SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Eleitos os melhores atletas olímpicos do Brasil pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), Caio Bonfim, da marcha atlética, e Maria Clara Pacheco, do taekwondo, se sagraram campeões mundiais nas respectivas modalidades em 2025.

Para Bonfim, o ano representou a sequência de um momento positivo iniciado já em 2024, com a conquista da prata nos Jogos de Paris, consolidando um trabalho de longa data com Gianetti Bonfim, sua mãe e treinadora, eleita pelo COB a melhor técnica do esporte brasileiro no ano de 2025.

Já para Maria Clara, os últimos 12 meses representaram o início de uma nova fase em cima dos tatames, com uma série de mudanças após a eliminação precoce na França que abriu caminho para um ano praticamente irretocável, com a conquista de nove ouros, em dez disputas.

Medalhista de bronze no Mundial de 2023, então com apenas 19 anos, a lutadora paulista chegou aos Jogos de Paris, aos 21, com a expectativa de subir ao pódio, mas acabou eliminada nas quartas de final pela chinesa campeã mundial Luo Zongshi.

Na volta ao Brasil, trocou o treinador e o preparador físico, em busca de uma nova rotina de treinos, que rapidamente trouxe resultado. No Grand Prix de Charlotte, nos Estados Unidos, em junho, venceu na luta pelo título a chinesa que a havia derrotado em Paris.

Em agosto, venceu o GP de Muju, na Coreia do Sul, derrotando a campeã olímpica coreana Kim Yu-jin na final. Em outubro, já na posição de líder do ranking mundial e olímpico, conquistou o título do Mundial em Wuxi, na China, deixando a então campeã pelo caminho, na semifinal.

"Quem acompanhou meus resultados nos últimos anos viu que eu batia na trave, que era medalha de bronze no Mundial, prata no Pan, mas não avançava. E, neste ano, ele [o treinador José Carlos Figueiredo Coelho Júnior] provou que eu podia mais. E ele fez acontecer. A gente se sagrou campeão mundial e tudo isso realmente foi graças a ele. Essa parte da performance eu dedico totalmente a ele", afirmou Maria Clara.

Bonfim, por sua vez, destacou que tem no pai e na mãe os principais treinadores ao longo da carreira, com cada um exercendo um papel diferente em seu desenvolvimento nas pistas.

"Comecei a ser muito desqualificado nas provas de marcha atlética, e meu pai falou: 'não estou conseguindo te levar para o próximo nível, porque eu sou um treinador da parte física. Eu preciso de alguém que nos ajude na parte técnica. Minha mãe, que é formada em direito, mas ex-atleta da marcha atlética, falou: 'acho que pode ser eu. E foi fundamental essa escolha", afirmou Bonfim.

"Eu, que sou mulher e trabalho com a marcha atlética, vou representar todas as mulheres do Brasil que, de alguma forma, têm de brigar muito mais que todo mundo para chegar onde querem", disse Gianetti ao receber o prêmio de melhor treinadora do ano.

Maria Clara e Caio se emocionaram ao falar sobre o papel da família na trajetória de cada um.

"Quero agradecer meu pai e a minha mãe. Foi um ano muito difícil para eles. Minha mãe enfrentou algumas dificuldades de saúde", afirmou Maria Clara.

"A primeira competição internacional importante do ano foi o GP de Charlotte. E antes de eu ir ela ficou internada em estado muito grave [...] Antes de viajar, eu a abracei e falei: 'O que você quer de presente?'. Ela falou: 'Clara, eu só quero a medalha de ouro'. Com os resultados dos últimos anos, eu não acreditava. E aconteceu. Virou uma tradição para o resto do ano. De dez competições, a gente conquistou nove medalhas de ouro", acrescentou emocionada.

Além dos pais, Bonfim também agradeceu a esposa, Juliana Bonfim, pelo papel na criação dos três filhos diante da ausência muitas vezes forçada pelas competições. "Nenhum sucesso profissional supera um fracasso familiar", afirmou ele.

"Minha esposa pegou na minha mão e falou: 'vai lá e conquista o mundo que eu seguro as pontas aqui [em casa]. E, no final das contas, eu perdi a aliança'", acrescentou o corredor com bom humor ao relembrar a perda da aliança durante a disputa do Mundial, em Tóquio -o anel acabou encontrado e devolvido. "Ela me perdoou, me deu essa força. Se não tiver uma pessoa ali do seu lado te apoiando, bagunça a sua cabeça e talvez não consiga performar."