(UOL/FOLHAPRESS) - As bandeiras vermelhas levantadas pelo compliance do Corinthians não têm o poder para barrar o avanço da SAFiel dentro do clube.
A única pessoa com autoridade para interromper ou autorizar o projeto é o presidente Osmar Stábile, responsável por aprovar possíveis parcerias que envolvam o Timão. E, se depender dele, essa proposta de transformação do Corinthians em SAF não deve avançar neste momento.
BASTIDORES
Após dois dos idealizadores da SAFiel entregarem, em 29 de outubro, uma carta de intenções aos presidentes da diretoria e do Conselho Deliberativo, o clube encaminhou ao setor de compliance o CNPJ vinculado ao projeto.
Conforme revelou o UOL no dia 7 de novembro, a análise interna levantou questionamentos sobre a empresa e um dos seus sócios, Maurício Chamati.
Agora, o projeto volta à mesa de Osmar Stábile, que pode solicitar novos esclarecimentos ao grupo responsável pela SAFiel.
No entanto, o UOL apurou que o tema não está entre as prioridades do presidente corintiano. Stábile tem se concentrado em questões administrativas e financeiras do clube e não pretende dar andamento à SAFiel neste momento.
A reportagem soube que o mandatário corintiano discorda do modelo financeiro proposto pelo projeto, por entender que, em caso de criação de uma SAF, o Corinthians precisaria ter um investidor disposto a absorver eventuais prejuízos.
COMPLIANCE QUESTIONOU SÓCIO DA SAFIEL
O levantamento do compliance, revelado pelo UOL em 7 de novembro, fez apontamentos sobre Maurício Chamati, um dos idealizadores da SAFiel.
Segundo o relatório, que a reportagem teve acesso, Chamati integrou o Comitê Interno de Finanças (CIF) do Corinthians entre setembro de 2024 e abril de 2025, período em que assinou um termo de confidencialidade para não utilizar informações financeiras do clube em benefício próprio.
O documento também cita a existência de um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) por estelionato contra Maurício e uma condenação em primeira instância relacionada à empresa "Mercado Bitcoin", da qual Chamati é um dos controladores.
Pessoas ligadas ao empresário alegam, porém, que ele não teve acesso a informações relevantes enquanto participou do CIF e que jamais utilizou dados obtidos no comitê de forma indevida.
Além disso, o PIC por estelionato foi arquivado, e a condenação ligada ao "golpe do Mercado Bitcoin" foi reformada em instância superior pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em julho de 2024. O valor da indenização, inicialmente fixado em R$ 300 milhões, foi reduzido para R$ 1,3 milhão.
INVASÃO FIEL S.A TAMBÉM RECEBEU ALERTA INTERNO
O compliance também identificou "red flags" na empresa Invasão Fiel S.A, criada pela SAFiel para registrar a marca, assinar o protocolo de intenções e conduzir as primeiras etapas do projeto.
A abertura recente da companhia, em 18 de julho de 2025, e o capital social de apenas R$ 3 milhões foram considerados pontos de atenção para uma eventual parceria com o Corinthians.
NOVO CNPJ É A BASE DA SAFIEL
O plano da SAFiel prevê a separação do futebol - profissional masculino, feminino e de base - das demais áreas do clube social.
A ideia é que a gestão do futebol corintiano seja transferida para o novo CNPJ, já criado e batizado como Invasão Fiel S.A.
Essa nova empresa serviria como base para a captação de recursos no mercado, por meio da emissão de ações voltadas a torcedores-investidores (com direito a voto na administração) e investidores institucionais (sem direito a voto).