DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) - Cristiano Ronaldo não gostou quando foi substituído na partida contra o Uruguai, nesta segunda-feira (28). Quando percebeu que iria sair, olhou para o telão do estádio Lusail e fez uma cara amarrada e caminhou lentamente até a beira do campo.
Faltavam somente oito minutos para o fim do tempo regulamentar, mas a pressão uruguaia colocava a vitória portuguesa, àquela altura pela diferença mínima, sob risco. Ele não queria sentir essa agonia do banco de reservas --fora de jogo ele nunca se sente bem.
Mas foi de lá que ele viu Bruno Fernandes brilhar novamente na Copa do Mundo do Qatar. De pênalti, o meia marcou seu segundo gol no duelo e não só definiu o placar de 2 a 0 como garantiu com antecedência a classificação dos europeus para as oitavas de final.
Naquele que deverá ser o último Mundial de Cristiano Ronaldo, quem tem roubado a cena por Portugal é o camisa 8. Foram duas assistências na estreia, contra Gana, e mais dois gols diante do Uruguai, com atuações que fazem dele a principal referência do time até este momento.
Há quatro anos, ele nem era titular da seleção. Levado para a Rússia com 24 anos, viu do banco de reservas sua seleção ser eliminada nas oitavas de final, curiosamente, também diante do Uruguai.
Sem o status que tem hoje na equipe, quando ainda vestia a camisa do Sporting, de Portugal, havia atuado apenas na estreia, no empate com Espanha (3 a 3), e foi sacado na segunda rodada. Não voltou mais ao time nem sequer por alguns minutos.
A fase atual é bem diferente. Além de ser um dos destaques do Manchester United, da Inglaterra, também é quem faz a engrenagem do meio-campo lusitano funcionar.
Com o técnico Fernando Santos, ele costuma jogar atrás dos dois homens de frente, Cristiano Ronaldo e João Félix, mas com bastante liberdade para aparecer na área e aproveitar seu faro de gol.
Quando ainda era jogador do Sporting, chegou a marcar 32 gols e registrar 16 assistências em 52 jogos na temporada 2018-19. Com a camisa do Manchester United, fez 28 gols e deu 18 assistências em 51 partidas em 2020-21.
Pela seleção, ele soma 11 em 50 partidas. Um deles, no entanto, quase saiu de sua contagem. A Fifa precisou recorrer aos dados de um sensor na bola para confirmar que Cristiano Ronaldo não desviou de cabeça um cruzamento feito por ele diante dos uruguaios. O próprio meia admite que tentou fazer o passe, mas o gol foi dele.
"Eu festejei como se fosse do Cristiano, parecia ali que ele tinha tocado na bola. Meu objetivo era o cruzamento para ele, mas independentemente disso estamos felizes pela vitória da equipe", disse o jogador.
A comemoração deste gol tem, ainda, um aspecto importante para a seleção portuguesa. Mostrou que o meia e o atacante estão em sintonia no campo a despeito das polêmicas que marcaram a preparação portuguesa para o Mundial.
Às vésperas do início do torneio, o camisa 7 entrou em litígio com o Manchester United e acabou tendo seu contrato rescindido, segundo as partes, em comum acordo, após o atleta fazer duras críticas à agremiação e ao técnico Erik ten Hag. Ele chegou a dizer que se sentia traído no clube.
As declarações criaram um clima pesado no vestiário do time inglês, de acordo com a imprensa do país. Isso afetaria diretamente o futuro de Bruno Fernandes e do lateral Diogo Dalot, atletas do clube e companheiros do astro na equipe nacional.
Antes do embarque de Portugal para o Qatar, um vídeo no qual o meia e Cristiano Ronaldo aparecem trocando um cumprimento supostamente frio foi usado para indicar que havia um mal-estar entre eles. Eles negaram, inclusive dentro de campo.
"A figura de Portugal é um conjunto, é o nosso grupo, é a nossa união, é aquela entrega que temos em campo. É a ajuda que temos entre todos nós e é o que faz termos resultados fortes", comentou o camisa 8.
As palavras dele podem indicar, ainda, uma pessoa sem vaidades. Nesse ponto, diferente de Cristiano Ronaldo, que não escondeu seu desejo de ter sido creditado para ele o gol contra o Uruguai.
Seria o 118º dele por Portugal. Mesmo assim, ele já é o maior artilheiro de uma seleção entre todas as equipes nacionais masculinas. Também se tornou no Qatar o único jogador a marcar em cinco edições de Copa do Mundo, com um gol na vitória sobre Gana, por 3 a 2.
São marcas importantes, que Bruno Fernandes dificilmente terá chance de alcançar. Mas não que isso mude sua importância para a equipe. Pelo contrário, se o camisa 7 sonha em se despedir do maior palco do futebol com o inédito título, ele depende muito do futebol do companheiro. Portugal também.
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