SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - Duas cidades se orgulham de terem projetado Pelé para o mundo, mas tratam a memória do Rei do Futebol de forma distinta. O ídolo nasceu no município mineiro de Três Corações, que exalta o filho ilustre de diversas maneiras, mas Bauru, onde o craque passou infância e adolescência, hoje tem as referências ao jogador deterioradas ou esquecidas.

A reportagem do UOL visitou as duas cidades para a produção de conteúdos especiais. Em 2010, no 70º aniversário de Pelé, o editor Vinícius Mesquita percorreu Bauru para levantar histórias sobre o rei. Já em 2014, com a Copa do Mundo em andamento, o repórter Bruno Freitas registrou como Três Corações trabalha ativamente a relação com o filho da cidade.

TRÊS CORAÇÕES RESPIRA PELÉ

O Rei do Futebol ainda é uma imagem onipresente em Três Corações. Logo na entrada da cidade, uma figura imensa do ídolo recebe os visitantes com 12,83 metros, em obra que faz alusão aos 1.283 gols na carreira do goleador. No centro, a Praça Pelé exibe a imagem do craque erguendo a taça Jules Rimet, em homenagem ao tricampeonato de 1970.

A cidade ainda tem mais uma estátua de Pelé, que retrata o Edson menino ao lado da figura paterna, na entrada do Parque Dondinho ? sim, o pai do mito batiza o espaço.

Mas a principal atração que exalta a memória do filho ilustre é a Casa Pelé, uma reprodução fidedigna da primeira residência do jogador mais famoso da história. A morada fica na Rua Edson Arantes do Nascimento, número 1.000, e foi construída com base em depoimentos de Dona Celeste, mãe do ídolo, e seu irmão Jorge. O projeto contou até com cenógrafos da Rede Globo no trabalho de envelhecimento de cenários.

O espaço foi inaugurado em 2012 com a presença do homenageado e recebeu mais de 35 mil visitantes (até 2014), que se satisfazem principalmente com a visão do berço onde o rei dormia em seus primeiros anos. Durante a Copa, a Casa Pelé virou atração turística para torcedores de Chile e Colômbia em viagem por Minas Gerais. Já as visitas de equipes de televisão estrangeiras foram quase diárias.

BAURU PERDE AS REFERÊNCIAS AO REI

A casa que abrigou a infância e a adolescência de Pelé em Bauru foi atacada por vândalos em agosto de 2021. O local que viu os primeiros sonhos do menino Edson com o futebol atualmente está deteriorado e desocupado.

A residência fica na quadra 4, número 10, da rua Sete de Setembro. Os vidros das janelas frontais da casa foram quebrados e o corredor da entrada está cheio de lixo e folhas secas. Anos atrás, um muro foi erguido sobre a delicada fachada original para impedir invasões de populações em situação de rua, mas a intervenção não tem se provado eficaz.

Não é fácil encontrar vestígios de Pelé pela cidade. Os símbolos de sua trajetória pelo município do interior paulista desapareceram ou estão comprometidos. O Rei trocou Três Corações por Bauru ainda aos quatro anos porque seu pai, Dondinho, havia sido contratado para defender o Bauru Atlético Clube (BAC), em setembro de 1945. O adolescente só deixou o interior paulista em 1956, para defender o Santos, mas boa parte dos detalhes destes 11 anos de história do menino Pelé estão resguardados somente na memória de seus amigos de infância.

O Bauru Atlético Clube (BAC), clube onde Pelé participou de torneios juvenis entre seus 13 e 14 anos, não existe mais. Em 2006, o terreno do clube falido foi vendido a uma rede de supermercados. Não sobrou um prego para contar a história.

Para compensar, o supermercado montou um mural de pastilhas cerâmicas, próximo à entrada, com o desenho da fachada original. E das esteiras rolantes que dão acesso ao estacionamento dá para ver um painel com quatro fotos antigas do clube. Uma delas mostra a formação titular do Baquinho, nome carinhoso dado ao time juvenil do clube, com o menino Pelé sorridente sentado sobre uma bola.


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