BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recuou da decisão de extinguir o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) por meio de MP (medida provisória) enviada ao Congresso Nacional e afirmou, nesta terça-feira (5), que irá enviar um projeto de lei com urgência constitucional para elaborar um programa "mais focado".
O ministro participou pela manhã de reunião com líderes da Câmara dos Deputados e o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
"Nós saímos da reunião agora com a lição de casa de fazer o desenho de como contemplar essas exclusões e com foco em eventuais segmentos que ainda não foram, não passaram por uma recuperação", afirmou Haddad.
Segundo ele, a ideia é realizar um Perse com "visão focada". "Focada naqueles segmentos que ainda exigem algum cuidado", disse.
Em dezembro, o governo federal enviou uma MP ao Congresso que, entre outras coisas, extinguiu o Perse, gerando fortes críticas entre os parlamentares.
Autor do projeto de lei que deu origem ao Perse, o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), que esteve na reunião, afirmou que a ideia é que o programa seja redesenhado "a várias mãos", com contribuição dos parlamentares e de representantes do setor.
"A partir do projeto de lei a gente rediscutir com filtros, travas, enfim, para a gente tornar o Perse dentro da sua natureza para o que ele foi proposto, para quem essencialmente tem direito. A gente foi unânime em dizer [que é para] punir quem tiver utilizado o Perse de forma errada, equivocada. Qualquer tipo de eventual fraude tem de ser punida severamente e exemplarmente", afirmou Carreras.
O deputado disse ainda que a ideia é que o PL "tramite até o fim de março".
"Não vai ser exatamente do jeito que está [hoje na MP] porque do jeito que estava não ia prosperar, isso foi bastante assimilado pelo ministro e pelo presidente da Câmara. Através do bom senso político vai ser enviado um outro texto, que vai ser remodelado a várias mãos, pelos líderes, pelo setor produtivo, pelo Ministério da Fazenda, para sair um texto em consenso", disse Carreras.
Como a Folha de S.Paulo revelou, em janeiro Haddad alertou líderes do Congresso que o programa teria aberto margem para operações de lavagem de dinheiro de atividades ilícitas no país.
De acordo com relatos de participantes da reunião desta terça, o tema foi tratado pelo ministro de forma superficial, sem dar mais detalhes ou apresentar dados sobre isso.
Haddad afirmou que a MP, no entanto, será mantida. "A MP vai ficar como está, com aquela supressão que foi feita a pedido do presidente Rodrigo Pacheco", disse ele.
"Nós vamos encaminhar um projeto em relação aos municípios e ao Perse com a discussão que foi feita junto aos líderes, que fizeram várias sugestões para enxugar aquilo que eles próprios reconheceram como um completo descontrole do governo", completou.
A manutenção da tramitação da MP antiga é importante para a equipe econômica para poder contabilizar o aumento da receita previsto com o fim do Perse no relatório bimestral de avaliação do Orçamento, a ser enviado ao Congresso no dia 22 de março.
É esse relatório que definirá quanto será necessário bloquear de despesas para o cumprimento da meta fiscal de zerar o déficit das contas públicas em 2024.
Pelos cálculos da Fazenda, o fim do Perse renderia R$ 6 bilhões a mais de arrecadação neste ano, porque boa parte do fim da isenção dos tributos federais só entraria em vigor em 2025.
O ministro afirmou que, no ano passado, a perda de arrecadação com o Perse foi de "mais de R$ 13 bilhões". Haddad disse que desse valor foram expurgadas as "eventuais inconsistências dos informes dos próprios contribuintes". O ministro não detalhou que inconsistências seriam essas.
O valor, no entanto, é menor do que os R$ 17 bilhões que Haddad vinha citando, nas últimas semanas, de renúncia fiscal com o programa em 2023. Segundo ele, em 2022, a renúncia foi de R$ 10 bilhões.
O ministro ressaltou que o custo do programa em 2022 e 2023 (R$ 23 bilhões) já alcançou o valor da renúncia total de R$ 25 bilhões do acordo feito com o Congresso para o programa. "Nós já atingimos a marca aí de quase R$ 25 bilhões do acordo. E foi isso o que eu levei a consideração do presidente Lira", disse.
Desde a decisão do governo de acabar com a Perse, opresidente da Câmara cobrava do ministro o cumprimento do acordo.
Haddad disse que mandou a Receita fazer um pente-fino rigoroso para calcular o custo do Perse. Ele ponderou que nem todo contribuinte, que deixa de pagar um tributo, informa por que está deixando de recolhê-lo.
Para desenhar o novo modelo de tributação do Perse, o Ministério da Fazenda está fazendo um estudo que visa identificar quais os segmentos dentro do setor de eventos ainda não conseguiram se recuperar.
Ao falar do aumento do faturamento das empresas beneficiadas pelo Perse após o fim da pandemia, o ministro acabou dando uma pista de como poderá ser reformulado o programa. Ele disse que há 11 mil empresas beneficiadas pelo programa.
Ele chamou atenção que o faturamento das empresas antes da pandemia, em 2019, era de R$ 146 bilhões, caiu para R$ 101 bilhões e depois subiu para R$ 200 bilhões, em 2022.
Os dados mostram que o setor já se recuperou ou mais empresas estão se beneficiando de um incentivo fiscal que, na prática, não foi desenhado para elas.
Com esses dados, o ministro sinalizou que o faturamento deverá ser um indicador para definir quais empresas poderão continuar com o benefício.
O benefício do Perse zera todos os tributos federais (IRPJ, CSLL, PIS e Cofins) em um setor que já se recuperou e continua crescendo. É com base nesse argumento que a equipe econômica tentou sem sucesso convencer os senadores e deputados a extinguir o programa.
O ministro disse não saber ainda qual será a medida compensatória para a manutenção do Perse e garantir o cumprimento da meta zero de déficit das contas públicas.
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