DOHA, QATAR (UOL/FOLHAPRESS) - Desde que despontou como profissional, em 2011, Neymar carregou em suas costas o peso de ser o grande nome de uma geração. Combinou um estilo de jogo que reúne todas as qualidades que constroem o ideal do futebol brasileiro, com uma das ascensões mais meteóricas já vistas em um atleta, complementada pelo poder midiático de uma marca de alcance mundial.
Aos 19 anos de idade, já era campeão da Libertadores e melhor jogador da América. Aos 21, um dos craques do Barcelona, melhor jogador brasileiro em atividade e principal aposta para um dia destronar Cristiano Ronaldo e Messi e ser o melhor do planeta. Não por acaso, chegou a duas Copas do Mundo como referência absoluta da seleção, herói isolado de um possível hexa e depósito de quase todas as esperanças. Em 2022, pela primeira vez em dez anos, terá um cenário diferente: a responsabilidade de ser a 'cara' do futebol brasileiro está mais dividida, e quem convive com o camisa 10 relata que isso tem nele um efeito positivo.
"O rótulo, a pressão, é inevitável. Foi sempre assim, desde o momento em que ele (Neymar) chegou na Seleção", disse Marquinhos, durante a preparação em Turim. "Tem que sempre aproveitar e tirar o lado bom da coisa. Ele não tem que levar peso nenhum para ele, tem jogadores experientes nos quais ele pode se apoiar, a gente vai dividir esse peso com ele. A molecada está aí também, é futebol, jogo coletivo, esse peso não será 100% dele".
A escalada de Neymar ao topo coincidiu com a queda precoce de ícones da geração anterior, como Kaká e Adriano. Nomes promissores como Alexandre Pato e Paulo Henrique Ganso não se firmaram como jogadores de ponta na Europa. Aos poucos, Neymar foi se isolando em uma prateleira própria como estrela máxima de um Brasil que não tinha mais atletas ofensivos encantando o planeta e sendo discutidos entre os melhores do mundo.
Em 2014, teve a companhia dos criticados Fred e Hulk no ataque. Em 2018, Willian e Gabriel Jesus -o primeiro era peça importante do Chelsea, mas não era unanimidade. O segundo nunca conseguiu se firmar como titular no City. Jogadores com qualidades, mas que nunca figuraram entre os mais badalados da Europa. Em 2018, as ascensões de Raphinha e Vinicius Jr., prováveis titulares hoje diante da Sérvia, e de nomes como Rodrygo, Martinelli, e Antony dividem com o camisa 10, pela primeira vez em uma Copa, o peso que carregou na última década.
Vini Jr. é hoje titular absoluto do Real Madrid e visto na Europa como aposta certa para brigar pela Bola de Ouro nos próximos anos. Raphinha, depois de brilhar por Leeds e seleção, ainda não se firmou no Barcelona, mas foi a contratação mais cara da temporada no clube catalão. Antony custou ao Manchester United 100 milhões de euros, e Rodrygo foi decisivo também pelo Real na conquista da Liga dos Campeões.
A discussão, entretanto, vai além da estatura que os jovens atacantes brasileiros estão atingindo em grandes clubes europeus. Os companheiros de ataque de Neymar em 2022 tem estilos de jogo moldados no camisa 10, e perfeitamente encaixados no estereótipo do jogo bonito brasileiro: velocidade, drible, agressividade e técnica. São características que permitem que, ao contrário dos coadjuvantes das últimas duas Copas, dividam com o camisa 10 brasileiro a missão de carregar a bandeira e ser o "rosto" do futebol brasileiro.
Dentro de campo, isso tem efeitos positivos evidentes: a presença de atacantes nos dois lados do campo capazes de vencer marcadores no 1 a 1, invadir a área em diagonal e abrir espaços permite que Neymar se encaixe confortavelmente na posição de um meia atacante armador, que se tornou sua função no PSG de 2019 para cá. Fora de campo, também: pessoas próximas dele relatam um Neymar mais leve e confiante às vésperas da Copa do Qatar.
"Agora com a preparação e sem lesão, com certeza chega um Neymar bem melhor. Ele não tem vaidade nenhuma, nosso grupo recebeu muito bem todos os meninos que chegaram. Na minha visão, vão deixar o Neymar mais à vontade. Eles dividem oportunidade e a responsabilidade com ele, são jogadores de 1 contra 1 incríveis e vão abrir espaço", disse Thiago Silva nesta terça-feira (22).
Fontes ligadas a Neymar afirmam que ele tem falado a amigos e pessoas próximas sobre o prazer em atuar com os atacantes da atual seleção brasileira, e dito que a considera um dos melhores times que defendeu. Cada vez mais, ele se tornou figura próxima dos jovens atacantes que hoje desempenham nos lados do campo a função que ele próprio executava.
Como relatou o UOL Esporte, o principal jogador brasileiro se tornou uma espécie de mentor dos garotos, dos quais já era ídolo. Ele é hoje o responsável por guiar fora de campo e municiar dentro dele atacantes que o tem como ídolo e referência, e que desenvolveram, inspirados nele, sua forma de jogar futebol. Até no Counter Strike, um dos games adotados por jogadores da seleção, ele é referência e considerado o melhor do elenco.
Fora dos gramados, Neymar tem hoje até "concorrência" no mercado publicitário, que vê Vini Jr. como estrela em ascensão e um garoto propaganda desejado. No ano da Copa, o atacante do Real Madrid fechou acordo com doze parceiros e patrocinadores. Neymar, atualmente, conta com 24 marcas parceiras.
Na estreia do Brasil na Copa do Qatar, nesta quinta-feira, às 16h, diante da Sérvia, Neymar deve contar com uma das seleções mais ofensivas da era Tite. Nos últimos treinos antes do confronto Tite apostou em um meio de campo com Casemiro, Paquetá e Neymar, e um trio de ataque que teve Vini Jr., Raphinha e Richarlison.
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