RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Impulsionada por seu porto e pelos milionários empreendimentos imobiliários tendo a praia Brava como cartão-postal, Itajaí desbancou Joinville e virou a maior economia de Santa Catarina e a terceira do Sul do país. Mas vive incertezas sobre o desempenho futuro justamente devido ao porto, com parte das operações paradas há mais de um ano.
Os edifícios não são gigantescos como os da vizinha Balneário Camboriú, mas seus apartamentos na região da praia e em bairros como o Fazenda também chegam a custar R$ 50 milhões. Em 2023, foram negociados na cidade cerca de R$ 3 bilhões em 3.300 imóveis, segundo o Sinduscon (sindicato das indústrias) da Foz do Rio Itajaí, que inclui Navegantes, Penha e Balneário Piçarras.
De 131 empreendimentos lançados em Itajaí, 70 (ou 53,4%) tinham unidades com preço a partir de R$ 1 milhão, segundo dados da consultoria Brain. Em 23 deles (17,6%), o preço inicial era de R$ 3 milhões.
O que diferencia a cidade da badalada vizinha é que os imóveis atingem um público de primeira moradia ?não de veraneio?, há limitação na altura de edifícios e Itajaí atraiu condomínios logísticos devido ao porto.
As construções não podem ter mais de 105 m de altura (cerca de 35 andares), conforme o Plano Diretor, e, na praia Brava, o limite é de cinco pavimentos. Em Balneário, ao contrário, há torres de até 290 m de altura.
"Há a pecha de cidade portuária não ser tão atrativa, mas ela se tornou não só a maior economia do estado como, ao contrário do entorno, as pessoas a escolhem como local de primeira moradia. De cada 10 que compram um imóvel na cidade, 3 são de fora", afirmou o engenheiro Fábio Inthurn, presidente do Sinduscon e CEO da Lotisa.
A empresa tem oito empreendimentos em andamento, com cerca de 1.300 imóveis em construção, e, para o empresário, o momento imobiliário atual não é surpresa. "O que tem em comum na maioria dos construtores é que quase todos possuem uma grande velocidade de venda e quase não têm estoques."
Itajaí virou a maior economia de Santa Catarina ao atingir um PIB de R$ 47,7 bilhões, segundo o IBGE, e a terceira do Sul, atrás de Curitiba e Porto Alegre.
O crescimento em um ano ?os dados são referentes a 2021? foi de 44%. Joinville, com R$ 45 bilhões, supera de longe a capital do estado, Florianópolis, terceira (R$ 23,5 bilhões). Quando se analisa o PIB per capita, a diferença é ainda maior: R$ 210,7 mil em Itajaí, enquanto Joinville alcança R$ 74,5 mil e Florianópolis, R$ 45,6 mil.
Entre fevereiro de 2023 e janeiro deste ano, a cidade teve valorização imobiliária de 12,53%, segundo o índice FipeZap, ante a média de 5,19% de 50 cidades monitoradas.
Entre as não capitais, fica atrás apenas de Itapema (+19,42%), São José (+19,35%), ambas em Santa Catarina, e Vila Velha (ES), com 14,21% de valorização. Supera Joinville (+10,26%) e Balneário Camboriú (+9,46%).
Já o preço médio do metro quadrado foi de R$ 10.624, atrás de Itapema (R$ 12.660) e Balneário (R$ 12.822), mas há incorporadoras investindo em projetos milionários, com apartamentos de R$ 20 milhões fora da praia Brava, algo que não se imaginava há alguns anos.
"Como as cidades [Balneário e Itajaí] são muito próximas e virou praticamente tudo uma coisa só, Itajaí despontou em razão da sua pujança econômica e esse perfil mais diverso. A Vokkan fez um grande investimento em Itajaí para o desenvolvimento de um complexo logístico multissetorial que será anunciado em breve. Enxergamos a cidade como um dos pontos mais estratégicos da região Sul", afirmou André Miranda, sócio e diretor de negócios da empresa.
Para o economista-chefe da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), Pablo Bittencourt, Itajaí soube aproveitar uma política adotada pelo estado desde meados da década de 2000 com a redução de impostos para importação.
"Muitas empresas começaram a colocar seus centros de distribuição em Santa Catarina e preferiram a região de Itajaí por causa do porto."
