SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Campeão da Copa do Mundo com a Itália em 2006, o ex-goleiro Gianluigi Buffon defendeu recentemente que a dimensão do gol no futebol profissional seja aumentada, de modo a aumentar também o número de vezes em que os atacantes vão às redes em uma partida.
O gol no futebol profissional tem o mesmo tamanho desde o final do século 19, com 7,32 metros de largura por 2,44 de altura. As medidas foram definidas à época pela FA (Football Association, a federação inglesa de futebol) e desde então não foram modificadas.
O argumento utilizado pelo ex-jogador italiano com passagens por Juventus, Parma e PSG (Paris Saint-Germain) é o de que a estatura dos goleiros cresceu ao longo das últimas décadas, enquanto as dimensões dos gols permaneceram as mesmas, o que, em teoria, poderia dificultar a vida dos atacantes em vencer os arqueiros.
"Quando comecei, em 1998, estava entre os cinco jogadores mais altos da Série A. No ano passado, quando estava com o Parma, sempre estive entre os cinco mais altos, mas dos 22 em campo", declarou Buffon, que tem 1,92 metro, em entrevista à publicação italiana Tuttosport.
De fato, o tamanho dos goleiros aumentou consideravelmente nas últimas quatro décadas. Segundo levantamento feito pela reportagem com base em dados do site especializado Transfermarkt, enquanto na temporada 1982/83, a estatura média dos goleiros na primeira divisão do Campeonato Italiano era de 1,83m, na temporada 2022/23, ela subiu para 1,91m.
Na temporada passada, o goleiro mais alto do torneio era o sérvio Vanja Milinkovic-Savic, do Torino, com 2,02m. Quatro décadas atrás, os mais altos eram Guido Bistazzoni (Sampdoria) e Stefano Tacconi e
Giovanni Cervone (Avellino), com 1,92m.
Segundo Júlio Cerca Serrão, coordenador do Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo), a estatura média das pessoas, de forma geral, aumenta ao longo das décadas, fenômeno conhecido como tendência secular.
"Isso é uma tendência do ser humano, uma característica evolutiva, e vai continuar. Por isso, a discussão a respeito das dimensões do gol faz todo sentido", afirma Serrão.
No entanto, a despeito do aumento na estatura dos goleiros, o fenômeno não foi acompanhado por uma redução no número de gols. Pelo contrário. Na temporada 1982/83, a média de gols no Campeonato Italiano foi de 2,1 por partida. Na temporada 2022/23, de 2,7.
Ao contrário da opinião do ex-arqueiro italiano, preparadores de goleiros de clubes brasileiros não veem a necessidade de redimensionar o gol no futebol.
"Acredito que as dimensões do gol estão dentro de um parâmetro adequado para o que o futebol exige hoje", diz Rogério Godoy, preparador de goleiros do Palmeiras. "A relação entre as dimensões do gol versus o tamanho dos goleiros é muito justa hoje", afirma Edson Júnior, preparador de goleiras do Corinthians.
Nas dimensões atuais, já é muito difícil aos goleiros tomar decisões rápidas e fazer a defesa de chutes de dentro ou mesmo de fora da área, diz Douglas Costa, preparador de goleiros do Ska Brasil, clube de Santana de Parnaíba presidido pelo pentacampeão Edmílson.
"Não vejo tanto sentido em aumentar [as dimensões do gol]", afirma Costa. Se ainda estivesse na ativa, talvez a opinião de Buffon seria diferente, diz o preparador de goleiros do Ska, com passagens por Red Bull Bragantino e Grêmio Audax.
Segundo Godoy, do Palmeiras, embora exista uma percepção comum entre os boleiros de que os chutes de longa distância diminuíram nos últimos anos, ele assinala que é preciso considerar também que as jogadas que levam ao gol hoje são construídas muitas vezes desde o sistema defensivo, com a troca de passes até a chegada à área adversária.
Edson Júnior, do Corinthians, diz ainda que aumentar as dimensões do gol não seria algo positivo para a continuidade e a evolução do futebol feminino.
O preparador das goleiras do Corinthians afirma que a modalidade feminina está em processo de desenvolvimento e prevê que a exigência da posição será cada vez maior.
"Daqui dez ou 15 anos, a estatura média das goleiras vai ser maior do que é hoje. É um processo natural de desenvolvimento", afirma Edson Júnior.
O custo financeiro para fazer a mudança também aparece como um impeditivo adicional para a mudança defendida por Buffon.
"Aumentar o tamanho do gol foi proposto no passado, mas foi rejeitado. As implicações globais de tal mudança, especialmente os custos envolvidos, tornam impraticável e financeiramente proibitivo para a grande maioria do futebol em todo o mundo", disse a IFAB (International Football Association Board), órgão que regula as regras do futebol mundialmente, em nota enviada à reportagem.
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