - As indústrias de máquinas agrícolas preveem comercializar 54,3 mil unidades neste ano, número que, se confirmado, representará redução pelo segundo ano seguido na fabricação de equipamentos para o campo.

Os dados foram divulgados na tarde desta quarta-feira (28) pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Depois de bater o recorde histórico de vendas em 2022, com 70.262 unidades, a indústria de máquinas viu o total recuar 13,2% e alcançar 60.981. Apesar da queda, a própria indústria afirmava que o patamar era positivo, dado o cenário histórico do setor.

Agora, se a projeção para 2024 for alcançada, representará uma redução de 11% em relação às vendas registradas no ano passado.

Se comparado com o cenário pré-pandemia, porém, os dados ainda são positivos, apesar da queda. Em 2019, foram vendidas 38.728 máquinas agrícolas, ante as 40.983 de 2020 e as 58.433 de 2021.

"Quando chegamos em 2022, 70 [mil], recorde da história. Em 2022 tivemos um ano excepcional de máquinas agrícolas. Em 2023, tem uma queda, mas ainda assim é um ano extremamente relevante", disse o presidente da associação, Márcio de Lima Leite.

Entre as máquinas vendidas no ano passado, a maior redução foi entre as colheitadeiras de grãos, que muitas vezes chegam a custar mais de R$ 5 milhões a unidade. De 8.821 vendidas em 2022, o total chegou a 7.188 no ano passado, ou 18,5% menos. Já os tratores tiveram redução de 12,4%, de 61.441 para 53.793.

Para Leite, as inseguranças naturais devido ao processo eleitoral do ano anterior ajudam a explicar a redução nas vendas em 2023, mas o fator principal está ligado a financiamentos bancários.

"A decisão de comprar uma máquina é baseada em: 25% taxa de financiamento e 35% tempo do financiamento e liberação de crédito por parte do banco. A decisão de trocar uma máquina 60% é baseada em financiamento. O Brasil vive hoje uma expectativa de redução da taxa Selic, então todo esse processo acaba influenciando no momento de se trocar a máquina", afirmou o executivo.

Por isso, quem depende de uma linha de financiamento acaba pensando se é o momento de trocar ou não suas máquinas, enquanto os produtores rurais com capital próprio têm facilidade maior e têm trocado seus equipamentos.

Vice-presidente da associação e executivo de relações institucionais da CNH Industrial, Alexandre Bernardes de Miranda afirmou que outra das razões para a queda nas vendas foi o preço das commodities, inferior ao praticado no ano anterior.

"É uma questão também que puxou muito, aliado às outras questões, como taxa de juros, financiamento e o próprio clima. O clima contribuiu de uma forma muito forte na redução dos investimentos de modo geral dos nossos clientes." A CNH é dona de marcas como Case e New Holland.

Miranda disse ainda que apesar dessa conjuntura de fatores, o ano foi excelente para os fabricantes de máquinas agrícolas. "Se pegarmos o histórico a gente vê que é um número extremamente importante ainda", disse.

A Anfavea traçou o cenário para 2024, que prevê como principais riscos os efeitos climáticos, os preços das commodities (em queda), as condições do Plano Safra, a expectativa nas concessões do PAC e a importação de produtos.

Mas prevê também, como oportunidades, o crescimento global na economia (previsto em 2,6%), o PIB brasileiro (com projeção de alta de 1,7%), a queda da taxa de juros Selic, o próprio PAC, o aumento da demanda por alimentos no mundo e a descarbonização, com uso de biocombustíveis e etanol.

EXPORTAÇÕES

As exportações de máquinas agrícolas também apresentaram queda em 2023, conforme os dados divulgados pela Anfavea. De 10.661 exportadas em 2022, o total caiu 17,8% e ficou em 8.759 no ano passado.

Isso se deve em boa parte à redução da participação da Argentina no ranking dos principais destinos. Enquanto em 2019 ela liderava e representava 36% do faturamento das exportações (US$ 132 milhões), no ano passado respondeu por somente 5% do total (US$ 34 milhões).

Os cinco principais compradores das máquinas brasileiras em 2023 foram Paraguai (30%), EUA (15%), Bolívia (9%), Uruguai (8%) e África do Sul (8%).

"O Paraguai tem se mostrado ao longo dos últimos anos uma potência agrícola também. Na parte de soja, os investimentos, inclusive brasileiros, no Paraguai, são muito fortes. Tanto soja quanto milho", disse Miranda.


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