SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira fechou perto da estabilidade e o dólar subiu esta terça-feira (26), após divulgações da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e de números de inflação mais altos que o esperado no Brasil.

Investidores também repercutiram balanços corporativos de empresas, como o Grupo Casas Bahia, que registrou seu maior prejuízo trimestral da história. As ações da varejista despencaram mais de 7% no pregão desta terça, figurando entre as maiores quedas da sessão.

Recuos de Vale e Petrobras, as empresas de maior peso do Ibovespa, também pesaram contra o índice.

Na ata do Copom, o comitê afirmou que entender a alteração na comunicação sobre os passos futuros como uma indicação de mudança no ciclo da política de juros é um equívoco.

Embora o cenário-base não tenha sido alterado significativamente entre os encontros de janeiro e março, o comitê considerou apropriado ganhar mais flexibilidade diante das incertezas no cenário internacional e no ambiente doméstico.

Para alguns membros do Copom, se essa incerteza permanecer elevada à frente, uma redução no ritmo de cortes de juros pode ser apropriada, ainda que a taxa ao término do ciclo não sofra alterações.

Também nesta manhã, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou para 0,36% em março, acima da mediana de projeções levantadas pela Bloomberg, de 0,30%.

Com isso, o Ibovespa teve oscilação negativa de 0,05%, fechando praticamente estável aos 126.863, enquanto o dólar subia 0,18%, cotado a R$ 4,982.

Sobre a ata do Copom, o chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, João Savignon, avalia que o tom foi neutro e que a autoridade monetária trouxe mais detalhes sobre sua decisão de manter a flexibilidade na condução da política monetária.

"[A ata] Mostrou certa dissidência ao destacar que alguns membros sinalizaram que a manutenção dessa incerteza ensejava um ritmo mais lento de cortes de juros, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir. Ou seja, o ponto final para o juro pode se manter inalterado, mas o Copom demorar mais para chegar lá", diz Savignon.

Já o IPCA-15 mostrou que, dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 5 registraram alta em março na comparação com fevereiro. O grupo de alimentação no domicílio, por exemplo, subiu 1,04%, e o grupos de transporte teve alta de 0,43%.

O analista Rafael Costa, da BGC Liquidez, afirma que os resultados do IPCA-15 não foram favoráveis. O recuo da inflação de alimentos, por exemplo, foi menor que o esperado, e houve surpresas de alta em quase todos os principais grupos do índice.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca que também há sinais de alerta sobre os preços dos serviços, que aceleraram nos últimos meses e têm preocupado o Copom. A inflação do grupo foi citada na ata do comitê como um dos motivos de incerteza para a política monetária, diante de um mercado de trabalho apertado.

Sung cita, no entanto, que houve desaceleração dos núcleos de inflação no IPCA-15 de março, num sinal de arrefecimento dos preços.

"Para a política monetária, esse dado não deve alterar o plano de voo já anunciado pelo Banco Central. A nossa perspectiva é de cortes de 0,5 ponto nas próximas reuniões, pelo menos para maio e junho. Os próximos dados serão importantes para calibrar melhor o cenário à frente", diz o economista.

Para Lucas Almeida, sócio da AVG Capital, os novos números de inflação reforçam a importância de uma política monetária cautelosa pelo Banco Central, já que sinais de resiliência da alta de preços são o suficiente para que a autoridade monetária mantenha uma postura vigilante.

"O mercado pode interpretar esse resultado como um lembrete de que, apesar de alguns sinais positivos na economia, ainda estamos navegando em águas incertas e que é prudente manter a cautela antes de celebrar qualquer vitória prematura contra a inflação."


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