SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Darlan Romani é protagonista do atletismo brasileiro há pelo menos seis anos, mas foi só no ano passado, em meio aos Jogos Olímpicos de Tóquio, que sua carreira teve uma reviravolta. Até então um atleta que pouco contato com a imprensa e poucas postagens nas redes sociais, viu seus perfis bombarem quando ainda estava no Japão. Assinou com uma agência que cuida da carreira de celebridades e passou a ter, também, um lado "famoso", como define.
Desde então, passou a compartilhar detalhes da vida pessoal pelo Instagram e a participar de ações de marcas, como a Petrobras, que o patrocina como um dos membros da nova geração do Time Petrobras, junto com outros 19 atletas -mais 25 entrarão no ano que vem.
"Eu nunca gostei muito de falar. Eu sou mais conversador com as pessoas me conhecem, mas perdi um pouco a vergonha, o jeito de falar um pouco menos, para dar mais atenção às pessoas. Elas me reconhecem e se sentem contentes a ponto de pedir para tirar foto, e eu fico super feliz. Principalmente com a criançada, porque, às vezes, a gente não tem noção de quanto a gente consegue influenciá-los", diz Darlan.
Nascido em Concórdia (SC), mas atualmente radicado em Bragança Paulista (SP), Darlan sempre foi de trabalhar muito e falar pouco. Antes de ser famoso também fora da "bolha" do esporte olímpico brasileiro, já era campeão pan-americano, bicampeão mundial militar, bicampeão ibero-americano e finalista de uma Olimpíada e dois Mundiais.
Agora que tem outros compromissos profissionais além do esporte, não quer deixar isso atrapalhar sua intensa rotina de treinos.
"Eu sempre organizo para ser no meu dia de folga, ou seja, sábado à tarde e domingo. Sempre nesses períodos. Não interrompo treinos. Se a agência fecha alguma coisa, ele já eles falam: 'Só grava de fim de semana'. O pessoal costuma entender muito fácil. Falo que essa é minha vida, meu trabalho. Preciso me concentrar aqui, e no fim de semana consigo dar atenção para as outras coisas."
CLUBE FAMILIAR
Durante a Olimpíada, correu a internet a narrativa de que Darlan não tinha condições ideais de treinamento, a ponto de uma vaquinha foi aberta para ajudá-lo. Isso nunca foi verdade, e mais recentemente, graças aos diversos apoios que atualmente tem, o arremessador chegou ao ponto de abrir mão do salário de um clube.
Deixou a constelação do Pinheiros, único grande clube profissional de atletismo no país, para representar a ABRA, a Associação Bragantina de Atletismo, que é presidida pela esposa dele, Sara.
"A ABRA estava parada. Como a gente tem os projetos sociais, e a ABRA já estava há um bom tempo aberta, a cidade já conhecia o projeto, a gente achou mais fácil assumir a entidade. E aí a Sara falou: 'queria que você fosse da ABRA, para o povo de Bragança gostar, a gente já mora aqui e tal', e eu claro que aceitei", conta.
"Eu fazendo esses jobs, esses trabalhos com a agência, eu ganho dinheiro. Além disso, também tenho Bolsa Atleta, o Time Petrobras... Vamos ajudar o clube, a cidade, para as pessoas conhecerem um pouco mais. Foi uma escolha do casal competir pela ABRA", relata.
CORPO ZERADO
Darlan é o grande nome do arremesso de peso no Brasil há dez anos e, desde 2016, tem frequentado os arredores do pódio nas grandes competições. Foi quinto na Rio-2016, quarto no Mundial Indoor de 2018, no Mundial de Atletismo de 2019 e em Tóquio, e só quebrou o jejum com o incrível título mundial indoor conquistado em março. Na ocasião, faturou o ouro, deixando para trás o astro norte-americano Ryan Crouser, bicampeão olímpico e recordista mundial.
Mas, no Mundial mais relevante do calendário, o chamado Mundial de Atletismo, disputado a céu aberto, em Eugene (EUA), Darlan foi só quinto colocado. O brasileiro não revelou à época, mas ele competiu machucado.
"Infelizmente, machuquei a perna dez dias antes, o músculo do adutor. Antes disso, eu tinha feito todas as minhas melhores marcas com todos pesos em treinamento. A gente sabia que eu estava super bem, mas depois da lesão fui tomando anti-inflamatório, apertando a faixa, mas não estava 100% preparado. A perna começa a ficar debilitada, vai perdendo a força", conta.
Mesmo assim, ele foi aos EUA com a expectativa de bater de frente com os melhores do mundo, o que não acabou acontecendo. "Eu fiquei triste para caramba. Eu sabia que eu estava preparado para fazer um grande resultado, mas vida de atleta é assim. Não era para ter acontecido, mas aconteceu", diz Darlan, que desde então não competiu mais, para focar na recuperação visando a próxima temporada.
Aos 31 anos, ele acredita que ainda tem margem para melhorar e continuar sonhando com uma inédita medalha olímpica. "A gente está em fase de crescimento ainda. Eu não vou saber te dar a fonte, mas a gente sabe que consegue elevar o nível de força até os 35 anos, ainda. Fiz esse ano minha melhor marca no supino, meus melhores pesos em exercício de academia. Então, eu sei que a gente tem muita lenha para queimar, e a gente está se preparando para isso. Eu acredito muito nisso", finalizou.
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