SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo de cerca de 4.000 sócios define neste sábado (25) o novo presidente do Corinthians, o homem que vai comandar, pelos próximos três anos, um clube com mais de 30 milhões torcedores e receita anual próxima de R$ 1 bilhão.
A disputa por tão cobiçada cadeira ocorre entre dois nomes, André Luiz de Oliveira e Augusto Melo, que, embora estejam em lado opostos, têm, talvez, mais semelhanças do que diferenças: ambos não gozam de muito prestígio com a maioria da torcida, já flertaram com a prisão em um passado recente e passaram boa parte do pleito deste ano fazendo ataques ao adversário.
Nas trocas de acusações estão suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro, fraude fiscal, racismo, misoginia e gordofobia. Nem todas sem lastro, embora nenhum deles possua condenações que os impeçam de concorrer à presidência do clube.
O candidato da situação, do mesmo grupo político que elegeu os últimos cinco presidentes do Corinthians, entre eles o atual mandatário, Duilio Monteiro Alves, é o empresário André Luiz de Oliveira, indicado pelo ex-presidente Andrés Sanchez, o mais influente do grupo.
André Negão, como é conhecido no Parque São Jorge, ganhou destaque na imprensa em 2016 quando, durante operação da Polícia Federal, foi preso por porte ilegal de arma. Foi liberado após fiança.
O dirigente era suspeito de receber propina de R$ 500 mil da Odebrecht, em esquema que envolveu a construção do estádio do clube em Itaquera, a Neo Química Arena, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014. A imagem dele sendo conduzido pela PF estampou os jornais e é lembrada por adversários.
Em entrevistas ao longo da campanha deste ano, até mesmo quando não era questionado sobre o assunto, Oliveira repetiu inúmeras vezes que foi investigado por cinco anos pela PF e, como nada foi encontrado, acabou ganhando um atestado de idoneidade da polícia.
"Eu nunca fui intimado ou chamado para depor. A ação para me levar coercitivamente encontrou duas armas que estavam guardadas e estavam com a licença de porte de armas vencida. Expliquei o caso, fui liberado e regularizei a situação das armas. Depois disso, o processo acabou", disse ele.
Quando questionada sobre o passado do candidato, sua assessoria envia um conjunto de nove certidões criminais, todas negativas, para demonstrar que nada pesa contra ele de desabonador.
Candidato da oposição, o também empresário Augusto Melo, que já pertenceu ao grupo de Andrés e Duílio, também passou parte da campanha se explicando sobre uma condenação por fraude fiscal, de 2 anos, 10 meses e 20 dias, convertida em prestação de serviço comunitários.
"Tive uma remissão, ou seja, o próprio credor, no caso o Estado, reconheceu que a dívida não existia e encerrou o caso", afirma ele.
O prontuário de Melo na polícia tem uma série de boletins de ocorrência, a maioria como vítima. Em um deles, registrado em maio deste ano, ele afirma ter recebido ameaças após ter virado candidato à presidência. Uma das intimidações, segundo contou aos policiais, foi feita por telefone por pessoa desconhecida.
"Cuidado com sua vida, você terá um lugar no céu", diz trecho do boletim.
No começo deste mês, o candidato também acusou a situação de apelar para subterfúgios ilegais para tentar derrotá-lo. Cita a convocação feita pela Câmara de São Paulo, a pedido do vereador Milton Leite (União Brasil), vice na chapa de André Negão, para que fosse depor na CPI de Violência e Assédio Sexual.
Ele foi chamado para falar sobre o conteúdo de áudios de conversas entre ele e um sócio, no qual o candidato teria se referido a uma cozinheira do União Barbarense, clube de futebol do interior paulista, utilizando termos gordofóbicos e racistas. O candidato diz a frase foi tirada de contexto.
"Desde o primeiro momento, fiz questão de não contestar o áudio e pedir desculpas pelas palavras que utilizei", diz Melo, que contesta o fato de ser chamado para depor na capital sobre um fato ocorrido na cidade de Santa Bárbara D'Oeste.
"O vereador Milton Leite foi flagrado em um vídeo da própria Câmara no qual ele, sem perceber que era filmado, diz a outros vereadores, sem a menor vergonha, que a CPI e toda estrutura da Câmara deveria ser utilizada para ajuda-lo em uma questão pessoal, ou seja, a eleição no Corinthians", acrescenta.
Leite, por sua vez, diz que deu encaminhamento a uma denúncia recebida pela Câmara e que não há perseguição a Melo. Ele ainda afirma que a investigação vai continuar após a eleição do Corinthians.
"Fiquei assustado com o teor da denúncia assim que vi o conteúdo. Não é um processo só contra ele, mas contra qualquer racista. Vou trabalhar para que o Corinthians não tenha um racista na presidência. Ele deveria ter vergonha de se candidatar a presidente do Corinthians, a torcida não se identifica com racismo."
Por outro lado, a situação também acusa pessoas ligadas a Augusto Melo de acionar a polícia para investigar suposta lavagem de dinheiro e corrupção em um suposto esquema do qual fariam parte o próprio André Negão, o atual presidente do clube e outros dirigentes.
As acusações apresentadas seriam semelhantes a um outro conteúdo enviado à Promotoria e que tinha sido arquivada por falta de lastro, como nomes de supostos favorecidos e valores desviados.
"Já ficou claro que para o Ministério Público que essas denúncias foram inventadas por gente que queria um fato político. Está tudo arquivado e ficou comprovado que não existe lavagem de dinheiro", diz André.
Na última segunda (20), grupos de mulheres associadas ao Corinthians foram ao Parque São Jorge para protestar, quase que simultaneamente, contra os dois candidatos. A principal torcida do time, a Gaviões da Fiel, porém, manifestou-se contrária à candidatura de André Negão e declarou apoio ao opositor.
A beligerância entre os candidatos deixou em segundo plano questões importantes, como a gestão de um clube com uma dívida estimada em pouco mais de R$ 900 milhões, situação que dificulta a formação de uma equipe competitiva para o futebol masculino.
Desde o título paulista de 2019, que coroou o tricampeonato estadual sob o comando de Fabio Carille, nenhum troféu foi adicionado à galeria alvinegra. A atual seca é a quinta maior da história preto e branca.
Neste ano, além da ausência de títulos, o clube ainda não se livrou matematicamente do risco de rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Também será do novo presidente a responsabilidade de honrar com o pagamento do financiamento das obras para a construção da Neo Química Arena. O clube estima que a dívida com a Caixa Econômica Federal é de R$ 700 milhões.
Há menos de duas semanas das eleições, a atual diretoria anunciou que está em tratativas com a Caixa para estabelecer um novo acordo de pagamento. A proposta apresentada ao banco estatal incluiria a cessão do contrato dos naming rights, além de um título de uma dívida, semelhante a um precatório.
A gestão de Duilio defende que, dessa forma, o Corinthians vai reduzir a dívida de forma que o clube conseguirá quitar o estádio em cinco anos.
Já a oposição acredita que o acordo na verdade seria uma jogada eleitoral para favorecer o candidato da situação. O argumento é de que os namings rights já compõem as receitas com as quais o clube paga o financiamento, enquanto critica a falta de transparência na negociação de títulos.
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