SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolívia fez cinco gols no Brasil e se tornou campeã continental.
Faz tempo, e a conquista se deu em condições bem específicas. Mas, 60 anos depois, enquanto tenta sofregamente dar alguma demonstração de força desportiva e alimenta a esperança de retornar à Copa do Mundo, o país celebra o aniversário do dia em que bateu os bicampeões do planeta e levantou um troféu.
Em 31 de março de 1963, dirigida por um carioca, a seleção alviverde derrotou a brasileira por 5 a 4 para chegar ao grande -pois único- título de sua história. Em La Paz, conheceu a glória no Campeonato Sul-Americano, hoje chamado de Copa América.
"A Bolívia reeditou suas últimas jornadas conseguindo impor seu maior volume de jogo", relatou a Folha de S.Paulo. "O conjunto local durante todo o transcorrer da partida foi superior."
Era a rodada final do torneio, disputado por sete times em sistema de pontos corridos. O Brasil, com uma formação bastante alternativa, já não tinha mais chance de levar a taça, mas a líder Bolívia ainda era ameaçada pelo Paraguai e precisava da vitória para ser campeã sem depender de um tropeço do rival.
Ao fim do primeiro tempo, o placar no estádio Hernando Siles apontava 2 a 2, gols de Ugarte e Camacho pelos anfitriões, Marco Antônio e Almir pelos visitantes. Ugarte e García colocaram os donos da casa em vantagem, mas dois tentos de Flávio igualaram o marcador.
Já aos 41 minutos da etapa final, Alcócer superou o goleiro Silas. A festa é até hoje lembrada como o grande momento do futebol boliviano, imortalizada a imagem de Ugarte -tido como o maior da história do país, ao lado de Etcheverry- carregado nos ombros de fãs.
Pouco importava -e pouco importa- para os bolivianos que a competição não tenha sido disputada em alto nível. Até porque com nível alto os donos da casa dificilmente teriam grandes chances. Nem na altitude.
Os mais de 3.600 m de La Paz foram um dos motivos para a realização de um campeonato esvaziado. O Uruguai preferiu não encarar a situação adversa. Argentina e Brasil enviaram equipes repletas de jogadores desconhecidos. O Chile, por questões geopolíticas, não jogou.
No caso da formação brasileira, o time nada tinha a ver com aquele que um ano antes, no Chile, havia conquistado o bicampeonato mundial. A base era a seleção de Minas Gerais, vencedora do velho Campeonato Brasileiro de seleções estaduais, completada por atletas como Amauri, do Comercial, Almir, do Taubaté, e Altamiro, do São Cristóvão.
"De nenhuma maneira o quadro brasileiro pode ser considerado de segunda categoria", disse o técnico Aymoré Moreira, negando o óbvio.
A campanha começou com vitória por 1 a 0 sobre o Peru e uma goleada por 5 a 1 sobre a Colômbia. A Folha de S.Paulo, animada, chegou a apontar a seleção como "o favorito do torneio", mas o tom logo mudou.
O Brasil levou 2 a 0 do Paraguai e perdeu por 3 a 0 para a Argentina, com direito a um gol do tipo pastelão. "Marcial, ao cobrar um tiro de meta, mandou a bola às costas de Mário Tito; o couro sobrou para Rodríguez, que não teve dificuldade para marcar", descreveu a edição de 16 de março do jornal.
Ao fim da campanha, que teve ainda um empate por 2 a 2 com o Equador e a derrota para a Bolívia, sobraram críticas para Aymoré. "A seleção nacional que disputou o Sul-Americano na Bolívia constituiu uma redonda decepção", escreveu A. Mendes. "A direção técnica, para mostrar a sua presença na seleção, excedeu-se em substituições de jogadores, em alterações, e o resultado está aí", acrescentou, em texto intitulado "A lição da Bolívia".
Uma Bolívia que fez a maioria de seus jogos em La Paz -Cochabamba foi a outra sede do certame- e iniciou sua trajetória em um sofrido empate por 4 a 4 com o Equador. Depois, sempre com dificuldade, foi batendo Colômbia (2 a 1), Peru (3 a 2), Paraguai (2 a 0) e Argentina (3 a 2) até encontrar o Brasil e confirmar o inesquecível título, sempre recordado por figuras do esporte e da política do país, como Evo Morales.
O técnico era Danilo Alvim, citado nos jornais bolivianos como Danilo Albín. Danilo foi titular do Brasil na Copa do Mundo de 1950, centromédio (hoje volante) que viveu seus melhores momentos como jogador no Vasco. Nasceu, em 1920, no Rio de Janeiro, onde morreu em 1996. Entre um acontecimento e outro, deixou seu nome na história da Bolívia.
O sucesso jamais foi replicado, embora tenha havido bons momentos. Em 1993, sob comando do espanhol Xavier Azkargorta, a seleção alviverde obteve histórica classificação para a Copa do Mundo do ano seguinte.
Era a geração de Baldivieso e Etcheverry, que também fez barulho na Copa América de 1997, mais uma disputada na Bolívia. Os donos da casa foram até a final, realizada no mesmo palco do triunfo de 1963, mas na revanche deu Brasil, dirigido por Zagallo: 3 a 1, gols de Edmundo, Ronaldo e Zé Roberto. Erwin Sánchez balançou a rede pela Bolívia, que perdeu o viço com o fim daquela geração e nunca mais foi ao Mundial.
Nas Eliminatórias para a Copa de 2022, a equipe ficou em nono lugar entre as dez postulantes da América do Sul. Azkargorta voltou em 2012, sem sucesso, e se ofereceu de novo em 2022, porém têm sido infrutíferas as tentativas de levantar o futebol boliviano, mal também nas disputas de clubes -nenhum foi aos mata-matas da Copa Libertadores ou da Copa Sul-Americana em 2022.
Na mais recente "data Fifa", reservada para jogos internacionais, a seleção boliviana perdeu por 1 a 0 para o Uzbequistão e venceu a Arábia Saudita por 2 a 1, ambos os duelos na Arábia Saudita.
O time nacional hoje é comandado pelo argentino Gustavo Costas e alimenta a esperança de voltar a jogar o Mundial. O próximo, em 2026, será o primeiro com 48 equipes -16 a mais do que em 2022-, e a América do Sul terá seis vagas diretas mais uma na repescagem.
Pode ser uma boa chance para os atuais donos da 82ª colocação no ranking da Fifa (Federação Internacional de Futebol). Que até hoje têm um gol na história das Copas, marcado por Erwin Sánchez em 1994. E um título em toda a própria história, pelos pés de Blacut, Alcócer e Ugarte. Sob a direção de Danilo.
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