O setor logístico existente na cidade e que atua no comércio exterior fez com que ela liderasse, em 2023, o ranking de importações no país, com US$ 13 bilhões (cerca de R$ 65 bilhões).
Além disso, empresas exportadoras se instalaram na cidade, o que gerou disputa por espaço e a valorização imobiliária atual, que superou 70% nos últimos quatro anos.
Isso gerou negócios como o Infinitá Treehouse, da Blue Heaven, com apartamentos de 350 m² a 805m² no bairro Fazenda, cercados por vidro do chão ao teto, com vista para a baía de Itajaí e preços de R$ 7 milhões a R$ 22 milhões.
"Balneário tem novos lançamentos a R$ 80 mil o m², a própria praia Brava já tem empreendimentos a R$ 60 mil o m². É reflexo de Balneário Camboriú, lá é mais escasso e mais caro, então tinha de crescer [para as cidades vizinhas]", afirmou o CEO da Blue Heaven, Fabrício Bellini.
Segundo ele, após as restrições da pandemia compradores passaram a buscar espaços maiores e confortáveis. "Com o preço de Balneário, compra um apartamento maior aqui. Em Balneário, um apartamento de 300 m² o mercado fala em R$ 30 milhões [...] Mas, se não fosse Balneário, a gente também não estaria vivendo todo esse reflexo."
O PORTO E O FUTURO
Empresários, exportadores e o setor público afirmam que hoje Itajaí diversificou sua economia e não é mais dependente exclusivamente do porto, porém admitem que a paralisação na principal atividade do local gera incertezas para os próximos anos.
O porto teve um revés quando terminou o contrato de arrendamento com a APM Terminals, que pertence ao grupo Maersk, em dezembro de 2022. Desde então, dois dos quatro berços de atracação deixaram de movimentar contêineres. O porto seguiu com operações de navios para transporte de veículos, celulose, cargas em geral e turismo.
Um contêiner pode gerar na cadeia logística R$ 1.800, segundo Egidio Antônio Martorano, presidente da câmara de transporte e logística da Fiesc.
Depois de atingir o pico em 2020, com 545.338 contêineres, o total caiu a 350.083 em 2022 e quase zerou no ano passado, com apenas 334, segundo dados do porto. Isso mostra a dimensão do impacto que a paralisação parcial já provocou na economia local.
Martorano afirmou que a mudança no governo federal, ano passado, provocou alteração no modelo de negócio do porto, o que contribuiu para atrasar a definição.
"Houve um projeto de concessão, do qual a Fiesc participou, que previa a autoridade portuária privada. Com a mudança do governo, resolveu-se não ser privado e manter a autoridade portuária pública [...] Houve um período de transição a meu ver mal conduzido", afirmou.
O secretário do Desenvolvimento Econômico de Itajaí, Thiago Morastoni, admitiu que há possibilidade de a cidade perder o posto de maior economia do estado com essa indefinição no porto, mas que é difícil mensurar o real impacto.
"Nossa operação principal em Itajaí é a atividade portuária, mas ela não foi a única. Aí vem exatamente o ponto que nos fez crescer tanto. A gente fortaleceu essa que era a nossa principal atividade, mas ampliamos as matrizes econômicas. O porto continua sendo importantíssimo para Itajaí, mas ele já não é mais a única força motriz da economia", disse.
Não seria a primeira vez que poderia ocorrer uma inversão de posições no PIB. Em 2014, Itajaí passou a liderar o ranking estadual (com dados de 2012), mas voltou a ser superada por Joinville no ano seguinte.
Segundo a Superintendência do Porto de Itajaí, foi assinado um contrato com uma empresa com prazo de dois anos, que pode ser renovado por igual período, para a retomada das operações. A previsão é que o primeiro navio atraque em maio.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é aguardado por políticos locais para o ato, e espera-se que ele anuncie um edital para o arrendamento por um prazo de 35 anos, considerado ideal para que haja investimentos robustos no local. Isso já tem gerado corrida entre empresas do setor.
"O peso do porto é fundamental. A gente celebra o resultado [do PIB], mas com preocupação, pois é reflexo de 2021 e o porto estava operando", disse Rodrigo Viti, diretor comercial do Grupo Allog, que tem sede em Itajaí, onde emprega mais de 200 pessoas, e atua principalmente no comércio marítimo.
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