O cenário das categorias de base do futebol em Juiz de Fora tem revelado conquistas importantes dentro de campo, mas, fora dele, dirigentes relatam dificuldades estruturais e falta de políticas públicas específicas para o setor. Questionada pela reportagem, a Comissão de Esporte e Lazer da Câmara Municipal, presidida pelo vereador Tiago Bonecão, informou que não há projetos de lei em estudo ou em andamento na Câmara voltados ao suporte direto às categorias de base da cidade.
A manifestação ocorre em meio ao bom desempenho das equipes juiz-foranas no Campeonato Mineiro, como o acesso do Uberabinha à primeira divisão Sub-20 em 2026 e do Sport Club Juiz de Fora nas categorias Sub-15 e Sub-17, além do resultado do Uberabinha/PSG Academy no Sub-14.
Sem previsão legal para base, clubes operam com recursos limitados
Atualmente, apenas clubes profissionais contam com previsão legal, por meio da Lei 13.842/2019, para a destinação de recursos visando participação em competições oficiais. Questionada sobre eventuais iniciativas que auxiliem instituições amadoras na obtenção de documentação necessária para pleitear emendas e recursos públicos, a comissão informou que não há propostas estruturadas nesse sentido.
Uberabinha: Acesso inédito, custos altos e falta de campo para treinos
O diretor do Uberabinha, Sérgio Eduardo Gomes Rezende descreve um cenário desafiador no momento em que o clube se prepara para disputar a elite estadual Sub-20 pela primeira vez.
Segundo ele, a equipe gastou cerca de R$150 mil para disputar a Segunda Divisão do Mineiro Sub-20 em 2025. Pelo Bolsa Atleta municipal, o clube recebeu R$7.590, valor considerado importante, mas insuficiente diante dos custos de logística, viagens e arbitragem. “A falta de recurso impacta diretamente o atleta. Falta estrutura, alimentação, uma bola melhor, um campo melhor. Isso aparece no dia a dia do treino”, afirma Sérgio.
O diretor destaca que o clube não possui atualmente um campo para treinar em Juiz de Fora, situação que já obrigou a equipe a utilizar estruturas em outras cidades.
Ele relata que existe conversa ativa com vereadores para destinação de emendas parlamentares em 2026 e que houve tentativa de retorno ao campo do Cerâmica, mas sem avanço até o momento. “Hoje o Uberabinha não tem onde treinar. Ou alugamos um espaço, ou vamos para outra cidade. É a realidade”, diz.
Sérgio afirma ainda que mantém diálogo com possíveis investidores privados e trabalha para ampliar o acesso às leis de incentivo estadual e federal. Sobre políticas públicas municipais, porém, preferiu não comentar detalhadamente para “evitar interpretações equivocadas”.
Encerramento da Escola de Futebol do Uberabinha e impacto no projeto social
A Associação Esportiva Uberabinha comunicou oficialmente o encerramento das atividades da Escola de Futebol após a perda do campo da Caem Cerâmica, onde funcionou por quase três décadas. Sem novo espaço para treinamentos, o clube informa que a escola, inativa desde o início das obras no local, em 18 de março de 2025, não terá continuidade.
Segundo a diretoria, a decisão ocorreu após reunião com a Secretaria de Esporte e Lazer (SEL) na última quarta-feira (19), quando o Uberabinha foi informado sobre a nova gestão do equipamento esportivo. No modelo proposto, não haveria espaço para retomada das atividades da Escola de Futebol nem do departamento de Alto Rendimento, que nesta temporada contou com a ajuda de Goianá. A possibilidade de participação em um chamamento público no próximo ano existiria apenas para horários pagos, sem garantia de permanência, uma vez que outras entidades também poderiam concorrer.
O clube afirma ter atendido mais de 4 mil crianças ao longo de 28 anos, abrangendo gerações desde nascidos em 1980 até atletas iniciados em 2017 e 2018. A iniciativa começou como um projeto social que oferecia pão com chocolate aos sábados para jovens dos bairros Cerâmica, Monte Castelo, Esplanada, Industrial e Carlos Chagas. O crescimento levou à criação formal da associação, com CNPJ registrado em 2006, ampliação do trabalho e participação em competições estaduais.
A profissionalização do Uberabinha também foi marcada pelo valor recebido na venda do atacante Wesley Moraes ao Aston Villa, na Inglaterra. Segundo a diretoria, o montante foi utilizado para custear a inscrição do clube como profissional e a disputa do Campeonato Mineiro em 2021 e 2022. O recurso, entretanto, se esgotou em 2023, e desde então o projeto passou a depender de contribuições de pais e apoiadores.
No campo da Cerâmica, a equipe acumulou conquistas esportivas, incluindo títulos da Copa Prefeitura Bahamas, Liga de Futebol de Juiz de Fora, Copa Zona Norte e competições regionais e estaduais, além de acessos em categorias de base. A diretoria afirma que agora busca alternativas para manter o departamento de Alto Rendimento em Juiz de Fora, evitando a continuidade do deslocamento para outras cidades e tentando atrair novos parceiros e investidores para sustentar a participação no Campeonato Mineiro Sub-13, Sub-14, Sub-20 e, se possível, Sub-17 e Sub-15.
Em comunicado, a associação agradeceu ex-atletas, famílias, torcedores, técnicos, dirigentes, apoiadores, empresas e ex-presidentes que contribuíram ao longo da história do clube. “Vai ficar a saudade de bons tempos. O que somos hoje só foi possível graças a vocês. Obrigado, Juiz de Fora”, afirmou a diretoria na nota oficial divulgada na sexta-feira (22).
Sport: Avanço esportivo e busca por estrutura
O Sport Club Juiz de Fora também vive um momento de ascensão após conquistar o acesso para a elite estadual nas categorias Sub-15 e Sub-17.
O diretor de futebol, Diego Almeida, explica que o clube não possui patrocinadores formais, mas conta com parceiros que auxiliam com materiais e logística. “Esse apoio é essencial para garantir uma estrutura física, tática e emocional aos atletas. Mesmo sem aporte financeiro direto, os parceiros ajudam muito”, afirma.
Almeida destaca que o clube busca expandir a rede de apoiadores e que o planejamento para os próximos três anos inclui a consolidação nas categorias Sub-11 ao Sub-17, a participação frequente em competições oficiais, a organização de torneios locais e a ampliação do processo de captação de talentos. Ele afirmou que, com o acesso para a Primeira Divisão estadual a visibilidade pode atrair patrocinadores e investidores.
Sobre políticas públicas, Diego avalia que o apoio atual ainda é limitado. “Estamos trabalhando para acessar a Lei Estadual de Incentivo ao Esporte e buscando empresas para apoio via ICMS. Do município, hoje, contamos principalmente com a cessão do Estádio Municipal para os jogos oficiais”.
O dirigente afirma que há diálogo constante com a Secretaria de Esportes e com vereadores, na tentativa de ampliar a estrutura disponível para o esporte local.
Tags:
campeonato | De | Esporte | Fora | futebol | Juiz | juiz de fora