NAZARÉ, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - Lucas Yan Cabral Azeredo Chianca, o Chumbo, provou mais uma vez por que é considerado um dos maiores surfistas de ondas gigantes da atualidade e colocou o Brasil no topo da modalidade.
O atleta de 30 anos conquistou o prêmio masculino individual no Nazaré Big Wave Challenge, realizado no sábado (13), na Praia do Norte, em Nazaré, Portugal. Antes da festa, teve uma queda feia e precisou ser resgatado no mar. A competição também foi marcada por um apagão que levou à interrupção das baterias da tarde.
Ao lado de Pedro Scooby, Chumbo foi um dos primeiros a entrar na água na competição. Impulsionado pelo companheiro no jet ski -prática chamada de "tow-in surfing"- o carioca avançou para aquela que chamaria de "onda da vida", quando perdeu o controle da prancha ao descer o paredão de água em alta velocidade, o que preocupou os responsáveis pela transmissão oficial do evento e arrancou um "oh my god" do narrador.
O brasileiro foi resgatado pelo alemão Sebastian Steudtner, detentor do recorde de maior onda surfada da atualidade, que desta vez não participou como competidor. Chumbo continuou nas provas, voltou a ter uma queda, mas ainda conseguiu consolidar as melhores notas individuais.
"Todo o mundo viu um grande show aqui. O primeiro objetivo não foi atingido, mas levamos a melhor performance. Esse cara [Scooby] achou as melhores ondas para mim. Ele me colocou na onda da vida, mas caí na base", disse Chumbo.
Foi um sábado de surfe em Portugal, mais um dia em que Nazaré mostrou seu crescimento como centro esportivo mundial. De acordo com a organização, cerca de 50 mil pessoas estiveram presentes e se aglomeraram na embarrada ribanceira da Praia do Norte para tentar observar o melhor ângulo. Alguns até se arriscavam em locais proibidos e sem proteção próximos a declives para tentar garantir a melhor foto.
"Estou achando legal, é minha primeira vez aqui. Não consegui ver as maiores ondas, mas gostei", disse o paulista Rodrigo Brasileiro Bernardo, de 47 anos, agarrado a uma bandeira do Guarani. Ele vive atualmente na região de Fátima, no centro de Portugal.
Assim como na última edição do evento, realizado em fevereiro, a melhor performance por equipes ficou com o português Nic von Rupp e o francês Clément Roseyro, em uma vantagem de apenas 0,05 ponto sobre os brasileiros Chumbo e Scooby. Já a francesa Justine Dupont confirmou sua hegemonia na disputa feminina, com a brasileira Michelle des Bouillons em segundo lugar.
"É a minha paixão, então eu dedico tempo a isso. Tem o treino físico, a experiência... as pessoas precisam de muita experiência. Eu sempre fui apaixonada pela parte técnica do surfe, pela técnica mesmo. Acho que isso me ajudou muito", afirmou Justine à Folha.
"Eu tenho, sei lá, 15 ou 20 anos de competição nas costas, então com certeza isso ajudou bastante. Para mim, o surfe de ondas grandes é simplesmente surfar, só que uma onda gigante. É surfar com mais velocidade, com mais oportunidades de manobra na onda. Mas, no fim das contas, é surfe igual", acrescentou.
Outro brasileiro bem colocado foi Rodrigo Coxa. Ele ficou feliz com o desempenho individual ao lado do parceiro de time Vitor Faria, mas avaliou que merecia melhor avaliação.
"Sempre será uma honra fazer parte dessa comunidade de surfistas de ondas gigantes, mas é muito difícil entender o mundo das competições", disse.
A sessão de sábado reuniu 18 atletas convidados, divididos em nove duplas para disputar duas baterias de 40 minutos. No entanto, somente foram realizadas as provas programadas para o período matinal, quando as melhores ondas, próximas dos 20 metros, apresentaram-se aos surfistas.
Devido a problemas técnicos, como falta de luz, a WSL não computou as notas disputadas no período da tarde e interrompeu a competição por volta das 16h30, já perto do anoitecer nesta época do ano em Portugal. A decisão incomodou alguns competidores que ainda esperavam oportunidade de tentar melhorar a própria pontuação.
Com cerca de 15 mil habitantes, Nazaré é uma localidade que se transformou graças ao turismo de surfe e continua em rápido crescimento. A cidade ganhou notoriedade a partir de 2011, quando o surfista havaiano Garrett McNamara surfou uma onda colossal de 23,8 metros, estabelecendo um novo recorde mundial, e provou que era possível domar essas paredes gigantes.
Desde então, Nazaré se consolidou como o principal palco de ondas gigantes do mundo, onde surfistas chegam a aguardar até um ano inteiro pela formação das condições ideais. Foi exatamente esse o cenário que levou a WSL (Liga Mundial de Surfe) a convocar os atletas para a disputa do segundo campeonato mundial de 2025, após a previsão apontar um dia especialmente favorável para a competição.